PCC usa cracolândia para desvalorizar e ocupar imóveis no centro de SP, diz Tarcísio

Movimentação do fluxo de usuários é planejada para favorecer ecossistema do crime, afirma governador

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São Paulo

O PCC (Primeiro Comando da Capital) movimenta o fluxo de usuários de drogas na região central de São Paulo de modo que a degradação criada pela cracolândia favoreça atividades econômicas geridas pela facção criminosa, afirmou nesta segunda-feira (26) o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Com a depreciação de comércios, hotéis, pensões e outros edifícios comerciais e residenciais, o grupo que comanda o tráfico de drogas dentro e fora dos presídios consegue facilmente comprar esses imóveis, ele diz.

Eles estão sentados sobre uma pequena mureta, de costas, e ao fundo é possível ver estabelecimentos com portas fechadas
Usuários de crack no canteiro central da avenida Rio Branco, na região central de São Paulo - Danilo Verpa - 25.jun.2024/Folhapress

Os locais adquiridos pela facção abrigariam uma série de negócios ilícitos, como prostíbulos, ferros-velhos e outros estabelecimentos que servem de fachada para a comercialização de drogas e a receptação de produtos de roubo e furto.

O chamado "ecossistema" do tráfico ainda inclui práticas como a atuação de milícias com participação de agentes de segurança, extorsão de comerciantes e moradores, venda ilegal de armas e exploração do trabalho de pessoas em situação de vulnerabilidade.

A Folha denunciou há um ano que o deslocamento dos dependentes químicos obedece ordens de criminosos e que comerciantes eram coagidos a pagar para que a cracolândia saísse da porta dos seus estabelecimentos.

Detalhes da investigação que resultou na megaoperação do Ministério Público para desmantelar o crime organizado no centro da capital foram mencionados pelo governador durante apresentação, nesta segunda-feira, do projeto do novo centro administrativo do governo paulista.

A gestão Tarcísio de Freitas planeja concentrar suas secretarias e demais órgãos administrativos no entorno do parque Princesa Isabel, nas cercanias da cena aberta de uso de drogas que há três décadas reúne diariamente centenas de dependentes químicos. Ao levar o poder estadual para a cracolândia, o governo paulista promete expulsar o crime.

"Determinados movimentos do fluxo [de dependentes químicos] têm esse objetivo: a degradação que provoca a depreciação dos valores dos imóveis, a compra desses imóveis para favorecer a lavagem de dinheiro", afirmou o governador.

Tarcísio ainda disse que muitos desses imóveis estão em nome de líderes ou de pessoas relacionadas a lideranças da facção. Uma das ações contra o sistema criminoso, segundo o governador, consiste em pedir judicialmente que o estado tome posse desses estabelecimentos.

Alguns dos imóveis estão justamente em quadras no entorno do parque Princesa Isabel que fazem parte da área a ser desapropriada para a construção do futuro centro administrativos do estado, disse um integrante do governo à Folha.

Tarcísio também afirmou que o PCC pode estar por trás de protestos contra ações do estado na região. Moradores da favela do Moinho, local apontado como espécie de bunker do tráfico, realizaram na última quinta-feira (22) uma manifestação contra possíveis desapropriações.

Governo inicia transferência para o centro

Após a conclusão do concurso de arquitetura organizado pelo IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) que definiu como vencedor o projeto do escritório Ópera Quatro, o governo pretende publicar um edital para a execução do projeto por meio de uma PPP (Parceria Público Privada).

Com investimento previsto de aproximadamente R$ 5 bilhões, o projeto passará por uma fase de audiências públicas e deverá ter o seu edital apresentado no final do primeiro semestre de 2025.

A construção da sede poderá levar cerca de cinco anos, mas a ocupação da região pelo governo deve começar antes disso. A Secretaria de Cidadania e Justiça do Estado será transferida para o Palácio Campos Elísios no próximo mês, segundo a gestão Tarcísio.

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