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Ribeirão Preto
Estudo aponta americanização e fim do caipira em festas de peão
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MARCELO TOLEDO
EDITOR-ASSISTENTE DA "FOLHA RIBEIRÃO"
Saem de cena o caipira, a música raiz e os pequenos vendedores. Em seu lugar, aparecem o caubói, o country e as grandes marcas.
Esse é o cenário atual da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos e de outros importantes eventos do gênero no país, aponta estudo acadêmico defendido na Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro. A dissertação de mestrado do geógrafo Magno de Lara Madeira Filho tenta mostrar que temas como a cultura sertaneja, que engloba a catira (dança típica), por exemplo, estão cada vez mais deixados de lado nas grandes festas.
E Barretos, como principal evento do gênero no país, dita a tendência do segmento, que, segundo dados do circuito PBR (Professional Bull Riders), reúne cerca de 4 milhões de visitantes por ano somente nas 30 maiores festas de rodeio do país.
"A situação atual no que diz respeito à cultura e ao consumo não é um convite para ir [a Barretos]. A cultura virou entretenimento. As tradições foram abandonadas", afirmou Madeira Filho.
Edson Silva-20.ago.2011/Folhapress | ||
Público no estádio de rodeios de Barretos durante apresentação da cantora Paula Fernandes na Festa do Peão |
Além de Barretos, a coleta de dados foi feita em Americana, Jaguariúna --ambas entre as principais festas de peão-- e Jaborandi, cidade natal do pesquisador.
O objetivo foi analisar a geografia do comércio e do consumo e entender de que forma um espaço que nasceu para valorizar a cultura caipira virou um local cercado por grandes marcas publicitárias e com espaço reduzido para as tradições sertanejas.
"O caipira ficou estigmatizado, na literatura e na TV. É o atrasado, que não progrediu, enquanto o que vem de fora, principalmente dos EUA, é mais fácil de se vender", afirmou.
Na questão do vestuário, por exemplo, o pesquisador aponta uma americanização das festas de peão.
Um exemplo é o próprio Monumento ao Peão em Barretos, de 27 m de altura e concebido em 2005 para celebrar o cinquentenário do evento, logo na entrada do Parque do Peão --recinto que anualmente abriga a festa e recebe ao menos 800 mil visitas.
"Ele não é um peão, apesar do nome. É um caubói, pois a vestimenta não é brasileira. O imaginário é o da cultura americana."
Outro ponto questionado é a música. Se em décadas passadas a música raiz de Tião Carreiro & Pardinho era o mote, a festa hoje é voltada ao sertanejo universitário e a estilos como o rock e até mesmo o samba carioca.
Foram 12 shows universitários em 2011 em Barretos, a maioria no palco principal.
De acordo com ele, a sua preocupação é com o consumidor, "que assiste a isso tudo passivamente e é adestrado pelos símbolos".
OUTRO LADO
A direção de Os Independentes, organizadora da Festa do Peão de Barretos, afirma que a pesquisa acadêmica tem falhas e que é preciso mais estudos para discutir a americanização do rodeio.
"Falar de globalização ou influência no Brasil é gozação ou falta de cultura. O futebol, paixão nacional, por exemplo, foi criado pelos ingleses. A indumentária country chegou ao Brasil com a instalação da indústria do cavalo Quarto de Milha em 1956 em Presidente Prudente. E o estilo ganhou o povo", disse por e-mail Marcelo Murta, consultor da associação.
Ainda segundo ele, a semelhança no rodeio está só no fato de Brasil e EUA terem se desenvolvido a partir da pecuária e frigoríficos.
"Os americanos inventaram o rodeio e os maiores campeões são brasileiros [têm sete títulos da PBR, o circuito norte-americano, ante dez dos EUA].
Portanto esse conceito acadêmico é preconceituoso e inculto. Seria o mesmo que afirmar que, já que fomos colonizados por portugueses, deveríamos manter as mesmas vestimentas usadas na monarquia."
Silva Junior - 27.ago.11/Folhapress |
Competidor disputa a Queima do Alho, em Barretos |
A associação também alega que os preços praticados em Barretos são "extremamente populares" e que a festa mantém tradições caipiras, como concurso da Queima do Alho, que reproduz a alimentação de tropas em estradas boiadeiras no passado, festival de música raiz, pau-de-sebo e um memorial sobre a cultura sertaneja e os peões.
Disse ainda que a feira comercial do Parque do Peão tem pequenos expositores, como selarias e lojas de bijuterias e acessórios country, além de a praça de alimentação abrigar pequenos, médios e grandes expositores.
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