Descrição de chapéu Obituário Elza Fiuza (1949 - 2024)

Mortes: Fotojornalista fez história na cobertura política em Brasília

Elza Fiuza foi a primeira fotógrafa mulher na equipe de jornalismo da Radiobras

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Curitiba

Elza Maria Praia Fiuza Dias Pinto chegou a Brasília na década de 1970 e, com seu olhar apurado e sensível, conquistou espaço na redação do Correio Braziliense em 1978, inicialmente como laboratorista. Na época, mulheres eram raras na profissão. Em 1983, passou a integrar a equipe da Radiobras, onde foi a primeira fotojornalista mulher.

"Ela era a única mulher na Agência Brasil. Foi pioneira no fotojornalismo de Brasília", diz a amiga Ana Nascimento, que começou a trabalhar com Elza em 1992. "Até 2005, fomos só eu, ela e a Rose Brasil de mulheres na fotografia da agência."

Elza capturou momentos importantes da história do Brasil e da política nacional. Entre eles a campanha das Diretas Já, a promulgação da Constituição de 1988, o impeachment de Fernando Collor de Mello e o discurso de despedida de Dilma Rousseff da Presidência.

Elza Maria Praia Fiúza Dias Pinto (1949 - 2024)
Elza Fiuza (1949 - 2024) - Arquivo pessoal

Era profissional dedicada, com olhar humanista e treinado para as artes. Com formação em belas artes pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a inspiração de Elza também se mostrava na forma de desenhos que criava durante as pautas.

"Fazia caricatura de todo mundo na sala. A identificação dela era em desenho", lembra a amiga. "Era extremamente humanista, com posicionamentos muito firmes, defensora das causas indígenas, das mulheres e da liberdade de expressão. Todos a respeitavam muito, dentro e fora da redação", diz.

A casa de Elza com o marido, o jornalista Chico Dias, estava sempre cheia de amigos, música e comida boa. "A casa dela era de todo mundo. Promovia as festas juninas mais alegres da cidade. Muitos jornalistas, músicos, gente culta, ligada à arte, passavam por lá", conta Ana.

Entre eles Ziraldo, Grande Otelo, Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal, Mestre Salustiano e muitos indígenas, como recorda a filha Joana Praia. "Nossa casa não tinha chave. Era como uma grande oca, vinham muitos indígenas nos visitar. Quando as festas na cidade terminavam, iam todos para lá. Era como um espaço cultural."

Elza Fiuza em ação como fotógrafa, numa época em que mulheres eram raridade na profissão
Elza Fiuza em ação como fotógrafa, numa época em que mulheres eram raridade na profissão - Arquivo pessoal

Nascida em Manaus, Elza chegou a São Paulo ainda menina, para morar com a tia. Viveu um amor quase proibido com o primo, hoje marido, com quem teve quatro filhos. Testemunhou a ditadura e a combateu, e viu o irmão e a cunhada serem presos e torturados.

Nas poucas horas vagas, gostava de desenhar e fazer miniaturas em papel crepom, maquetes e outros trabalhos manuais. Também adorava montar quebra-cabeças e jogos eletrônicos. "Era viciada em Nintendo e fotografia. Tinha um laboratório, aquela sala escura, onde nos mostrava como revelava as fotos", conta a filha Joana.

Elza Fiuza morreu aos 74 anos em 10 de abril, em decorrência de câncer no pulmão. Deixa o marido, quatro filhos e seis netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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