Descrição de chapéu Obituário José Alex Soares Santos (1976 - 2023)

Mortes: Professor universitário fez cineclube no interior do Ceará

José Alex Soares também atuou no movimento sindicalista, escreveu poesias e publicou três livros

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Juazeiro (BA)

A primeira vez que José Alex entrou em um cinema já passava dos 20 anos. Foi em Fortaleza, onde iniciou o mestrado em 2001. Ficou impressionado com a tela e as sensações da sétima arte. O encantamento fez o acadêmico estudar o cinema como ferramenta na educação.

"É um dos temas aos quais ele era mais ligado. Inicialmente, entende como estratégia no ensino, e depois, ao se aprofundar, como uma vivência que possibilita reflexões", diz a professora universitária Samara Paula Francelino, 53.

Em 2010, Alex fundou o "Cine Itinerante: leitura de mundo por meio do cinema", na Faculdade de Educação de Itapipoca da Uece (Universidade Estadual do Ceará), mesma instituição em que se formou em 2000. Voltou em 2009, dessa vez como professor universitário.

José Alex Soares Santos (1976 - 2024)
José Alex Soares Santos (1976 - 2023) - Reprodução/Facebook

As sessões ganharam fôlego e circularam pela cidade. Foram a escolas, comunidades quilombolas e indígenas, assentamentos do MST e áreas na periferia. Por causa do projeto, integrou o Ciclo-CE (Cineclubes Organizados do Ceará) e o Conselho Municipal de Política Cultural.

José Alex nasceu em Itapipoca em 1976 e cresceu no sítio Onça, em Assunção (CE). Morava na serra com sua família de 11 irmãos, onde havia escola apenas para alfabetização. Depois, para chegar ao colégio precisava caminhar cerca de 10 km por uma estrada pedregosa e íngreme.

Filho de professora, era o mais assíduo nas aulas e ajudava amigos que tinham dificuldade com o conteúdo.

Passou por um colégio de padres e fez ensino médio em Itapipoca, onde foi morar com uma irmã. Lá fez a licenciatura e uma especialização. Concluiu em 2001, mesmo ano de nascimento de seu único filho, Alexandre Almeida, do relacionamento com a professora Danuza de Almeida.

A carreira acadêmica de José Alex foi construída com aulas em colégios, faculdades particulares e no Norte. Também contribuiu com o movimento sindicalista, no Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior) e no Sinduece (Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará).

O professor acordava cedo e lia jornais, era torcedor do Ceará, jogava bola e praticava ciclismo. Foi diagnosticado com transtorno bipolar e começou a escrever poesias na terapias. Publicou três livros. "Uma pessoa de uma personalidade muito forte", conta Samara.

Filiado ao PCB (Partido Comunista Brasileiro), foi às ruas em campanha contra Jair Bolsonaro. "Em 2022, terminei dezembro realizando dois sonhos. Concluí o doutorado e a certeza que Bolsonaro iria sair da Presidência", ele publicou no Facebook.

Morreu no último 23 de dezembro, aos 47 anos. Deixa o filho Alexandre, 22, a mãe Maria Izaira, 76, a neta Alice, 4, e muitos pedagogos na sua querida "terra das pedras que estalam".

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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