Descrição de chapéu violência São Paulo

Polícia vê intenção de matar e pede prisão de dono de Porsche: 'Usou o carro como arma'

Defesa de Fernando Sastre Filho nega fuga do local do acidente e diz que empresário, liberado após prestar depoimento, temia linchamento

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São Paulo

O empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, 24, teve sua prisão temporária pedida pela polícia após se apresentar na tarde desta segunda-feira (1º) no 30º Distrito Policial, no Tatuapé, na zona leste de São Paulo.

Com a ajuda da mãe, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, o empresário fugiu após bater seu Porsche em um Renault Sandero e causar a morte de um motorista de aplicativo na madrugada deste domingo (31), na avenida Salim Farah Maluf, no mesmo bairro.

Ela havia dito aos policiais militares que levaria o filho a um hospital, mas não seguiu para lá. O caso, então, foi registrado como fuga de local de acidente, lesão corporal na direção de veículo automotor e homicídio culposo (sem intenção) na direção de veículo automotor.

No entanto, após ser ouvido nesta segunda, ele foi indiciado sob suspeita de homicídio doloso, quando há intenção de matar, além de lesão corporal e fuga do local de acidente. De acordo com a defesa de Fernando, ele não fugiu do local porque já havia socorro sendo prestado às outras vítimas. Os advogados afirmam que ele não foi ao hospital por receio de linchamento.

"Contudo, por fundado receio de sofrer linchamento, já que naquele momento passou a sofrer o 'linchamento virtual', bem como por conta do choque causado pelo acidente e pela notícia do falecimento do motorista do outro veículo, foi necessário seu resguardo", diz a nota.

Os advogados afirmam, ainda, que vão entrar em contato com a família de motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52, morto no acidente.

Segundo nota enviada à Folha pela SSP (Secretaria de Segurança Pública), a polícia pediu a prisão temporária, que tem duração de 5 a 30 dias, prorrogáveis pelo mesmo período.

Fernando Sastre na chegada ao 30ºDP, no Tatuapé; ele teve a prisão temporária decretada pela Justiça
Fernando Sastre na chegada ao 30ºDP, no Tatuapé; ele teve a prisão temporária decretada pela Justiça - Reprodução/TV Band

O delegado assistente Nelson Vinicius Alves disse aos repórteres após o depoimento que o empresário foi indiciado por homicídio com dolo eventual: "Ele usou o carro como arma".

Alves afirmou ter esperado até o fim da tarde para pedir a prisão temporária ao plantão do Judiciário, que já estaria analisando o caso para autorizar. Caso fosse pedido ao Tribunal do Júri, a decisão poderia demorar muito mais.

O delegado esperava que a autorização saísse a qualquer momento. No entanto, como a decisão da Justiça demorou, Sastre foi liberado por volta das 20h20 e deixou o 30º DP pela porta da frente, acompanhado da mãe e dos advogados.


Empresário deixa o 30º DP


Ao ser questionado sobre o resultado da decisão, um dos advogados disse "não sei, meu cliente foi ouvido e foi embora".

Já a mãe do condutor não será indiciada por se tratar de uma familiar que foi ao local para socorrer o filho, disse o delegado após o depoimento de Daniela Andrade.


Delegado fala sobre o caso


Marcos Vinicius, o outro passageiro do Porsche, ainda está internado e não tem condição de falar, segundo o delegado, mas será ouvido no inquérito, assim como duas testemunhas do acidente.

A SSP também informou que a Corregedoria da Polícia Militar está investigando o procedimento dos policiais que atenderam a ocorrência na madrugada de domingo e liberaram Fernando Sastre de Andrade Filho para ir com a mãe ao hospital. Os oficiais também são criticados por terem comunicado o acidente na delegacia somente cinco horas depois.

Confira a íntegra da nota da SSP:

O autor do acidente compareceu na delegacia na tarde desta segunda-feira (1) e, após prestar depoimento, foi indiciado criminalmente por homicídio doloso, lesão corporal e fuga de local de acidente. A autoridade policial representou pela decretação da sua prisão temporária e aguarda a apreciação do Poder Judiciário. O caso segue em investigação pelo 30º DP. A Polícia Militar segue apurando a dinâmica da ocorrência para identificar eventual erro no procedimento operacional.

Leia a nota da defesa de Fernando Sastre Filho:

O ocorrido foi uma fatalidade causada pela batida dos veículos de Fernando e Sr. Ornaldo. Prematuro, neste momento, julgarmos as causas do acidente, na medida em que os laudos das perícias realizadas ainda não foram concluídos.

Não obstante, importante destacar que Fernando não fugiu do local do acidente, uma vez que já havia socorro sendo prestado às outras vítimas, Fernando já devidamente qualificado pelos policiais militares de trânsito, tendo sido liberado pela Polícia Militar para que fosse encaminhado ao hospital. Contudo, por fundado receio de sofrer linchamento, já que naquele momento passou a sofrer o "linchamento virtual", bem como por conta do choque causado pelo acidente e pela notícia do falecimento do motorista do outro veículo, foi necessário seu resguardo. Na presente data, Fernando se apresentou espontaneamente na sede do 30º Distrito Policial em São Paulo.

Pôde, então, prestar depoimento, apresentando sua versão dos fatos. Embora tenha sido requerida sua prisão temporária, a cautelar foi negada pelo juízo do plantão judiciário, por falta de preenchimento dos requisitos autorizadores de tal prisão.
Todas as circunstâncias do acidente serão devidamente apuradas no curso da investigação, com a mais ampla colaboração de Fernando.

Por fim, informamos que estamos entrando em contato com a família do falecido, Sr. Ornaldo, a fim de prestar nossa solidariedade, bem como assistência necessária. Obviamente, a perda não será reparada, mas minimamente prestaremos amparo necessário neste momento de tal fatalidade.

Leia a seguir o que se sabe da ocorrência:

ONDE O ACIDENTE OCORREU?

O acidente aconteceu na avenida Salim Farah Maluf, na altura do número 1.801, no Tatuapé, às 2h25 de domingo (31). O acidente foi registrado como homicídio culposo na direção de veículo automotor, lesão corporal culposa na direção de veículo automotor e fuga de local de acidente.

COMO ACONTECEU?

De acordo com o boletim de ocorrência, o Porsche bateu na traseira do Sandero, que era conduzido pelo motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52. Ele foi levado por bombeiros ao Hospital Municipal do Tatuapé, com parada cardiorrespiratória e múltiplos traumatismos. Viana não resistiu aos ferimentos.

CARRO ESTAVA EM ALTA VELOCIDADE?

A Porsche estava em alta velocidade, de acordo com duas testemunhas que passavam de carro pelo local em um HB20. Segundo o registro policial, as testemunhas disseram que o Porsche fez uma ultrapassagem, perdeu o controle e bateu na traseira do Sandero.

QUEM ESTAVA NO PORSCHE?

Além do empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, no Porsche também estava o passageiro Marcus Vinicius Machado Rocha, 22. Ele foi socorrido para o Hospital São Luiz Tatuapé.

Porsche azul ficou com dianteira destruída após colisão com Renault na avenida Salim Farah Maluf, em São Paulo, na madrugada deste domingo (31) - Divulgação/Polícia Civil

O EMPRESÁRIO QUE DIRIGIA O PORSCHE FUGIU?

A mãe do empresário foi até o local do acidente, ainda de acordo com o registro policial, e disse que o levaria ao Hospital São Luiz Ibirapuera devido ao leve ferimento que ele apresentava na região da boca. Os policiais militares foram até a unidade para ouvi-lo e fazer o teste do bafômetro, mas receberam a informação de que o empresário não deu entrada em qualquer hospital da rede São Luiz. Ainda segundo o registro policial, os agentes não conseguiram mais falar com o empresário ou sua mãe –as ligações não foram atendidas.

POR QUE A POLÍCIA MILITAR LIBEROU O EMPRESÁRIO?

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) disse que, em caso de acidentes de trânsito, a prioridade da Polícia Militar é garantir o resgate das vítimas e preservar o local do acidente.

De acordo com a nota, inicialmente, além do motorista que morreu, o empresário que estava na Posche foi apontado também como vítima, e, como tinha ferimento, foi socorrido.

"Durante a apresentação da ocorrência verificou-se que o possível autor seria o condutor do Porsche. Os PMs realizaram diligências no hospital em que o motorista sinalizou que seria atendido e em sua residência, mas ele não foi encontrado. Diante disso, o caso foi registrado como homicídio culposo e lesão corporal culposa na direção de veículo automotor e fuga do local do acidente", afirmou a SSP.

A SSP afirmou que a PM "analisará a dinâmica da ocorrência para identificar eventual erro de procedimento operacional". O caso foi registrado e é investigado pelo 30º DP (Tatuapé).

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