Descrição de chapéu Vida Pública

UFRJ tem primeiro candidato negro à reitoria de sua história

Bandeiras da diversidade, como cotas são temas essenciais de campanhas, inclusive para concorrentes

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São Paulo

Entre os dias 25 e 27 de abril, a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) elegerá seu novo reitor. Em 102 anos, pela primeira vez, há uma chapa formada por um homem e uma mulher negros.

Vantuil Pereira, que concorre ao cargo de reitor, é historiador e, atualmente, decano do Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Ele é professor associado da UFRJ para os cursos de graduação e pós-graduação do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos, do qual foi diretor entre 2012 e 2021.

No local, Pereira desenvolveu pesquisas sobre questões raciais no Brasil e políticas públicas. Também foi coordenador do programa de pós-graduação em políticas públicas em direitos humanos da universidade.

O professor Vantuil Pereira é o primeiro candidato negro a concorrer à reitoria da UFRJ em mais de um século de história - Eduardo Anizelli/Folhapress

Ao lado da candidata à vice reitora Katya Gualter ele afirma que o tripé da chapa é democracia, autonomia e diversidade. Ela é professora associada da Escola de Educação Física e Desportos, da qual é diretora desde 2016 e ministra cursos de graduação e pós na UFRJ.

"Diferentes áreas devem alcançar o mesmo patamar de excelência e destaque que as demais na universidade, bem como os corpos diversos: trans, preto, velho."

Gualter se autodeclara como uma mulher preta e atuante na UFRJ há 38 anos. "Não caio de paraquedas na gestão. Tenho dois mandatos como diretora da escola de Educação Física e Desportos da universidade e sempre prezei por uma gestão de escuta, coletiva, horizontalizada. Nunca fiz nada sozinha. Chegamos aqui por um caminho e não precisamos levantar um discurso antirracista, pois nossas trajetórias falam por si. Sabemos quais mecanismos darão espaços de protagonismo à diversidade."

Ela afirma que há outras bandeiras, como combater a privatização ou políticas que privilegiam certos grupos no âmbito universitário.

Os candidatos da chapa destacam ainda a importância do aumento de cotas, a permanência e o fortalecimento do estudantes cotista na universidade e enfatizam a necessidade de uma política integrada na graduação e na pós-graduação para enfrentar a evasão.

A chapa também quer que mais espaços de decisão na UFRJ sejam ocupados por representantes de uma sociedade diversa.

Pereira afirma que, nos últimos dez anos, a universidade tem se transformado. "Há maior presença de pessoas pobres e negras. No entanto, a pós-graduação e, mesmo a graduação, não incorporaram segmentos como pessoas travestis, trans e quilombolas."

"Uma das metas é reformar o conselho universitário, criar um fórum com estudantes e técnicos para que ocorra uma aproximação maior entre todos os grupos", diz Pereira.

As propostas também passam pela melhoria da estrutura física do campus e implantação de novos processos para cuidar da saúde de docentes e estudantes, além da busca por financiamento governamental para manter e ampliar o atendimentos do complexo hospitalar da UFRJ.

No aspecto externo, uma das bandeiras é a defesa da democracia, mantendo a universidade como um espaço crítico, além de buscar reposição orçamentária governamental, que não incorpore política de caráter privatista.

Concorrência também foca a diversidade

Roberto Medronho, professor titular da Faculdade de Medicina e coordenador do Laboratório de Epidemiologia das Doenças Transmissíveis, também concorre ao cargo de reitor da UFRJ com a defesa da inclusão e de temas relacionados à diversidade.

Entre 2011 e 2020, ele dirigiu a faculdade e coordenou o Grupo de Trabalho para enfrentamento à Covid-19 da UFRJ.

Para ele é preciso discutir o racismo estrutural e combatê-lo. Afirma que implantará uma superintendência de políticas raciais. "Sempre fui a favor das cotas. Quando era diretor de medicina ainda não tínhamos as bancas de heteroidentificação, mas denunciamos 86 pessoas que estavam fraudando as cotas."

Medronho se autodeclara como um homem branco que tem o compromisso de enfrentar todos os tipos de preconceito, seja racismo, etarismo, capacitismo, LGBTQIA+fobia, entre outros.

Ele afirma que a evasão de estudantes na UFRJ foi maior durante a pandemia, muitos deles não retornaram, e pontua que o objetivo é dobrar o número de alojamentos oferecidos, fazer convênios com hotéis, pagar aluguéis a preços justos para acomodar os estudantes, e tornar mais acessíveis as atuais acomodações.

"Os prédios da UFRJ são muito antigos. Portanto, é preciso construir alojamentos no primeiro andar para facilitar a acessibilidade", diz.

Fachada de um dos prédios do campus da UFRJ, na Urca, zona sul do Rio - Eduardo Anizelli/Folhapress

Medronho defende uma gestão democrática e plural ouvindo toda a comunidade. "Cresci em um conjunto residencial no bairro da Abolição e a educação pública mudou a nossa vida. Por isso a minha vontade sempre foi retribuir e contribuir para a formação não apenas de técnicos, mas de cidadãos."

Fora da UFRJ, um dos objetivos é a política de divulgação da ciência que salva vidas "e combater o negacionismo que reinou nos últimos anos. Também queremos que os vários artigos publicados gerem patentes e produtos para a sociedade."

Quanto ao complexo hospitalar a chapa promete buscar financiamento para recompor quadro de funcionários e número de leitos.

Cássia Turci, que concorre à vice reitora na chapa com Medronho, é professora titular do Instituto de Química e atuou como diretora da unidade por duas gestões. Atualmente, é decana do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza.

Ela conta que criou o Núcleo de Diversidade do Instituto de Química, órgão que busca discutir questões de gênero, sexualidade e raça dentro da universidade pública.

"Foi um pedido dos estudantes e a ideia é expandir para outros núcleos da UFRJ. Faremos uma gestão inclusiva, com a participação de todos."

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