Descrição de chapéu Obituário Mário André Machado Cabral (1989 - 2023)

Mortes: Intelectual, buscava justiça nos negócios com gigantes da tecnologia

Mário Cabral era respeitado nos diferentes mundos do direito empresarial, da academia à Faria Lima

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São Paulo

A dor surgiu cedo na vida de Mário Cabral. Aos 11 anos teve de lidar com a morte súbita do pai, vítima de um aneurisma. A fatalidade levou a família a se mudar de Maceió (AL) para Fortaleza (CE), cidade natal da mãe.

As adversidades, porém, não foram suficientes para abalar uma trajetória de sucesso pessoal e profissional. Em vez disso, o ajudaram a desenvolver a habilidade de se adaptar a ambientes dispersos como água e óleo.

Abraçou a capital cearense e sua cena cultural. Apaixonou-se pela punga —também chamada tambor de crioula—, a dança dos descendentes de africanos escravizados no estado do Maranhão. Dominou o instrumento e, com ele, chegou a excursionar pelo país. Entusiasta da música, apreciava da popular à erudita.

A imagem é de um homem branco, jovem, que usa óculos, paletó azul e camisa branca
Mário André Machado Cabral (1989 - 2023) - Arquivo pessoal

Ao mesmo tempo em que levava a vida de forma leve e rodeada de amigos, era rigoroso com os estudos e na conduta profissional, o que lhe garantiu notoriedade no universo das leis que buscam justiça na concorrência entre empresas.

Depois de concluir a formação em direito na Universidade Federal do Ceará, fez mestrado pela Universidade de Nova York, onde também morou. Já na capital paulista, última cidade onde viveu, fez doutorado pela Faculdade de Direito da USP.

Também atuou por quase uma década em um escritório de advocacia na capital paulista e foi professor na Universidade Mackenzie.

Ao longo de 2023, foi pesquisador de pós-doutorado na FGV (Fundação Getúlio Vargas), e avançou em um processo seletivo para se tornar docente na instituição. Iniciaria em fevereiro o trabalho como professor.

"Uma marca do Mário era essa capacidade de transitar entre dois mundos, ao mesmo tempo que era um intelectual reconhecido pela academia, também tinha o respeito da Faria Lima [avenida que é o centro do mercado financeiro e de negócios do país]", conta o irmão Gustavo Cabral, 37.

Seu campo de estudos era o direito de concorrência e o aprimoramento das regras que combatem a formação de monopólios, as chamadas leis antitruste, no jargão da área.

Na mira dele estavam as big techs ou, mais precisamente, como práticas de grandes corporações americanas de tecnologia poderiam ser replicadas por empresas do ramo no Brasil e quais instrumentos legais deveriam ser desenvolvidos ou aprimorados por aqui para o enfrentamento aos monopólios do setor.

Era um trabalho de alguém muito antenado, define Mario Schapiro, 46, coordenador do mestrado acadêmico da FGV Direito de São Paulo, supervisor de pós-doutorado de Cabral.

"Ele tinha essa capacidade de ser uma antena, estava muito ligado em tudo o que estava rolando ao seu redor, além de ser muito agradável e alegre", diz Schapiro.

Mário André Machado Cabral morreu aos 34 anos, em 29 de dezembro de 2023, em um acidente de lancha na região de Boipeba, no sul da Bahia, quando viajava de férias.

A lancha na qual Cabral estava bateu em outra embarcação do mesmo tipo, num trecho conhecido como rio do Inferno, destino turístico da região.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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