A escola é um território dos afetos. Um lugar para as múltiplas experimentações, encontros e descobertas. Um espaço de vida, aprendizado e criação autoral.
Muitas coisas essenciais que se aprendem na escola não estão nos livros, mas nas relações próximas entre estudantes, seus professores e a comunidade.
É nesse ponto de convergência diária, regular e socialmente reconhecido que os jovens podem desenvolver uma consciência mais profunda sobre si próprios e sobre a sociedade, aprender a trabalhar com as diferenças e exercer uma cidadania ativa. Porém, como uma instituição de sua época, a escola afeta e é afetada pelas mais diversas inovações.
Um dos campos mais pulsantes e criativos em desenvolvimento nos últimos anos é o da aprendizagem. Estamos vivendo uma espiral ascendente em que a melhor compreensão dos mecanismos biológicos da cognição, a criação de métodos, a democratização do acesso a conteúdo e o desenvolvimento das tecnologias abrem um campo fascinante a ser explorado por educadores e estudantes.
São novidades que desafiam as formas tradicionais de ensinar e aprender: os processos colaborativos de aprendizagem trazidos pelas plataformas conectadas em rede; a realidade aumentada e suas práticas imersivas; o acesso ampliado aos conteúdos trazido pela computação em nuvem; a possibilidade de tomar decisões mais assertivas advinda pela análise de dados educacionais.
Tudo isso deverá significar aproximação, jamais distância e isolamento. Tampouco o enfraquecimento da escola e, muito menos, um fator de redução de direitos dos estudantes e seus professores, sobretudo o direito à convivência.
É certo que a escola vem deixando de ser o principal meio de acesso à informação para ser o local onde o conhecimento é construído de forma colaborativa e autoral por crianças, jovens e adultos, a partir da formação do pensamento crítico e criativo.
Isso se faz em conjunto, com a participação de profissionais da educação, construindo vínculos humanos significativos e habilidades necessárias para o exercício da cidadania contemporânea. Tudo aquilo que fustiga essas conexões agride a educação humanista que queremos.
A lei nº 13.415/17 do "novo ensino médio", criada a partir de medida provisória de Michel Temer, não só abre, mas escancara a educação secundária para que seja oferecida a distância. Se a lei avançar, pacotes EaD poderão dispensar professores, laboratórios e bibliotecas, aniquilando espaços de vivência coletiva.
Combinando esse a outros reducionismos, como a diminuição das disciplinas obrigatórias, essa lei pode significar uma das mais drásticas perdas de direitos da população brasileira nos últimos anos. Por esses e outros problemas, ela precisa ser revogada.
As novas tecnologias devem fortalecer a escola, não substituí-la. A educação básica precisa ser presencial. Educação a distância não deve ser admitida a não ser em casos excepcionais já previstos nas normas nacionais.
Crianças e jovens têm o direito a uma experiência escolar completa, intensiva e extensiva. Assim se tornarão cidadãos do mundo.
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