Homem armado ameaça professoras da filha por não receber lembrança de Dia dos Pais

Pai de aluna entrou em escola de Ribeirão Preto acusando docentes de doutrinação; à Folha ele disse ser CAC e que só falaria mais por meio de advogado

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São Paulo

O pai de uma aluna entrou armado em uma escola municipal de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo) e ameaçou professoras, a quem acusou de suposta doutrinação e de promover "ideologia de gênero", por não terem preparado lembrancinha em homenagem ao Dia dos Pais.

O empresário disse que queria entender qual é concepção que a escola tem de família por não ter feito um presente para os pais. Ele ainda questionou o motivo de a escola ter encaminhado uma tarefa para casa na qual era debatido o papel da mulher no trabalho, no lazer e na sociedade.

O caso aconteceu na tarde da última quarta-feira (16), e a direção da unidade registrou um boletim de ocorrência contra o pai da aluna por orientação da Secretaria Municipal de Educação.

Placa do 2º Distrito Policial de Ribeirão Preto
Fachada do 2º Distrito Policial de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, responsável pela investigação - Reprodução/EPTV

Segundo o boletim de ocorrência, o homem chegou à escola por volta das 13h e foi até a sala dos professores, onde as docentes estavam almoçando. Ele estava acompanhado da mulher.

O homem é pai de uma aluna do 1º ano do ensino fundamental da unidade e chegou à escola "um pouco alterado", segundo o boletim de ocorrência —a reportagem não divulga o nome dele para preservar a identidade da criança. Ao entrar na sala dos professores, passou a questionar uma atividade que teria sido proposta aos alunos e disse que o conteúdo teria "caráter doutrinador e ideológico".

Em seguida, ainda segundo o registro policial, o homem sacou uma arma, que estava em sua cintura, e apontou para as professoras. Ele ainda disse que, "se elas não estavam ensinando nada errado, não era para ter medo", conforme relatou a direção da escola à polícia.

O homem teria ainda perguntado qual era o material didático usado na escola e quem teria autorizado a utilização dele. As professoras explicaram que os livros fazem parte do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) e foram comprados pelo Ministério da Educação ainda durante a gestão Jair Bolsonaro (PL). Após a explicação, a mulher pediu para que ele guardasse a arma e eles foram embora da unidade, ameaçando retornar no dia seguinte.

A Folha entrou em contato com o pai na manhã desta sexta-feira (18). Ele disse que só iria se manifestar por meio de seu advogado, mas não disse o nome ou o telefone do profissional.

Ele confirmou que estava armado quando entrou na escola e disse que sempre anda com a arma porque trabalha em um comércio. Afirmou ainda que é CAC (caçadores, atiradores e colecionadores) e tem registro da arma.

O decreto de armas, em vigência no país, não permite que CACs circulem livremente com as armas. Elas só podem ser transportadas do local de guarda até o clube de tiro ou de caça.

A equipe da escola enviou uma carta de esclarecimento aos pais, nesta sexta-feira, e disse que esse tipo de atitude é uma "afronta contra toda a comunidade escolar. É uma ameaça contra cada estudante, pai, docente, funcionário e toda a sociedade".

Eles também informaram que as aulas da próxima segunda-feira (21) estão suspensas para que a equipe possa promover um "momento de debate e reflexão" para pensar em estratégias para combater a violência escolar.

Na carta, a equipe também esclarece que a lição de casa, questionada pelo pai da aluna, consistia em uma pesquisa sobre a vida das mulheres no passado. A atividade pedia que os estudantes conversassem com os familiares para "descobrir como era a vida das mulheres da sua família em outras épocas" para que depois contassem aos colegas em sala de aula.

Em nota, a Secretaria de Educação de Ribeirão Preto disse que "repudia quaisquer atos de violência e a ameaça de um pai aos nossos professores, dentro de uma escola, é inaceitável."

A pasta informou que o boletim de ocorrência foi registrado no mesmo dia da ameaça e que o caso será investigado pela Polícia Civil. A Folha tentou contato com o 2º DP de Ribeirão Preto, que é responsável pela investigação, mas não obteve resposta.

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