Descrição de chapéu saúde mental

Colégio Bandeirantes critica cobertura da imprensa sobre suicídio de aluno

Em carta aos pais, direção da escola diz que 'tom sensacionalista é extremamente irresponsável' e impacta saúde mental de alunos e colaboradores

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São Paulo

Em uma carta aos pais, a direção do Colégio Bandeirantes, de São Paulo, criticou a cobertura da imprensa sobre o suicídio de um aluno da escola. O texto diz que as reportagens sobre o caso têm "muitas inverdades" e que o tema não foi apurado com responsabilidade pelos veículos divulgadores.

No último dia 13, um estudante do colégio se suicidou. O caso ocorreu fora das dependências da escola. Na segunda-feira (19), um grupo de estudantes fez um protesto na frente da unidade.

Os manifestantes afirmaram que a escola não tomou medidas para proteger o menino. Pessoas que participaram do ato carregaram cartazes com palavras de ordem contra o preconceito. O jovem havia registrado que era vítima de bullying por ser homossexual.

Letreiro grande com a palavra 'BBBanco'. Ao fundo, há uma entrada com janelas e vegetação ao redor.
Logo do Colégio Bandeirantes, que fica na zona sul de São Paulo - Avener Prado - 10.jun.13/Folhapress

"Estamos cientes do tom e conteúdo de tais notícias, e reafirmamos que há muitas inverdades, e que o tema não foi apurado com responsabilidade pelos veículos divulgadores. Ademais, o tom sensacionalista é extremamente irresponsável e impacta negativamente a saúde mental de nossos alunos e colaboradores", diz o comunicado do colégio.

O texto diz ainda que a direção optou por "limitar as manifestações" sobre o caso e não dar sua versão a público, "uma vez que o nosso compromisso com nossos valores não pode ser relativizado".

Diz ainda que o colégio tem priorizado o apoio aos alunos e a cautela na divulgação do tema para evitar o "efeito de contágio, para que outros casos semelhantes não sejam incentivados".

"Apesar dos dados sobre o nosso aluno e sobre o ocorrido estejam sendo divulgados por terceiros de maneira tão midiática, nós, como escola, não podemos e não devemos fazer o mesmo", diz.

O comunicado aos pais afirma ainda que o colégio têm a obrigação e a missão de proteger a identidade e imagem do aluno que morreu, assim como dos demais dados pessoais e informações escolares.

"Do mesmo modo, também temos o dever de proteger informações relativas aos nossos demais estudantes, não importa em que contexto tenham interagido com o aluno que veio a falecer. Reputamos todas essas informações como sigilosas e, no que depender de nós, assim permanecerão."

O comunicado lista uma série de ações que são desenvolvidas internamente pela escola para promover a saúde mental dos estudantes e combater o bullying. Um deles é o programa de Convivência Positiva.

No programa, o colégio diz trabalhar a convivência em três frentes: curricular, pessoal e institucional.

Na esfera curricular são abordadas as habilidades socioemocionais, valores morais e relações interpessoais com os estudantes, tanto em disciplinas específicas quanto de forma transdisciplinar.

A via pessoal visa a formação dos educadores para lidar com temas como racismo, bullying, cyberbullying, sexualidade, entre outros. Já na esfera institucional, diz ter sistematizado espaços de fala e escuta, como as rodas de diálogo, protocolos de atuação em casos suspeitos ou confirmados de bullying e grupos de protagonismo estudantil.

Leia a íntegra do comunicado do colégio aos pais.

Esclarecimentos à comunidade
Prezados Responsáveis

Sabemos que o presente momento é de apreensão e que, mesmo diante dos esclarecimentos encaminhados em 21 de agosto, as notícias que têm sido veiculadas na mídia agravam a ansiedade de todos.

Estamos cientes do tom e conteúdo de tais notícias, e reafirmamos que há muitas inverdades, e que o tema não foi apurado com responsabilidade pelos veículos divulgadores. Ademais, o tom sensacionalista é extremamente irresponsável e impacta negativamente a saúde mental de nossos alunos e colaboradores.

Desde o início optamos por limitar nossas manifestações e por não ir a público para declarar nossa versão dos fatos, uma vez que o nosso compromisso com nossos valores não pode ser relativizado.

Continuamos, portanto, priorizando o apoio aos nossos alunos e a cautela na divulgação do tema, a fim de evitar o efeito de contágio, para que outros casos semelhantes não sejam incentivados.

Apesar dos dados sobre o nosso aluno e sobre o ocorrido estejam sendo divulgados por terceiros de maneira tão midiática, nós, como escola, não podemos e não devemos fazer o mesmo.

É nossa obrigação e missão como instituição de ensino, proteger não apenas a identidade e a imagem desse aluno, mas seus demais dados pessoais e informações escolares. Do mesmo modo, também temos o dever de proteger informações relativas aos nossos demais estudantes, não importa em que contexto tenham interagido com o aluno que veio a falecer. Reputamos todas essas informações como sigilosas e, no que depender de nós, assim permanecerão.

Não obstante, gostaríamos de compartilhar com os membros da comunidade Bandeirantes as ações promovidas pela escola no que se refere ao programa de Convivência Positiva, do qual faz parte o combate ao bullying, e à concessão de bolsas de estudos.

Possibilidades e limites do trabalho de Convivência no Band

Neste espaço, pretendemos apresentar as iniciativas que nossa escola adota para promover um ambiente de convivência positiva e os desafios que enfrentamos ao lidar com demandas que, muitas vezes, extrapolam os muros da instituição escolar.

Nossa proposta educativa integra o conhecimento acadêmico ao desenvolvimento de competências socioemocionais e sociomorais, considerando a convivência positiva não apenas como uma condição para a qualidade da aprendizagem, mas como um objetivo educativo em si.

Desenvolvemos o trabalho de convivência em três frentes: curricular, pessoal e institucional. Na esfera curricular, abordamos habilidades socioemocionais, valores morais e relações interpessoais com os estudantes, tanto em disciplinas específicas quanto de forma transdisciplinar.

A via pessoal visa à formação contínua dos educadores em temas específicos, como: comunicação não violenta, mediação de conflitos, racismo, bullying, cyberbullying, sexualidade, entre outros. Institucionalmente, sistematizamos espaços de fala e escuta, como as rodas de diálogo, protocolos de atuação em casos suspeitos ou confirmados de bullying (Método de Preocupação Compartilhada de Anatol Pikas), e grupos de protagonismo estudantil. Além disso, a equipe de Orientação Educacional acompanha o desenvolvimento acadêmico dos alunos, orienta na organização dos estudos, provê a mediação de conflitos interpessoais e acolhe questões individuais dos estudantes, mantendo, sempre que necessário, contato com as famílias e eventuais especialistas que os atendem, com o objetivo de realizar um trabalho em rede.

No que se refere aos conflitos interpessoais, tão comuns entre crianças e adolescentes, os compreendemos como oportunidades de aprendizagem de regras e valores. Existem diferentes tipos de conflitos, cada qual com intervenções específicas, como é o caso do bullying. De acordo o artigo 146-A da lei 14.811/24, o bullying consiste em "intimidar sistematicamente, individualmente ou em grupo, mediante violência física ou psicológica, uma ou mais pessoas, de modo intencional e repetitivo".

Os estudos da psicologia moral acrescentam que esse tipo de violência ocorre entre pares e que há uma desigualdade de poder entre autor e alvo, estando o segundo em uma posição de fragilidade. Além disso, o bullying ocorre de forma velada, sendo de difícil identificação por pais e educadores. Por essa razão, nossos educadores têm formação para observar alguns sinais que podem servir de alerta para uma possível situação de bullying: isolamento social, queda de rendimento acadêmico, mudança de humor, absenteísmo, frequência elevada ao ambulatório do Colégio, entre outros. É importante, ainda, ressaltar que o compartilhamento de informações, por parte da família, que dão indícios de que a criança ou o adolescente está em sofrimento emocional, é fundamental para a ações da escola. Constatados os sinais, a equipe de Orientação Educacional dá início ao protocolo antibullying.

De maneira resumida, esse protocolo consiste no levantamento de informações sobre a suspeita de bullying (autor, alvo, espectadores, locais em que ocorre, tipo de agressão) e, havendo confirmação, iniciamos os encontros individuais e formativos com os alunos envolvidos. Com o autor, temos por objetivo levá-lo a compreender as consequências de suas ações para com o alvo, a desenvolver a empatia e a estabelecer acordos reeducativos. Com o alvo, buscamos seu fortalecimento socioemocional e o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. Já com os espectadores, trabalhamos a importância de seu posicionamento ativo para que o bullying cesse. Quando iniciamos esses encontros, as famílias dos alunos envolvidos são avisadas. Em alguns casos, a depender da natureza da agressão, as sanções previstas em nosso regimento são aplicadas.

O sistema de apoio entre pares é parte essencial do programa antibullying da escola, pois as pesquisas mostram que os colegas têm importante papel na identificação do bullying e na proteção do alvo. Em nossa escola, esse sistema é denominado Equipe de Ajuda. As Equipes de Ajuda são formadas por grupos de alunos protagonistas, indicados por seus pares, que participam de processos de formação contínua sob coordenação da Orientação Educacional. Os alunos das Equipes de Ajuda aprendem como se aproximar e acolher colegas por meio da escuta ativa, fazer uso da linguagem assertiva em suas comunicações e mediar conflitos. Ao longo do ano, as equipes também organizam diversas ações a fim de favorecer a integração de colegas e promover a aproximação entre estudantes. Há uma Equipe de Ajuda atuante em cada ano do Ensino Fundamental 2, totalizando cerca de cento e vinte alunos.

No caso de conflitos que não se configuram como bullying, a atuação da Orientação Educacional consiste em escuta ativa, reflexão, aconselhamento e mediação, a depender de cada caso e das necessidades dos envolvidos. Em caso de reincidência ou da gravidade do ocorrido, a família é avisada e as sanções são aplicadas de acordo com nosso regimento interno.

Defendemos que a escola é uma instância de formação e que toda criança e adolescente, ainda em desenvolvimento nos aspectos cognitivo, afetivo e moral, têm o direito de receber uma educação reflexiva que contribua para a tomada de consciência das ações e suas consequências.

É importante destacar que, apesar de desenvolvermos um trabalho sistematizado para a formação ética dos nossos alunos, a construção de valores e a mudança de comportamento demandam um papel ativo do sujeito, assim como dos valores que circulam na família e na estrutura social. Para ser efetiva, a educação deve ser vista como um esforço coletivo e compartilhado, no qual a escola é apenas uma peça de um quebra-cabeça maior.

A Educação como agente de transformação social

Como é a parceria entre o Band e as ONGs

O Band tem o compromisso de proporcionar uma educação de excelência e inclusiva. Para atingir esse objetivo, há mais de 17 anos, temos parcerias com ONGs que oferecem oportunidades para alunos talentosos de baixa renda. Por ano, são mais de R$7.000.000,00 investidos em incluir e apoiar nossos alunos bolsistas. Nossa mais longeva e numerosa relação é com o ISMART e, mais recentemente, também firmamos parceria com o Alcance e o Instituto Sol. Atualmente, nossa escola conta com 130 bolsistas e, ao longo dos anos, mais de 400 jovens já foram beneficiados e, a grande maioria, obteve sucesso acadêmico em diferentes universidades no Brasil e no exterior.

Quando iniciamos nossa parceria com o ISMART em 2007, os alunos selecionados por eles enfrentavam uma desafiadora dupla jornada. Ainda como alunos regulares da escola pública, frequentavam o Band apenas para reforço escolar, no formato que chamávamos de CP (curso preparatório). Nossos professores ministravam aulas de Português, Matemática, Geografia, Ciências, História, Inglês, Convivência Positiva e Educação Física, com o intuito de complementar o conteúdo dado na escola pública e prepará-los para a nossa prova de processo seletivo do Ensino Médio (vestibulinho). O "CP" durava 2 anos, período correspondente aos 8o e 9o anos do Ensino Fundamental 2 e, uma vez que fossem aprovados no vestibulinho, os alunos passavam a ser alunos regulares do Band durante o Ensino Médio.

Tal formato perdurou até o ano 2021, quando decidimos que, em comum acordo com o ISMART, para maior integração e para poupá-los de uma jornada diária tão exaustiva, passaríamos a ter os bolsistas como alunos regulares já no 8o ano.

Tomamos alguns cuidados ao tomar essa decisão, como por exemplo: ao fazer a composição das turmas, todos os alunos do ISMART estariam em duplas ou trios para evitar que pudessem se sentir isolados; montamos turmas específicas de línguas estrangeiras para nivelamento; oferecemos reforço exclusivo de matérias que pudessem significar um maior desafio acadêmico, entre outras iniciativas.

É importante destacar que o Colégio Bandeirantes não se beneficia de incentivo tributário/fiscal por receber alunos bolsistas. Faz isso por acreditar que a educação é o principal agente de transformação social, e que a diversidade enriquece o ambiente de aprendizagem.

Convite

Em respeito a nossa comunidade, e com a transparência possível para momentos como o que estamos passando, convidamos nossas famílias para encontros presenciais no Colégio.

Desejamos que esse seja um momento de verdadeiro diálogo entre nós, no qual possamos escutar, acolher e conversar. Para que os encontros ocorram da melhor maneira possível, organizaremos grupos pequenos para essas conversas.

Assim, para contemplar o maior número de famílias, pedimos que apenas um responsável por aluno se inscreva. Caso seja necessário, divulgaremos novas datas em breve.

Agradecemos profundamente pela confiança que vocês depositam no Band.

Estamos juntos e contamos com o apoio de todos!

Atenciosamente,
Eduardo Tambor Junior
Diretor Geral e Operações


Onde buscar ajuda

A recomendação dos psiquiatras é que a pessoa busque qualquer serviço médico disponível. Entre as opções estão:

NPV (Núcleo de Prevenção à Violência)
Os NPVs são constituídos por ao menos quatro profissionais dentro das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e de outros equipamentos da rede municipal. Para acolher e resguardar as vítimas, os núcleos atuam em parceria com o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Conselho Tutelar, a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.

Pronto-Socorro Psiquiátrico
Ideação suicida é emergência médica. Caso pense em tirar a própria vida, procure um hospital psiquiátrico e verifique se ele tem pronto-socorro. Na cidade de São Paulo, há opções como o Pronto Socorro Municipal Prof. João Catarin Mezomo, o Caism (Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental) e o Hospital Municipal Dr. Arthur Ribeiro de Saboya.

Mapa da Saúde Mental
O site, do Instituto Vita Alere, mapeia serviços públicos de saúde mental disponíveis em todo território nacional, além de serviços de acolhimento e atendimento gratuitos, além de ações voluntárias realizadas por ONGs e instituições filantrópicas, entre outros. Também oferece cartilhas com orientações em saúde mental.

CVV (Centro de Valorização da Vida)
Voluntários atendem ligações gratuitas 24 h por dia no número 188, por chat, via email ou diretamente em um posto de atendimento físico.

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