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Crianças colocam a mão na terra para aprender sustentabilidade

Colégios incluem questões climáticas desde cedo nos currículos, e alunos levam ensinamentos para casa

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São Paulo

Colocar a mão na terra da horta orgânica e ter aulas em um pátio rodeado de árvores é o cotidiano de algumas crianças do ensino básico em São Paulo. Ao longo dos anos, esses alunos aprendem a reciclar materiais e uniformes escolares e, mais perto da formatura, estudam economia circular.

Com projetos pedagógicos ancorados no compromisso com as questões climáticas, colégios como o Espaço Ekoa (aldeia, em guarani) têm iniciativas sustentáveis dentro e fora da sala de aula.

"A roupa do meu filho vem manchada de terra e isso é extremamente positivo", afirma a arquiteta Esther Zanquetta, mãe de Augusto, 6, aluno do Ekoa, localizado no Butantã (zona oeste de SP). Ela credita ao contato que o filho tem com a natureza a melhora no seu sono e uma baixa na ansiedade.

Três alunos do Espaço Ekoa, na zona oeste de SP, mexem em composteira
Alunos do Espaço Ekoa, na zona oeste de SP, mexem em composteira - Lucas Seixas - 01.set.23/Folhapress

De acordo com o consultor curricular da instituição, Edson Grandisoli, introduzir atividades que envolvam o sentimento de cuidado e responsabilidade, além de gerar consciência ambiental, ressignifica as relações. "O que os alunos precisam é de experiências que efetivamente os levem a compreender por que é tão importante destinar o lixo de maneira correta ou por que se deve usar de maneira adequada recursos comuns a todos como a água."

Biólogo por formação, Edson é um dos diretores do projeto Reconectta, empresa de consultoria para iniciativas sustentáveis em escolas. Além do Ekoa, a iniciativa atende 24 escolas, 10 públicas e 14 particulares. O programa inclui a formação de comitês nas escolas com representantes de funcionários, administração, professores e alunos.

A entidade criou ainda o Movimento Escolas pelo Clima, que oferece capacitação em educação climática para 650 escolas do Brasil.

Diretora da unidade do Itaim Bibi da Escola Bilíngue Pueri Domus, Ana Cristina Gonzaga decidiu adotar atitudes sustentáveis em casa há quase 30 anos, por iniciativa de Mariana de Paula, sua filha, na época com três anos, que começava a aprender sobre descarte consciente na escola.

"Nossos filhos nos educam", diz Ana Cristina. "Na minha escola, não tive isso. Agora, cada vez mais, os alunos trazem esse tipo de preocupação para dentro de casa."

O Pueri Domus é associado à Unesco por meio do Projeto da Rede de Escolas Associadas, o PEA, que reúne mais de 12 mil instituições ao redor do mundo, comprometidas a introduzir valores e ideais humanitários na educação, o que inclui a sustentabilidade.

No colégio paulistano, por exemplo, os alunos aprendem modelos circulares de economia em uma disciplina chamada de "excessos".

A diretora destaca a reciclagem de mochilas, lápis e cadernos que sobram no final do ano escolar, além de uniformes.

Segundo a assistente de atividades extracurriculares da escola, Lígia Batistel, algumas das roupas que não servem mais vão para uma feira de troca, e outros alunos levam aquelas em melhor estado. Outras são customizadas pelas crianças com pedaços de pano, fitas e retalhos, tendo pessoas em vulnerabilidade social como destino.

"Não existe outra forma de educar o jovem que não seja com esse olhar", afirma Lígia.

Foi esse olhar que a aluna Isabela, 16, trouxe de uma viagem para o Quênia. Parte do programa Do Pueri ao Mundo, a visita ocorreu em julho deste ano. Os estudantes realizaram uma espécie de trabalho de campo sobre desenvolvimento sustentável em comunidades locais.

De acordo com a diretora da escola, a cada ano a viagem tem um propósito, escolhido pela equipe pedagógica. Ana Cristina afirma que o intuito da viagem ao país africano era conhecer o trabalho de produtores de alimentos, como a spirulina.

"Pude me inspirar em práticas que não são tecnológicas e muito possíveis de se realizar", diz Isabela, que está no segundo ano do ensino médio. "Voltei de lá compreendendo que, se cada um fizer um pouco, podemos salvar o planeta e interromper um ciclo de autodestruição da sociedade."

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