Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Justiça manda Prefeitura do Rio restaurar vila tombada que abriga 'cracolândia da Lapa'

Local que já foi cenário de novela fica na rua Lavradio e tem cinco imóveis em estado de abandono

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São Paulo

A Justiça determinou que a Prefeitura do Rio de Janeiro e os proprietários de cinco casas localizadas em uma vila tombada pelo patrimônio municipal na Lapa providenciem a reforma estrutural e a restauração arquitetônica dos imóveis, atualmente abandonados e ocupados por famílias e também pelo crime organizado.

A Vila Politheama, hoje conhecida como "cracolândia da Lapa", fica no número 122 da rua do Lavradio, na região central da cidade, perto de uma área de boêmia e de prédios públicos como o do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) e o Batalhão Central da Polícia Militar.

A imagem mostra a fachada de um edifício abandonado, com janelas de madeira e varandas. O prédio apresenta sinais de deterioração e está coberto de grafites. A entrada principal é marcada por um arco, e há uma porta de metal fechada à direita. Um contêiner azul está visível na entrada, e há uma criança na calçada à frente. O ambiente urbano ao redor inclui postes de luz e outros edifícios ao fundo.
Fachada da vila tombada na rua do Lavradio, na Lapa, no Rio de Janeiro - Reprodução/Google Street View

A ação civil que provocou a decisão judicial foi apresentada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, por meio da 4ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural da Capital.

Segundo a promotoria, as cinco casas estão em péssimo estado de conservação. A decisão da 9ª Vara de Fazenda Pública determina que a prefeitura e os donos, a empresa Aratu Empreendimentos Imobiliários e uma pessoa física, têm prazo de 360 dias para restaurar os imóveis, preservando as características arquitetônicas históricas. A multa prevista em caso de descumprimento é de R$ 20 mil

Além disso, dois dos imóveis da vila precisam ser desocupados e interditados em um prazo máximo de 180 dias, sob pena de multa diária de R$ 10 mil.

A Justiça determinou que as pessoas retiradas das casas tenham garantido o direito à moradia e recebam auxílio habitacional temporário.

O município também foi condenado ao pagamento de uma indenização, com valor ainda não definido, por danos decorrentes da degradação do patrimônio cultural. O valor será destinado ao Fundo Estadual de Conservação Ambiental.

De acordo com a ação civil, há construções irregulares e risco de colapso e incêndio no local, tombado desde 1987.

A vila é alvo frequente de ações policiais e vistorias por parte da Defesa Civil. Em maio de 2015, um incêndio provocou o desabamento parcial do telhado e das paredes de uma das casas.

O conjunto arquitetônico foi construído em 1893 como um dos primeiros núcleos de moradia popular do Rio, com 21 casas e acesso dos moradores por meio de um grande arco.

A primeira versão da novela "Sassaricando", protagonizada por Claudia Raia, teve cenas gravadas nessa região.

Em suas defesa, a prefeitura alegou dificuldade de acesso ao local devido à grande rotatividade de famílias que vivem nas casas invadidas, o que dificulta o acompanhamento por parte da assistência social. O município também afirma que os moradores não aceitam receber atendimento.

A vila é em parte ocupada por lideranças de um grupo criminoso e há vigilância sobre quem entra e sai do local.

Os proprietários também apontaram a dificuldade de retomar o controle dos imóveis por causa da invasão e da presença de criminosos. Eles apontam falta de segurança por parte do Estado para que os grupos que vivem nas casas sejam retirados e ocorram as reformas necessárias.

"A responsabilidade de reparar e conservar o imóvel tombado é, em princípio, do proprietário. Contudo, se o proprietário não tiver recursos ou em casos de urgência, impõem-se ao poder público o dever de zelar pela manutenção do patrimônio tombado", afirma trecho da decisão assinada pelo juiz Wladimir Hungria. "Trata-se, portanto, de responsabilidade solidária existente entre o particular e o poder público na conservação do bem tombado".

Para a Justiça, a dificuldade de acesso à vila não desobriga a prefeitura de proteger o patrimônio público.

"É inegável que a ausência da efetiva execução do projeto de restauração prolonga o estado de abandono e precariedade do imóvel, facilitando sua degradação e favorecendo novas ocupações irregulares", diz a decisão.

A Folha solicitou posicionamento da prefeitura na manhã desta sexta (2), que encaminhou a demanda para a Procuradoria Municipal do Município. Essa, por sua vez, ainda não se manifestou. Já a empresa Aratu Empreendimentos Imobiliários não retornou ao contato feito por email até a publicação deste texto.

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