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Educar para o mundo conectado é desafio internacional

Boas iniciativas de educação midiática precisam ganhar apoio público e escala

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Em meio a tantos desafios na área da educação, principalmente após a pandemia de Covid-19 ter forçado o fechamento das escolas, há um tema que vem sendo debatido com atenção em fóruns nacionais e internacionais: a necessidade de priorizar uma aprendizagem que dê mais voz aos estudantes, preparando-os para um mundo cada vez mais conectado.

No cenário almejado, crianças e jovens têm a oportunidade de desenvolver uma série de habilidades para lidar de forma mais crítica e responsável em um cenário de a enxurrada de informações a que estão expostos diariamente. Não apenas como consumidores, mas também como produtores de conteúdo. Assim, identificar fake news, avaliar a intenção das mensagens em qualquer formato de mídia, compreender os bastidores das redes sociais e a ação dos algoritmos, criar e compartilhar materiais criativos e confiáveis para melhorar sua comunidade são algumas das competências desejadas a partir de uma educação próxima da realidade dos próprios estudantes e, portanto, mais significativa.

Sala de aula na escola estadual Eliza Rachel Macedo de Souza, na zona leste da capital
Sala de aula na escola estadual Eliza Rachel Macedo de Souza, na zona leste da capital - Zanone Fraissat/Folhapress

É nesse contexto que tem crescido o debate sobre a importância e a urgência da educação digital e midiática em locais tão diversos como Brasil, Estados Unidos ou Ucrânia. Exemplos de programas desenvolvidos nesses e outros países foram relatados há pouco mais de um mês, em junho, durante um importante evento da área: a conferência anual da Associação Norte-Americana de Educação Midiática (Namle, na sigla em inglês).

Segundo os organizadores, houve um surpreendente crescimento no interesse pelo tema entre a população em geral nos últimos anos. "No entanto, apesar do progresso óbvio, ainda nos encontramos lutando para implementar a educação midiática em nível nacional e global (...) Ainda estamos muito longe de uma mudança sistêmica na educação, uma mudança que priorize a importância da construção de habilidades de alfabetização midiática em todas as disciplinas e faixas etárias."

No Brasil, uma importante oportunidade se abre com a Política Nacional de Educação Digital, aprovada recentemente na Câmara dos Deputados. O projeto de lei, de autoria da deputada Angela Amin (PP-SC), vai além do acesso e uso das tecnologias e incorpora diversos temas caros à educação midiática, como o olhar crítico para consumir e produzir conteúdos e a autoexpressão como forma de participação cívica dos jovens. Durante o debate do projeto, que ainda precisa passar pelo Senado, o Instituto Palavra Aberta trabalhou para que a educação digital tivesse essa abordagem mais ampla, incluindo as reflexões necessárias para o uso responsável, crítico e reflexivo do universo digital.

A conferência da Namle, com apresentações de iniciativas e projetos por quase 100 participantes, deixou claro que a educação midiática é o caminho necessário não apenas para formar jovens aptos a lidar com o ambiente digital, mas principalmente para que entendam o alcance e as consequências do que podem fazer —para o bem ou para o mal. Iniciativas envolvendo escolas, bibliotecas ou mesmo ambientes informais de educação, como centros comunitários, apontaram caminhos diversos pelos quais o letramento da informação pode acontecer. Mas todos com um destino comum: formar uma geração de consumidores e produtores de conteúdo capazes de entender seu importante papel na sociedade conectada, atuando de forma crítica e como responsabilidade.

O grau de educação midiática de uma sociedade é especialmente importante em momentos como este no Brasil, em que dependemos de informações de qualidade para tomar as melhores decisões em uma eleição. Com o projeto #FakeToFora — Quem Vota Se Informa, o EducaMídia também marcou presença na conferência da Namle. Ainda que o projeto tenha sido desenvolvido especificamente para o contexto eleitoral brasileiro, houve o reconhecimento do público de que educação política também demanda educação para as mídias em todos os lugares. É por meio da maneira como nos relacionamos com a informação, em qualquer formato ou dispositivo, que o debate respeitoso e frutífero de ideias acontece, fortalecendo a democracia.

Daniela Machado

Coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

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