Descrição de chapéu Obituário Hermano de Villemor Amaral Filho (1920 - 2024)

Mortes: Centenário, foi o advogado mais longevo do país

Hermano de Villemor Amaral Filho herdou do pai e legou ao filho a profissão que, segundo dizia, era a única que ele conhecia

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São Paulo

O advogado Hermano de Villemor Amaral Filho certa vez foi perguntado, durante um almoço de confraternização com colegas da advocacia, sobre o motivo pelo qual tinha escolhido sua profissão. "É muito simples", ele contou durante uma entrevista há cerca de um ano. "Meu pai me falava sempre para eu ser advogado porque eu não sabia que existiam outras profissões."

Amaral Filho conversava com jovens que, como ele, também eram filhos de advogados. O comentário tinha algum tom de brincadeira, mas havia também alguma verdade. Ele começou a frequentar o escritório do pai quando tinha 12 anos.

Assumiu a firma aos 25, após a morte do pai. Seu filho, décadas depois, também se tornaria advogado e eles trabalhariam juntos na mesma empresa. Os três (seu pai, ele e seu filho) têm o mesmo nome.

Um homem idoso, com cabelo grisalho e bigode, está sorrindo enquanto se apresenta em um evento. Ele usa um terno claro e uma gravata azul. Há um microfone à sua frente e ao fundo, é possível ver algumas molduras de quadros na parede.
O advogado Hermano de Villemor Amaral Filho aos cem anos - Reprodução/IAB

Por vários anos, Amaral Filho foi considerado o advogado mais longevo em atividade no Brasil. Participou do cotidiano do escritório até os cem anos, e só se distanciou das atividades com a chegada da pandemia de Covid-19.

Nascido e criado no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, ele se formou em 1943, quando a atual UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) se chamava Universidade do Brasil. Foi um dos primeiros inscritos nos quadros da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no estado.

Neto de franceses, encontrou na comunidade expatriada no Rio sua maior clientela durante os primeiros anos de carreira. Representava embaixadas de países francófonos em questões jurídicas no Brasil e estava entre os advogados que negociaram a libertação do embaixador Giovanni Enrico Bucher, da Suíça, em troca da libertação de 70 presos políticos após seu sequestro pelo grupo armado Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), de Carlos Lamarca.

Quando falava sobre o escritório, gostava de ressaltar os pioneirismos no uso de tecnologias —foi o primeiro de advocacia no Rio a ter uma máquina de fax, um dos primeiros a ter computador— e de ter sido o primeiro a ter uma mulher advogada entre seus sócios.

São célebres suas dicas sobre o segredo da longevidade. Dizia que para viver mais era necessário tomar banho frio, tanto no verão quanto no inverno, e beber dois dry martínis por dia. Tomar o drinque, que ele dizia ser bom para a saúde por dilatar os vasos sanguíneos, estava também entre os hábitos diários da rainha Elizabeth 2ª, que morreu aos 96 anos. Amaral Filho cuidava para nunca tomar mais do que dois.

Recomendava a todo novo funcionário do escritório a leitura do texto "Mensagem a García", sobre a entrega de uma carta do presidente americano William McKinley ao general insurgente cubano Calixto García durante a Guerra Hispano Americana. O mensageiro da carta é celebrado no texto por sair em busca do general, cujo paradeiro era desconhecido, sem fazer qualquer pergunta e apenas cumprir a missão.

"Ética, moral e integridade para ele eram muito importantes. Não tolerava desvios", diz o filho, Hermano de Villemor Amaral Neto.

Hermano de Villemor Amaral Filho morreu aos 104 anos no dia 18 de julho, deixando a esposa, dois filhos e quatro netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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