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Alunos que fizeram uso moderado de aparelhos digitais na pandemia tiveram notas melhores no Pisa

Exame aponta que utilização excessiva do equipamento tira a atenção dos estudantes e faz as notas caírem

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São Paulo

O temor da contaminação pelo coronavírus provocou o fechamento das escolas mundo afora durante a pandemia de Covid-19, o que acabou atrasando o aprendizado dos estudantes. A forma encontrada para retomar o ensino foram as aulas remotas, com uso de aparelhos digitais, como celulares, tablets e computadores, que passaram a fazer parte da vida dos alunos a partir de então.

O resultado alcançado, porém, não teve o êxito que se esperava, segundo o Pisa 2022 (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, na sigla em inglês), da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Pesquisa realizada com os estudantes de 15 anos que realizaram a prova identificou problemas no aprendizado em grande parte dos que utilizaram tais equipamentos, devido à distração durante o uso ou observando colegas usando, além de mais tempo para o professor iniciar a aula ou até entender o que o professor falava durante a explicação.

Aluno olha para tela de celular durante uma aula
A pesquisa do Pisa 2022 mostra que se o celular for usado de forma moderada para fins pedagógicos o desempenho escolar tende a ser melhor - Silvio Turra - 31.jan.23/Seed-PR - Divulgação

O único público que teve melhores resultados com tais equipamentos foi aquele que fez uso moderado e unicamente com intenção pedagógica, sem se distrair com jogos ou redes sociais, apontou o relatório do Pisa.

De acordo com o levantamento, os alunos que passam até uma hora por dia em dispositivos digitais para atividades de aprendizado na escola tiveram uma pontuação 24 pontos mais alta em matemática do que os alunos que não passam tempo em tais aparelhos, em média nos países da OCDE. Mesmo após levar em consideração o perfil socioeconômico dos alunos e das escolas, o primeiro grupo teve um resultado 14 pontos mais alto.

"Essas descobertas sugerem que o uso moderado de dispositivos digitais não é intrinsecamente prejudicial e pode até estar positivamente associado ao desempenho. Os resultados do Pisa 2022 confirmam a necessidade de diretrizes melhores sobre como usar dispositivos digitais na escola", ressalta o texto.

Fabio Senne, coordenador de pesquisas TIC no Comitê Gestor da Internet no Brasil, aponta que o resumo executivo da OCDE destacou dois pontos importantes para se avaliar: associou o uso excessivo de tecnologia com o pior desempenho, mas também o uso moderado com desempenho melhor do que aqueles que não usam nada. "Então, depende muito da qualidade do uso. Ainda não é definitivo afirmar que o uso desses dispositivos melhora ou piora o ensino", diz.

Quando as aulas presenciais voltaram, os celulares passaram a fazer parte do dia a dia das crianças, criando outro problema, agora, nas escolas. No relatório, o Pisa destacou que as escolas que não criaram regras precisas para o uso dos aparelhos digitais e formas de cumpri-las encontraram mais dificuldade para controlar os estudantes e fazer as aulas renderem.

"Quando as declarações ou regras escritas de uma escola são muito gerais, imprecisas ou permissivas, é improvável que beneficiem o ensino e a aprendizagem com dispositivos digitais. As escolas e os professores também precisam de tempo e capacidade para aplicar tais regras", ponta o texto.

No Brasil, segundo a pesquisa, 45% dos estudantes afirmaram se distrair usando dispositivos digitais durante as aulas (a média da OCDE é 30%) e 40%, com outros estudantes que estão usando seus aparelhos (média da OCDE de 25%). Em média, nos países da OCDE, os estudantes demonstraram menos probabilidade de relatar distração ao usar dispositivos digitais quando o uso de celulares nas instalações escolares é proibido.

"Depender dos celulares dos alunos na escola aumenta o risco de os alunos os usarem em sala de aula para atividades não educacionais ou se distraírem com notificações. Os alunos parecem estar menos distraídos quando desligam as notificações das redes sociais e aplicativos em seus dispositivos digitais durante a aula, quando não têm seus dispositivos digitais abertos em sala de aula para fazer anotações ou buscar informações, e quando não se sentem pressionados a estar online e responder mensagens enquanto estão em aula", diz o relatório.

No entanto, destaca o Pisa, mesmo nessas escolas onde há proibição uma grande parte dos alunos mantém a rotina de usar o celular. Em média, em países da OCDE, 30% dos alunos em escolas onde o uso de celulares é proibido relataram usar um smartphone várias vezes ao dia, e 21% disseram usar um todos os dias ou quase todos os dias na escola.

"Esses dados mostram que as proibições de celulares nem sempre são aplicadas de forma eficaz. Os resultados do Pisa 2022 também mostram que, em alguns países, quando os celulares são proibidos em suas escolas, os alunos têm menos probabilidade de desligar as notificações de redes sociais e aplicativos em seus dispositivos digitais ao dormir à noite. Essa descoberta sugere que os alunos em escolas com proibições podem não ter oportunidades adequadas para desenvolver estratégias autodirigidas para usar celulares", finaliza o relatório.

"O maior desafio é saber incorporar essa tecnologia na aprendizagem, fazer a discussão do uso excessivo e o mediado por atividades específicas", concorda Senne. "No Brasil ainda existe a exclusão digital, pela quantidade de escolas com conectividade precária, que impacta o tipo de atividade que o professor consegue fazer, além de alunos sem condições de comprar os aparelhos e o professor precisando levar o próprio dispositivo", alerta.

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