Descrição de chapéu Obituário Sérgio Fleury Moraes (1959 - 2024)

Mortes: Foi peça fundamental na revogação da Lei de Imprensa

Sérgio Fleury Moraes criou o jornal Debate no interior de São Paulo no auge da ditadura militar

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São Paulo

Ainda garoto, Sérgio Fleury Moraes resumia as notícias dos jornais assinados pelo pai e pelo avô e vendia a síntese aos familiares.

O filho dos professores Celso Fleury Moraes e Maria de Fátima Moraes desde cedo mostrou sua veia comunicativa. Na adolescência, inaugurou seu primeiro jornal, O Furinho, que imprimia no mimeógrafo da escola, em Santa Cruz do Rio Pardo, a 315 km de São Paulo.

Sérgio Fleury Moraes (1959 - 2024)
Sérgio Fleury Moraes (1959 - 2024) - Reprodução Facebook

"Quando o diretor proibiu alunos de saírem da escola no intervalo, Sérgio não poupou críticas à decisão e acabou proibido de imprimir o jornal na escola", conta o filho André Fleury Moraes. "No dia seguinte à proibição, ele foi convocado para uma reunião na Delegacia de Ensino e imaginava que sofreria uma retaliação ainda maior. Mas o delegado autorizou que imprimisse o jornal na própria delegacia."

Chegou a iniciar o curso de jornalismo na Unesp de Bauru, mas não o concluiu.

Aos 17 anos, precisou ser emancipado pelos pais para abrir o semanário Debate, cuja primeira edição saiu em 17 de setembro de 1977 com o slogan "Uma voz livre em sua defesa". Em 46 anos de existência, o periódico contou com colaboradores renomados, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O jornal se manteve independente de influência política até sua última edição impressa, no fim de 2022. Depois disso, o noticiário semanal online continuou até o dia 5 de fevereiro deste ano, quando a saúde do dono já estava debilitada devido a um câncer agressivo.

Sua linha editorial crítica também foi o primeiro passo para a revogação da Lei de Imprensa, editada em 1967 durante a ditadura militar e que previa, entre outras coisas, penas de prisão específicas para jornalistas.

Tudo começou em 1991, quando o Debate denunciou que juiz Antônio José Magdalena, da 2ª Vara de Santa Cruz do Rio Pardo, morava em uma casa alugada pela prefeitura em vez de usar residência do Poder Judiciário à sua disposição.

No ano seguinte, foi a vez de o promotor Carlos Rinard processar o jornalista com base no Código Eleitoral, por denúncias contra um candidato a prefeito da cidade. O processo correu e, em 1996, o próprio Magdalena condenou Sérgio a 19 dias de prisão por crime eleitoral. O jornalista entendia que a proibição feria a Constituição de 1988 que vedava qualquer tipo de censura.

A perseguição a Sérgio e ao Debate ganhou visibilidade nacional após o jornalista Clóvis Rossi denunciar o fato em artigo na página 2 desta Folha. Sérgio também foi convidado para falar do caso no "Programa do Jô" e em artigos escritos por ele na Folha e n’O Globo.

Com a repercussão, a Lei de Imprensa foi totalmente revogada em 2009 em decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

Sérgio Fleury Moraes morreu em 23 de fevereiro, aos 64 anos. Deixa três filhos —Caio e André Hunnicutt Fleury Moraes e Sérgio Fleury Moraes Júnior—, além dos irmãos Cibele, César, Neide e Neusa.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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