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Pisa mostra efeitos da pandemia, mas marasmo da educação no Brasil é persistente

Avaliação internacional evidencia tamanho do desafio de aprendizado do país

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Paulo Saldaña
Paulo Saldaña

Repórter de educação da Folha de S.Paulo em Brasília. É fundador e um diretores da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação).

Brasília

O Pisa é realizado há duas décadas, mas nunca uma edição da principal prova internacional de aprendizado foi tão importante quanto a divulgada nesta terça-feira (5). Isso por causa da pandemia, que fechou escolas em todo mundo e provocou impactos também de modo generalizado.

O efeito desse período é visto na queda "sem precedentes" das notas da maioria dos países, como ressaltado na divulgação da edição aplicada em 2022 em 81 nações ou territórios. O Pisa é produzido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) a cada três anos —a pandemia causou atraso e a prova que seria feita em 2021 só ocorreu no ano passado.

A média dos países ricos, membros da OCDE, caiu nas três áreas avaliadas (matemática, leitura e ciências). Os organizadores apontam o fechamento das escolas como um dos motivos, embora não seja o único.

Família estuda em casa. mãe esta com um bebe no colo e há outros três jovens em uma mesa, na sala da casa
Cena do documentário 'Desconectados', da Folha, que trata a educação na pandemia - Pedro Ladeira/Folhapress

O Brasil foi um dos recordistas de tempo com escolas fechadas no mundo. Foram quase dois anos letivos sem aulas presenciais, e uma oferta deficiente de estudos de forma remota, sobretudo para os mais pobres.

As notas do Brasil no Pisa 2022 também caíram com relação à edição de 2018. A maior perda foi em matemática, com uma redução de 5 pontos na média.

Por outro lado, o país até que melhorou sua posição no ranking. Passou de 71º para 65º em matemática, de 57º para 52º em leitura e foi de 64º para 62º em ciências.

Embora pequena, essa variação merece um porém: mais países e territórios participaram da avaliação em 2022. Manter-se praticamente no mesmo patamar não foi algo trivial.

Mas o problema é que, além da queda geral dos outros países, a evolução das médias do país ao longo dos anos demonstra uma estagnação persistente.

Levando em conta a nota de matemática de 2022, a média dos países da OCDE é 93 pontos superior à do Brasil (472 contra 379). É como se os estudantes de países ricos chegassem aos 15 anos com o equivalente a quase cinco anos a mais de aprendizado na área. E isso já levando em conta a queda de 15 pontos na média da OCDE.

Se não escandaloso, o cenário evidencia um marasmo de urgência que não tem encontrado ações estatais à altura. De 2000 a 2012, a média brasileira em matemática teve evolução, mas depois empacou.

A ausência do MEC (Ministério da Educação) no governo Jair Bolsonaro (PL) na coordenação das respostas durante a pandemia foi emblemática. Se não fosse pelos esforços de municípios e estados, e também das próprias famílias, os resultados brasileiros seriam ainda mais preocupantes.

Ao longo dessas últimas duas décadas de existência do Pisa, o Brasil ainda tem feito uma lição de casa em termos de consolidação do sistema educacional que países ricos superaram há tempos.

Em 2012, por exemplo, quase metade de todos os jovens de 19 anos ainda não havia concluído o ensino médio. Hoje, o montante de jovens dessa faixa etária sem ensino médio concluído é, na média, de 30,6% (dados de 2020).

Somente em 2008, duas décadas após a promulgação da Constituição Cidadã, o país alcançou uma taxa líquida de matrículas no ensino fundamental de 95%. O índice era de 84% em 1991.

Como aqueles que estão fora da escola são, em geral, os mais pobres, a escola tem representado de modo mais fiel a sociedade brasileira. O que significa mais alunos pobres nas salas de aulas e também maiores desafios para aprendizagem.

Na divulgação do primeiro Pisa, em 2000, o então ministro da educação, Paulo Renato Souza (1945-2011), publicou texto na Folha em que falava nestes termos: "O sistema educacional brasileiro não opera no vácuo, ele é reflexo direto da situação social brasileira".

Só mais recentemente é que questões centrais para o sucesso escolar, como o tamanho da jornada e a busca por equidade, têm entrado no cerne de políticas públicas mais estruturantes. Mas ainda falta uma necessária continuidade de iniciativas.

O Brasil tem um dos maiores sistemas de ensino do mundo, com 47 milhões de alunos. Desses, 81% estão em 137 mil escolas públicas. Um gigantismo que também não pode ser ignorado.

No Brasil, 10.798 alunos, de 599 escolas, completaram a avaliação do Pisa 2022, representando cerca de 2,2 milhões estudantes de 15 anos (estima-se que 76% da população total de jovens da idade). Como comparação, os Estados Unidos participaram com 4.552 alunos, que representam 86% da população da faixa etária.

Como ocorreu em anos anteriores, os dados do Pisa denunciam o tamanho do desafio de aprendizado do país. Agora, resta saber como —e se— haverá uma reação efetiva após todos os impactos trazidos pela pandemia.

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