Descrição de chapéu Obituário Adda Di Guimarães (1949 - 2024)

Mortes: Ajudou a disseminar a cultura e a arte no Rio de Janeiro

Adda Di Guimarães fez amizades das mais variadas em seu sebo ou em banca de revistas

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São Paulo

Adda Di Guimarães sempre gostou muito de ler, fossem obras atuais ou antigas. Esse prazer acabou guiando sua vida, tornando-a uma das figuras mais conhecidas do cenário cultural do Rio de Janeiro.

A veia artística foi herdada da madrinha Cora Coralina (1889-1985), uma das maiores poetas do país.

Nascida em Goiânia em 1949, ela era a mais nova de sete irmãos. Ainda jovem, mudou-se para Brasília, onde se graduou em sociologia na UnB (Universidade de Brasília).

Nos anos seguintes, morou em Paris e em Nova York, onde se aprimorou nos idiomas locais. De volta ao Brasil, conheceu Caio Afonso de Almeida, com quem se casou em 1970 e teve dois filhos, Caio Afonso de Almeida Filho, 50, e Cleo Guimarães, 47, editora do portal F5, da Folha.

Adda Di Guimarães (1949 - 2024)
Adda Di Guimarães (1949 - 2024) - Arquivo pessoal

De 1989 a 1996, ela comandou o sebo Alpharrabio na praça General Osório, em Ipanema, zona sul do Rio, que teve participação ativa na vida cultural da cidade. Os produtos principais eram livros raros e revistas em quadrinhos antigas, mas o local também serviu como ponto de divulgação cultural e shows.

Foi lá que o escritor Ruy Castro lançou a biografia de Nelson Rodrigues e onde a cantora Adriana Calcanhotto se apresentou no início de carreira. Também lá foram realizadas exposições de fotos antigas de Augusto Malta e muitos leilões.

"Ela anotava pedidos e pesquisava até achar uma revista publicada na data de nascimento da pessoa. Depois ligava avisando. Lá, você encontrava de tudo, mas eram artigos muito antigos. Eu nasci em 1973 e não tinha nada mais novo que eu", lembra o filho Caio.

Depois do sebo, em 2004 Adda arrendou uma banca de jornal e montou no local uma banca especializada em revistas antigas, A Cena Muda, com cerca de 10 mil títulos. Com as obras do metrô, ela se mudou para a praça Nossa Senhora da Paz, também em Ipanema, onde manteve sua rotina de incentivo à leitura.

"Na praça ela tinha um viés muito de dar acesso às pessoas. A banca era o ganha-pão, mas ela mantinha uma rotina pouco comercial. Ela achava que era parte dela disseminar a cultura. Assim, quando entrava uma criança na livraria, ela ficava conversando e dava uma revista em quadrinhos de presente. Tinha crianças de rua que ela chamava, mostrava tudo e dava revistas em quadrinhos", conta Caio.

O prazer de incentivar novos leitores era o seu retorno. Mas, de vez em quando, também ganhava presentes. Gostava especialmente de um colar feito com barbante e bolinhas de gude, recebido de um dos garotos. No dia em que morreu, aos 75 anos, no último sábado (20), ela usava a peça.

"As pessoas se sentiam abraçadas e acolhidas quando iam conversar com ela. Muitas vezes nem compravam nada, só ficavam conversando. Antes de tudo, e sobretudo, era um lugar em que ela se sentia feliz, realizada, ao qual ela pertencia, por assim dizer", destaca o filho.

A Prefeitura do Rio homenageou Adda e fez de sua banca um patrimônio imaterial da cidade. Nos últimos anos, lembra Caio, ela vendia ou emprestava revistas e fotos antigas sobre o Rio de Janeiro para cenários de programas da TV Globo e de peças de teatro.

Além dos dois filhos, deixa os netos João, Marina e João Pedro.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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