Descrição de chapéu Obituário Afonso Monaco (1945 - 2024)

Mortes: De químico a repórter de TV, ensinou o valor de recomeçar

Afonso Monaco, veterano da Record, divertia-se com apelido de 'velho zica'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Aos 20 e poucos anos, Afonso Monaco queria recomeçar. Tinha um bom emprego no laboratório da fabricante de pneus Pirelli em São Paulo, e seu chefe relutava a demiti-lo, mas a decisão estava tomada.

Depois de alguns anos trabalhando como químico em laboratórios da capital e de começar um curso de engenharia química, sentia-se fora de lugar. Queria mesmo era ter contato com gente na rua e entender o mundo em que vivia.

Fez vestibular, foi aprovado e matriculou-se no curso de ciências sociais da USP. Em 1974, sua vida entrou num ponto de virada. Recém-casado com Regina, o amor de sua vida, estava começando como repórter na televisão.

Jornalista Afonso Monaco
Afonso Monaco (1945 - 2024) - Reprodução/Facebook/Domingo Espetacular

O casal se conheceu no Clube Juventus. Regina, sete anos mais nova, logo se interessou por aquele rapaz tão calmo e tão sério, que gostava de ler, que dizia coisas tão diferentes dos outros rapazes.

Monaco era o mais velho de três filhos de um alfaiate e uma dona de casa, nascido e criado na Mooca. Tinha uma forte influência italiana da família do pai e era extremamente dedicado ao trabalho —tanto na química quanto na reportagem.

Foram cinco décadas trabalhando na reportagem, que o colocou em centenas de lugares improváveis. Esteve, por exemplo, diante do túnel usado no assalto ao caixa-forte do Banco Central em Fortaleza, em 2005. E foi a Portugal para refazer os passos da menina britânica Madeleine McCann, que desapareceu em 2007, num caso que causou comoção mundial.

Depois da TV Cultura, teve breve passagem pela TV Tupi e testemunhou o fim da primeira emissora de televisão do Brasil. Passou pela Bandeirantes e pelo Globo Rural e foi repórter do Fantástico, da TV Globo, por muitos anos.

Em 2004, foi contratado pela Record para compor a primeira equipe do Domingo Espetacular, programa semanal da emissora que traz reportagens investigativas. Foi o único, até hoje, que trabalhou na estreia do programa e encerrou sua carreira ali.

Ensinou aos filhos a importância de poder recomeçar e a lealdade como valor central em sua vida. "'Eu tive a minha chance, todo mundo tem uma chance', ele dizia aos nossos filhos", conta Regina.

O veterano era chamado carinhosamente pelos colegas de redação de vovô, mas gostava mesmo do apelido "velho zica".

A alcunha surgiu há alguns anos, quando Monaco e uma equipe de reportagem estacionaram o carro num posto de gasolina para que o repórter tomasse café. O cinegrafista e o motorista da equipe ficaram do lado de fora e testemunharam a cena que seria recontada muitas vezes depois, às gargalhadas.

Dois sujeitos passaram em frente à loja de conveniência e um deles reconheceu o jornalista, a distância. "É aquele velho que só faz matéria 'zica', esse velho é 'zica'", disse, assustado. "Vamos sair daqui."

Morreu no dia 12 de abril após complicações derivadas de um câncer no pâncreas. Deixa a mulher, dois filhos, um neto e uma neta.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.