Educação tem de desafiar alunos, diz ex-secretário do Tesouro dos EUA e ex-reitor de Harvard

Larry Summers afirma não ver universidades como empresas, tanto na busca de lucro quanto na forma de prestação de contas de pesquisadores

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Valência (Espanha)

O economista Larry Summers acumula uma rara posição de prestígio nos debates sobre os rumos de políticas econômicas, de empresas e também no mundo academico. Ex-secretário do Tesouro dos EUA e presidente emérito da Universidade de Harvard, Summers vê uma relação indissociável entre universidades e sua missão de formação e, por outro lado, a resolução de problemas —na esfera pública ou privada.

Ele presidiu Harvard entre 2001 e 2006 e conta que, nessa época, não era raro ouvir relatos de incômodos que alunos sentiam nas aulas da prestigiada instituição.

"Acho que não tinha tato para responder", brinca ele, ao relatar sua resposta provocativa.

"Se você nunca sentir incômodo no seu tempo em Harvard, então sua educação foi um fracasso. Porque educação tem que ser algo que te desafia, incomoda, algo que não tinha pensando antes. Se você quiser se sentir cômodo, sugiro que não venha em uma universidade como a nossa e fique trancado na casa de seus pais", relembrou.

Um senhor de cabelos brancos acena com um telefone em uma das mãos.
Larry Summers foi secretário de Tesouro dos EUA no governo Clinton - Brendan Mcdermid - 8.jul.22/Reuters


Ainda falando sobre os estudantes, Summers diz que insucessos e fracassos são bem-vindos no processo de estudo e pesquisa. "Se não há erros, esse será o maior erro. Não ter insucessos é porque não assumimos desafios de entrar em um caminho novo"

Larry Summers falou no fim da manhã desta quarta-feira (10) no 5º Encontro Internacional de Reitores, em Valência (Espanha), evento promovido pelo Universia, empresa educacional do banco Santander. Sua participação foi uma conversa com a presidente do banco, Ana Botín —o americano preside o conselho consultivo internacional da instituição.

Summers é um formulador de políticas influente, considerado de centro-esquerda. Foi secretário do Tesouro de Bill Clinton e chefe do Conselho Econômico Nacional de Barack Obama.

Aos reitores, não deixou de fora correlações com o mundo econômico e político, mas centrou suas reflexões sobre o meio acadêmico. Summers, de 68 anos, ainda figura como professor, em Harvard, das disciplinas Política Econômica Americana e Economia Política da Globalização.

auditório cheio
Presidente do Santander, Ana Bótin, fala com Larry Summers no 5º Encontro Internacional de Reitores em Valência (Espanha) - Divulgação

O economista ressaltou que não vê as universidades como empresas. Tanto na busca de lucro quanto na prestação de contas de professores e pesquisadores, que podem se dedicar anos para a produção de apenas um livro que se torne influente, por exemplo.

O grande desafio, segundo ele, é que as instituições de ensino e pesquisa consigam ir além das suas fronteiras. "As universidades mais bem-sucedidas, que serão as mais importantes quando a história do século 20 for escrita mais adiante, serão as que deram mais oportunidades para descobrir e divulgar as coisas de uma forma exponencial", disse ele, ao comentar sobre a relação entre universidade e problemas da sociedade.

Um dos exemplos dessa sinergia útil foi com a Covid, disse ele. "Estamos no século onde as ideias são mais importantes do que foram antes. A [pandemia de] Covid-19 foi uma catástrofe mas não tão catastrófica caso tivesse ocorrido há 20 anos. Toda revolução que aconteceu na biologia permitiu que pudéssemos ter uma vacina em menos de um ano. E isso não poderia ter ocorrido sem as universidades".

Falando sobre o mercado de trabalho, Summers disse que as universidades precisam reduzir a brecha entre o mundo acadêmico e empresarial nos próximos anos. "Você não pode ter sucesso se você não prepara seus alunos para o trabalho que vão desempenhar".

O encontro de reitores em Valência ocorreu de segunda (8) até esta quarta, com o tema central Universidade e sociedade. Participaram cerca de 700 reitores de 14 países.

O repórter viajou a convite do Santander

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