Descrição de chapéu transporte público trânsito

Saiba quais são os piores dias da semana para pegar transporte público em São Paulo

Maior fluxo de passageiros está concentrado entre terça e quinta-feira nos trem, metrô e ônibus da cidade

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São Paulo

Os dias do miolo de semana concentram os maiores números de embarques no transporte público na cidade de São Paulo.

Segundo dados do Metrô, da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e da SPTrans, estatal da prefeitura que gerencia os ônibus municipais de São Paulo, os maiores fluxos estão entre terça e quinta-feira.

Houve mudança, dependendo do modal, no dia da semana com maior embarque e no horário de pico, na comparação com 2019, antes da pandemia de Covid-19, que mudou o comportamento de passageiros.

Movimento de passageiros em terminal de ônibus em Santana, na zona norte de São Paulo; coletivos lotam mais às quartas e quintas - Rubens Cavallari/Folhapress

É o caso do Metrô, que no ano passado retomou a terça-feira (junto com a quarta) como dia da semana com maior quantidade de embarques —em 2020 e 2021, esse movimento havia mudado para as sextas-feiras. Mas o horário de pico do início da noite foi antecipado em uma hora para o fim da tarde, passando das 18h às 19h, antes da pandemia, para das 17h às 18h.

Questionado sobre os motivos para essa alteração, o Metrô não apresentou uma explicação, mas a companhia vai antecipar a pesquisa Origem e Destino, maior estudo de mobilidade urbana do país, e mudar o intervalo da série histórica pela primeira vez em mais de cinco décadas. Um dos motivos é entender o efeito da pandemia no transporte coletivo.

O trabalho era realizado a cada dez anos desde 1967. Pela primeira vez, haverá um intervalo de seis anos entre a realização de duas edições. A primeira fase, de campo, teve início em agosto e vai até novembro.

A CPTM atualmente concentra seus maiores embarques às quintas –em 2019 eram às sextas.

No caso dos ônibus, mantém-se o fluxo maior às quartas e quintas desde o ano anterior ao esvaziamento das ruas por causa do novo coronavírus.

Comportamento semelhante é notado no trânsito em geral, pois a quinta-feira se consolidou como o pior dia da semana para os motoristas, substituindo a sexta, e os horários tradicionais de rush estão mais amenos.

A explicação, segundo os especialistas, é a mesma, opção por trabalho remoto nos extremos dos dias uteis da semana. Isso diminui o número de pessoas no transporte público e no trânsito como um todo às segundas e sextas.

O engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), afirma que essas mudanças de comportamento já davam sinais de que iriam se tornar realidade, mas a pandemia as acelerou em uma década.

"A sociedade se adaptou de uma maneira diferente, se reorganizou no trabalho, na educação e na relação de consumo. Isso refletiu no transporte público", afirma o especialista. "Essa reorganização chegou para ficar."

O transporte público recuperou parte dos passageiros perdidos durante a pandemia, mas está longe dos números anteriores.

No Metrô, na média dos primeiros semestres, neste ano foram transportadas 2,8 milhões de pessoas às terças-feiras contra 3,7 milhões no mesmo dia da semana em 2019 –queda de 24,3%.

No caso dos trens, conforme dados apresentados pela CPTM, a redução foi de quase 20%, também nos dias com maior movimento, aproximadamente o mesmo percentual dos ônibus.

Mas ter menos gente não significa mais conforto. Para a diarista Valdirene Maria dos Santos, 53, não importa o dia da semana, mas ela sai de casa diariamente com uma cadeirinha dobrável para ter onde sentar quando entra no trem lotado em Franco da Rocha, na região metropolitana, para trabalhar na capital.

"A linha [7-rubi] não está ruim, mas o trem sempre enche pela manhã [por volta das 7h, quando embarca] e se chegar na Luz depois das 17h30, não dá nem para entrar na estação, de tão lotada", afirma.

A CPTM afirma que vem realizando melhorias operacionais, resultando em menor tempo de viagem e aumento da oferta de lugares, bem como serviços especializados.

Menos ônibus

Especialistas ouvidos pela reportagem criticam a queda na oferta de transporte oferecido, principalmente dos ônibus.

A cidade, de acordo com a SPTrans, conta com uma frota operacional de 11.934 ônibus. Em agosto de 2019, eram 13.255 veículos.

O problema atinge mais quem exerce trabalho essencialmente presencial e tem enfrentado demora na espera pelo coletivo —em abril, a Folha mostrou que 1 a cada 3 reclamações de usuários foram de intervalo excessivo entre uma condução e outra.

Para Rafael Calabgria, coordenador de mobilidade Urbana do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), a redução na oferta de transporte significa queda na qualidade.

"Piorar o transporte coletivo, impacta no trânsito e a poluição", alerta ele, que cita falta de investimento na melhoria dos coletivos.

A SPTrans afirma que a frota de ônibus sempre foi mantida acima da demanda de passageiros transportados, mesmo durante a pandemia.

Atualmente, diz a estatal, a frota do sistema de transportes está em 97,41% nos bairros mais afastados do centro e em 93,13% em toda a cidade.

Para Ejzenberg, o município perdeu uma janela de oportunidade para investir na construção de corredores de ônibus quando as ruas estavam mais vazias por causa da pandemia.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo diz que tem realizado obras para melhoria da infraestrutura e do serviço do transporte coletivo municipal.

Afirma ainda que a atual gestão implantou 42,7 km de faixas exclusivas, ou seja, 85,4% da meta de 50 km, e trabalha para viabilizar 40 km de novos corredores.

Na revisão de seu Programa de Metas, em abril, a gestão Ricardo Nunes (MDB) excluiu uma de suas obrigações: a de ampliar em 420 quilômetros a extensão de vias atendidas pelos ônibus.

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