Um dia após inauguração, usuários de drogas voltam para o entorno do parque Princesa Isabel

Área verde, que já abrigou a cracolândia, conta com seguranças privados contratados pela prefeitura na parte interna, durante 24 horas

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São Paulo

Um dia após a inauguração do parque Princesa Isabel, no centro de São Paulo, na manhã de quinta-feira (11), usuários voltaram a consumir drogas no calçadão entre a área verde e a avenida Rio Branco.

No dia da abertura, que contou com a presença do prefeito Ricardo Nunes (MDB), a reportagem esteve no local e não visualizou usuários no entorno do equipamento municipal.

Por volta das 16 horas desta sexta-feira (12) um grupo estava encostado na grade do parque com cachimbos em mãos, se preparando para consumir crack. Outros homens no mesmo ponto reviravam lixo atrás de sucata ou qualquer outro item que possa ser vendido em ferros velhos na região.

Parque Princesa Isabel, no centro de São Paulo, foi aberto para o público na quinta-feira (11)
Parque Princesa Isabel, no centro de São Paulo, foi aberto para o público na quinta-feira (11) - Francisco Lima Neto/Folhapress

No mesmo horário, mas dentro do parque, crianças e adolescentes aproveitavam o sol de fim de tarde para curtir o ambiente recém-inaugurado.

Enquanto os mais novos estavam em brinquedos, os jovens jogavam futebol na quadra reformada.

A reportagem notou quatro seguranças uniformizados no interior da área verde, que possui cerca de 16 mil m². Um deles no portão principal, na avenida Duque de Caxias, auxiliava quem entrava no parque, enquanto outros dois circulavam pela área verde. Outro estava próximo ao portão da rua Helvétia, que seguia fechado para o público.

Frequentadores do espaço se disseram satisfeitos com a inauguração e afirmaram não se sentir intimidados com a presença de dependentes químicos no entorno.

Outros tantos usuários de drogas passavam pelo local, mas não paravam. A prefeitura afirmou ter investido R$ 2 milhões na revitalização.

"Não vou ficar presa dentro de casa com medo. Trouxe minha neta. Criança dentro de apartamento não dá. A reforma é muito boa, agora podemos vir aqui à tarde", disse a aposentada Neide Souza, 65, enquanto supervisionava a neta de quatro anos.

Quem também celebrou a entrega do espaço foi a técnica em nutrição Gisleia Cerqueira, 47. "A violência está como um todo [em toda a parte da cidade]. A única coisa que não gosto é que eles [dependentes químicos] fazem muita sujeira". Cerqueira afirmou ter visto muita mudança positiva no bairro. A mulher estava acompanhada do filho de nove anos e de duas netas, de seis e cinco anos.

No interior do parque, que chegou a abrigar a cracolândia, com centenas de usuários e barracas, não havia dependentes nem moradores de rua, população encontrada facilmente pelo bairro.

Além dos seguranças privados, uma dupla de policiais militares estava próxima do portão principal, enquanto uma equipe da Guarda Civil Metropolitana estava na lateral da área verde, na rua Guaianases.

Em nota, a Secretaria Executiva de Projetos Estratégicos declarou que, por meio do Programa Redenção, realiza abordagem e busca ativa de pessoas que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas e estão em situação de vulnerabilidade ou risco social. A pasta disse que atuação será reforçada no entorno do parque Princesa Isabel na tentativa de que as pessoas aceitem encaminhamento para tratamento e acolhimento.

Sobre um dos portões fechados, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente informou que, para avaliação da dinâmica de utilização do parque pelos frequentadores e controle, neste primeiro momento optou por abrir somente a portaria principal do Parque Princesa Isabel.

Segundo o prefeito Nunes, a entrega desta quinta faz parte de uma ação de reconstrução urbanística do centro de São Paulo.

"Esse local era tomado por traficantes, por barracas, barracas essas que eram utilizadas para atividades ilícitas, criminosas. Depois um trabalho da prefeitura em conjunto com o estado de ofertar acolhimento e atendimento para usuários de drogas e prisão de traficantes, processo de revitalização, hoje a gente entrega o parque Princesa Isabel totalmente requalificado", disse ao lado do vice-governador Felicio Ramuth (PSD).

Em março de 2022, a então praça Princesa Isabel recebeu centenas de usuários de drogas que viviam em outro local do centro. Com isso, na prática ela se tornou a nova cracolândia da cidade.

Dois meses depois, em maio, uma operação policial expulsou os dependentes químicos do local. Em junho, a Câmara dos Vereadores aprovou um projeto que transformou o local no parque Princesa Isabel —o que permitiu que a gestão Nunes cercasse o espaço.

Teve então início uma obra de revitalização que foi até março de 2023, quando o espaço foi reaberto. Mas isso durou apenas dois meses, com o local sendo fechado novamente em maio do ano passado.

A promessa inicial da prefeitura era que ele seria reinaugurado 120 dias depois, em setembro de 2023, mas isso só aconteceu nesta quinta.

Desde janeiro a gestão Nunes desembolsa R$ 134,6 mil mensais para manter dez vigilantes no local.

Após as obras, o parque agora ganhou academia ao ar livre, brinquedos para crianças e quadra para a prática de esportes, além de uma área cercada para cachorros.

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