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Ribeirão Preto

10/03/2012 - 14h29

Estudo aponta americanização e fim do caipira em festas de peão

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MARCELO TOLEDO
EDITOR-ASSISTENTE DA "FOLHA RIBEIRÃO"

Saem de cena o caipira, a música raiz e os pequenos vendedores. Em seu lugar, aparecem o caubói, o country e as grandes marcas.

Esse é o cenário atual da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos e de outros importantes eventos do gênero no país, aponta estudo acadêmico defendido na Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro. A dissertação de mestrado do geógrafo Magno de Lara Madeira Filho tenta mostrar que temas como a cultura sertaneja, que engloba a catira (dança típica), por exemplo, estão cada vez mais deixados de lado nas grandes festas.

E Barretos, como principal evento do gênero no país, dita a tendência do segmento, que, segundo dados do circuito PBR (Professional Bull Riders), reúne cerca de 4 milhões de visitantes por ano somente nas 30 maiores festas de rodeio do país.

"A situação atual no que diz respeito à cultura e ao consumo não é um convite para ir [a Barretos]. A cultura virou entretenimento. As tradições foram abandonadas", afirmou Madeira Filho.

Edson Silva-20.ago.2011/Folhapress
Público no estádio de rodeios de Barretos durante apresentação da cantora Paula Fernandes na Festa do Peão
Público no estádio de rodeios de Barretos durante apresentação da cantora Paula Fernandes na Festa do Peão

Além de Barretos, a coleta de dados foi feita em Americana, Jaguariúna --ambas entre as principais festas de peão-- e Jaborandi, cidade natal do pesquisador.

O objetivo foi analisar a geografia do comércio e do consumo e entender de que forma um espaço que nasceu para valorizar a cultura caipira virou um local cercado por grandes marcas publicitárias e com espaço reduzido para as tradições sertanejas.

"O caipira ficou estigmatizado, na literatura e na TV. É o atrasado, que não progrediu, enquanto o que vem de fora, principalmente dos EUA, é mais fácil de se vender", afirmou.

Na questão do vestuário, por exemplo, o pesquisador aponta uma americanização das festas de peão.

Um exemplo é o próprio Monumento ao Peão em Barretos, de 27 m de altura e concebido em 2005 para celebrar o cinquentenário do evento, logo na entrada do Parque do Peão --recinto que anualmente abriga a festa e recebe ao menos 800 mil visitas.

"Ele não é um peão, apesar do nome. É um caubói, pois a vestimenta não é brasileira. O imaginário é o da cultura americana."

Outro ponto questionado é a música. Se em décadas passadas a música raiz de Tião Carreiro & Pardinho era o mote, a festa hoje é voltada ao sertanejo universitário e a estilos como o rock e até mesmo o samba carioca.

Foram 12 shows universitários em 2011 em Barretos, a maioria no palco principal.

De acordo com ele, a sua preocupação é com o consumidor, "que assiste a isso tudo passivamente e é adestrado pelos símbolos".

OUTRO LADO

A direção de Os Independentes, organizadora da Festa do Peão de Barretos, afirma que a pesquisa acadêmica tem falhas e que é preciso mais estudos para discutir a americanização do rodeio.

"Falar de globalização ou influência no Brasil é gozação ou falta de cultura. O futebol, paixão nacional, por exemplo, foi criado pelos ingleses. A indumentária country chegou ao Brasil com a instalação da indústria do cavalo Quarto de Milha em 1956 em Presidente Prudente. E o estilo ganhou o povo", disse por e-mail Marcelo Murta, consultor da associação.

Ainda segundo ele, a semelhança no rodeio está só no fato de Brasil e EUA terem se desenvolvido a partir da pecuária e frigoríficos.

"Os americanos inventaram o rodeio e os maiores campeões são brasileiros [têm sete títulos da PBR, o circuito norte-americano, ante dez dos EUA].
Portanto esse conceito acadêmico é preconceituoso e inculto. Seria o mesmo que afirmar que, já que fomos colonizados por portugueses, deveríamos manter as mesmas vestimentas usadas na monarquia."

Silva Junior - 27.ago.11/Folhapress
Competidor na Queima do Alho
Competidor disputa a Queima do Alho, em Barretos

A associação também alega que os preços praticados em Barretos são "extremamente populares" e que a festa mantém tradições caipiras, como concurso da Queima do Alho, que reproduz a alimentação de tropas em estradas boiadeiras no passado, festival de música raiz, pau-de-sebo e um memorial sobre a cultura sertaneja e os peões.

Disse ainda que a feira comercial do Parque do Peão tem pequenos expositores, como selarias e lojas de bijuterias e acessórios country, além de a praça de alimentação abrigar pequenos, médios e grandes expositores.

 

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