Prefeita de SC joga livros no lixo e cita 'valores da família'

Filiada a partido de Bolsonaro, Juliana Maciel atacou PT e afirmou que obras são 'uma porcaria'

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Curitiba

A prefeita de Canoinhas (SC), Juliana Maciel (PL), divulgou um vídeo em uma rede social nesta quarta-feira (17) em que aparece jogando livros no lixo. Segundo ela, as obras estão vinculadas a um programa do governo federal e não seriam adequadas para crianças e adolescentes.

"Eu jamais jogaria um livro no lixo, mas porcaria, numa biblioteca aqui do nosso município, não vai ter mais, não", diz ela, que se elegeu pelo PSDB e, no final do ano passado, se filiou ao PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.

No vídeo, Maciel afirma ainda que o governo do PT "induz a coisa que não é dos valores que a gente acredita" e cita "valores da família".

"Mais uma vez o governo do PT faz este tipo de coisa. Não é o que realmente uma criança ou até um adolescente precisa ler numa biblioteca. Então, aqui em Canoinhas, a gente jogou esse tipo de porcaria no lixo", afirma ela.

Ao final, Maciel ainda propõe que outros prefeitos façam uma varredura nas bibliotecas municipais. "Façam um pente-fino nesses livros para ver se vocês também não estão sendo enganados mais uma vez por essa política do que a gente não acredita, que não prega valores para nossas crianças e nossos adolescentes", sugere.

A prefeita não fala quais livros está jogando no lixo nem detalha o conteúdo deles. A reportagem não conseguiu contato com a prefeitura nesta quinta-feira (18).

mulher joga fora livros
Prefeita de Canoinhas (SC), Juliana Maciel (PL), grava vídeo em que aparece jogando livros no lixo - Reprodução/Instagram

A prefeita se refere a livros do projeto Mundoteca. Procurado, o governo federal afirma que o programa é de responsabilidade da FGM Produções, que, por sua vez, diz que gerenciou um espaço literário em Canoinhas somente até meados de 2023.

"A unidade de Marcílio Dias, na cidade de Canoinhas, foi inaugurada no dia 19 de novembro de 2022 e gerida pelo projeto por um período de oito meses, como previsto em contrato, não tendo qualquer vínculo com a atual gestão do governo federal. Após esse período, o gerenciamento do espaço e de seu acervo foram entregues ao Poder Executivo municipal", diz a produtora cultural.

A explicação da FGM Produções foi reproduzida pela Secom (Secretaria de Comunicação Social) do governo federal, que, em nota, chama o vídeo da prefeita de "factoide desinformativo".

A Secom afirma que, apesar de o projeto da produtora cultural ter sido aprovado para captação de recursos por meio da Lei de Incentivo Cultural (Lei Rouanet) no ano de 2018, "a Mundoteca não é uma ação do governo federal".

"Vale ressaltar que o governo federal não envia livros para escolas e espaços dos sistemas municipais e estaduais de educação sem que haja a devida solicitação dos materiais, realizada por gestores e educadores e escolhidos de maneira democrática nos conselhos de educação", diz a Secom, acrescentando que a Prefeitura de Canoinhas "tinha plena autonomia sobre o acervo da biblioteca".

"Cabia aos responsáveis locais conferir se o acervo estava a contento da comunidade dentro das tratativas do contrato com o projeto Mundoteca", continua a Secom.

O projeto Mundoteca foi executado nacionalmente entre 2019 e 2023 e, de acordo com a FGM Produções, o objetivo era "proporcionar às comunidades o acesso gratuito e cotidiano aos livros, um bem que infelizmente é muitas vezes inacessível para muitos".

"Em cada unidade, é previsto em contrato assinado com as prefeituras das cidades contempladas um período no qual a gestão do espaço é feita pelo projeto Mundoteca, com contratação de educadores sociais e acompanhamento pedagógico", diz a produtora.

Ainda segundo a FGM Produções, todos os livros que compõem o acervo do projeto passam por curadoria de especialistas e trazem uma etiqueta com a indicação da faixa etária recomendada. "Há um controle rigoroso dos empréstimos dos livros, feito pelas educadoras sociais", diz a idealizadora do projeto.

No mês passado, o livro "O Avesso da Pele", do escritor Jeferson Tenório, também foi alvo de ataques. Uma diretora de uma escola em Santa Cruz do Sul (RS) pediu pela censura do livro, alegando que a obra era inadequada aos estudantes do ensino médio.

Em seguida, o governo do Paraná mandou recolher o livro das escolas estaduais de ensino médio. Recentemente, a Secretaria de Educação paranaense determinou que a obra fosse destinada apenas às escolas com EJA (Educação de Jovens e Adultos), voltada a estudantes com mais de 18 anos.

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