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Falta de conforto faz passageiro de ônibus trocar de transporte público

Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte diz que 57,3% dos entrevistados aceitariam pagar mais para viajar sentado

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São Paulo

A falta de conforto é apontada como motivo para a troca de ônibus por outros meios de transporte no Brasil. O problema consta na Pesquisa CNT de Mobilidade da População Urbana, que volta a ser realizada após sete anos e será apresentada nesta quarta-feira (7) durante a Lat.bus Transpúblico (Feira Latinoamericana do Transporte), em São Paulo.

De acordo com o levantamento, o desconforto nos coletivos foi citado por 28,7% dos entrevistados, quando questionados sobre os motivos que provocaram a troca do ônibus no deslocamento. O item fica à frente de tempo elevado de viagem, preço da tarifa, insegurança e atrasos, por exemplo.

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Fila de passageiros em ponto do terminal Santana, na zona norte de São Paulo; pesquisa aponta que usuários até pagariam para ter mais conforto - Rubens Cavallari - 21.set.23/Folhapress

Entre as pessoas questionadas pela pesquisa, 57,3% disseram, inclusive, que estariam dispostas a pagar mais para viajar sentada durante as viagens.

Também aceitariam preço maior na passagem de ônibus com tecnologias menos poluentes e elétricos.

O levantamento da CNT (Confederação Nacional do Transporte), com participação da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), ouviu 3.117 pessoas, em 319 municípios com mais de 100 mil habitantes, de 18 de abril a 11 de maio deste ano. A margem de erro é de 1,8%

A pesquisa busca identificar os principais modos de transporte utilizados pela população brasileira, bem como caracterizar os deslocamentos diários e avaliar a percepção dos passageiros sobre o setor de transporte urbano no país.

O levantamento foi feito pela última vez em 2017 e seria repetido em 2020, mas acabou cancelado por causa da pandemia. Voltou a ser realizado agora por ser ano eleitoral —em 2024 os brasileiros escolherão prefeitos e vereadores.

"A questão da mobilidade tem ganhado relevância cada vez maior. Os dados da pesquisa trazem indicações importantíssimas aos candidatos", afirma Bruno Batista, diretor executivo da CNT.

O ônibus ainda é o meio de transporte de uso predominante pela população brasileira, apesar de ter perdido participação nos deslocamentos pelas cidades.

Ao todo, 30,9% dos entrevistados afirmaram usá-lo como meio de transporte. A parcela é semelhante ao do carro próprio (29,6%).

Mas o percentual dessas pessoas diminuiu. Na pesquisa atual, o volume é 14,3 pontos percentuais menor na comparação com 2017, quando a parcela era de 45,2%.

Um outro levantamento, divulgado pela NTU nesta terça-feira (6), apontou que o sistema de transporte público por ônibus urbanos perdeu quase metade de seus passageiros na última década.

A substituição por outros modais se intensificou ao longo dos anos. Considerando o percentual das pessoas que deixaram de utilizar os ônibus totalmente, juntamente com os passageiros que diminuíram o uso, houve um agravamento da situação na comparação com as duas pesquisas.

Segundo a pesquisa da CNT, 56,9% dos entrevistados disseram que deixaram de usar ônibus —29,4% totalmente e 27,5% diminuíram a utilização.

Fatores que podem ter influenciado a queda são o aumento da utilização do carro próprio, que passou de 22,2% para 29,6% no período, e a obtenção de moto própria, que praticamente duplicou —saltou de 5,1% para 10,9% em sete anos.

Na comparação com a pesquisa anterior cresceu em cerca de dez vezes o uso dos serviços de transporte por aplicativo. A modalidade, que utiliza veículo particular, passou de 1%, em 2017 para 11,1, em 2024 —maior rapidez nas viagens (49%), flexibilidade de rotas e horários (42,3%) e conforto (43%) estão entre os principais motivos apontados para a escolha deste serviço.

O levantamento aponta que entre as pessoas que trocaram ônibus pelos aplicativos de transporte, 56,6% pertencem à classe C e 20,1%, às classes D/E.

Os dados da pesquisa mostram ainda que cresceu a quantidade de pessoas que se deslocam nas cidades sem que esses coletivos sejam considerados como opção. Em 2017, 4,8% nunca tinham usado ônibus. Atualmente, esse grupo representa 10,4%.

Na comparação com a edição anterior da pesquisa, de 2017, a parcela da população que considera o transporte um problema quase dobrou. Em sete anos passou de 12,4% para 24,3%. Passou o desemprego, que era o terceiro colocado neste item em 2017 —falta de segurança e violência ainda lideram.

Mesmo assim, o transporte público coletivo urbano ainda se caracteriza como um serviço fundamental para a faixa populacional de baixa renda —as classes C e D/E são as que mais se deslocam por ônibus (79,2%), trem urbano/metropolitano (77,1%) e metrô (62,3%).

"É preciso que as políticas de mobilidade urbana favoreçam medidas para atrair novamente o usuário do transporte público, como investimento em infraestrutura, renovação de frota e adoção de novas tecnologias, como aplicativos que indicam quanto tempo o ônibus vai demorar para passar", diz Bruno Batista.

O diretor executivo da CNT lembra que os engarrafamentos têm subido tanto em frequência quanto em extensão —o levantamento da confederação afirma que na cidade de São Paulo as pessoas levam em média 29 minutos para percorrer dez quilômetros com trânsito livre. O tempo sobe para 57 minutos com congestionamentos —no Recife a demora é de 58 minutos, a maior entre as capitais comparadas.

"Isso só vai ser corrigido com atuação forte do poder público", afirma.

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