Evangélicos e aliados de Olavo de Carvalho pressionam contra escolha de Feder no MEC

Pessoas próximas a Feder temem que a ofensiva dê certo e que o presidente volte atrás na decisão

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Brasília

A ala considerada ideológica do governo, ligada ao escritor Olavo de Carvalho, e políticos evangélicos pressionam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta sexta-feira (3) para reverter a escolha do secretário do Paraná, Renato Feder, para comandar o Ministério da Educação.

Pessoas próximas a Feder temem que a ofensiva dê certo e que o presidente volte atrás na decisão. ​

O MEC é alvo de disputas entre diferentes alas de influência do governo desde o ano passado, e cada grupo insiste em emplacar um indicado que atenda sua agenda.

O governo tenta um nome considerado técnico, após os desgastes acumulados com o MEC, mas sem desagradar a militância ideológica mais fiel ao governo.

A informação de que Bolsonaro convidou Feder foi confirmada à Folha por auxiliares diretos de Bolsonaro no Palácio do Planalto.

Renato Feder, que foi convidado para ser ministro da Educação, em evento em Foz do Iguaçu em outubro de 2019 - José Fernando Ogura/AEN

Após o presidente ter confirmado a escolha a aliados, setores da base de Bolsonaro entraram em campo para tentar revertê-la.

De acordo com pessoas ligadas a militares do Planalto, líderes de grandes igrejas evangélicas ligaram para o presidente questionando o presidente sobre a decisão.

Procurado pela Folha, o pastor Silas Malafaia, por mensagem, afirmou que entrou em contato com o presidente.

"Eu mandei a mensagem [para o presidente] dizendo: 'Espero que o senhor coloque um camarada com afinidade ideológica com o senhor", disse o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. "Aí ele respondei: 'Eu ainda não nomeei ninguém ainda. Estão querendo escolher por mim'."

Malafaia criticou o convite a Feder. "Quando eu vejo [Luciano] Huck e MBL exaltar o cara e dizer que ele é bom, aí ele não é bom. Quando vejo alguém do PSDB elogiando o cara, fico com o pé atrás", disse.

Pessoas envolvidas no processo, incluindo cotados para o cargo, colocam a nomeação sob desconfiança, uma vez que o próprio presidente não fez o anúncio.

Foi Bolsonaro quem fez os anúncios dos outros ministros da Educação. Isso ocorreu com Ricardo Vélez Rodrigues, Abraham Weintraub e Carlos Alberto Decottelli. Todos os nomes causaram surpresa ao serem divulgados.

Feder também não é um nome alinhado aos militares do governo. Parte desse grupo vinha defendendo o nome do atual reitor do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), Anderson Correia, que também é bem visto por evangélicos.

Deputados bolsonaristas, como Bia Kicis (PSL-DF), escreveram em redes sociais que o presidente escolheu o secretário do Paraná e receberam diversos comentários críticos ao nome de Feder.

O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub também publicou uma mensagem desejando sorte a Feder, e da mesma forma reclamações quanto à escolha em respostas ao post.

Um dos alunos mais próximos de Olavo de Carvalho, Silvio Grimaldo publicou criticou o secretário do Paraná.

Antes de fazer o anúncio final, o governo observa a repercussão com relação à escolha de Feder e escalou deputados aliados, entre eles Carla Zambelli, para tentar arrefecer as críticas.

"Renato Feder defende a escola e o ensino sem ideologia política, qualquer q seja ela. Sabemos q ele irá trabalhar p/ formar adolescentes c/ excelência em português, matemática, ciência e afins. É exatamente o q queremos. Alunos livres e competitivos p/ o mercado. Bem vindo! Bandeira do Brasil", escreveu a deputada bolsonarista.

Como munição contra Feder, olavistas têm ressaltado sua proximidade com o PSDB e o financiamento dele para a candidatura de João Doria (PSDB) para a Prefeitura de São Paulo.

Denúncia de crime fiscal relacionada à empresa Multilaser, da qual ele é sócio, também tem sido explorada.

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