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O dever do voto e o direito à informação

Avalanche de informações às vésperas da eleição desafia nosso senso crítico e demanda mais reflexão

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Daniela Machado

Coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

No início de 2020, enquanto a Covid-19 espalhava-se pelo mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez dois alertas importantes: um sobre a pandemia em si e outro sobre o que chamou de "infodemia". Com esse termo, chamava a atenção global para a superabundância de informações, num cenário em que dados confiáveis conviviam com conteúdos falsos, fora de contexto e com potencial de prejudicar o enfrentamento da doença.

Às vésperas de mais uma eleição, vivemos no Brasil desafios semelhantes.

Ilustração colorida mostra homem branco de roupa azul e cabelo marrom em pequena escala com um ponto de interrogação branco perto da Cabeça. Ele está de frente para uma grande tela de celular de onde parece sair um homem de camisa branca e gravata escura. Fundo é em dois tons de amarelo mostarda.
Ilustração de David Michelsohn, do Projeto Comprova - David Michelsohn/Projeto Comprova/Divulgação

Reportagens sobre os candidatos preparadas por jornalistas profissionais, informações geradas e distribuídas pelos próprios políticos e seus partidos por meio de redes sociais e aplicativos de mensagem, uma infinidade de opiniões de especialistas mas também de quem fala sem qualquer conhecimento, vídeos e áudios construídos por ferramentas de inteligência artificial com a intenção de divertir ou mesmo de enganar… O ecossistema informacional expandiu-se significativamente nas últimas décadas, deixando para trás o período em que boa parte da comunicação eleitoral passava pelos programas obrigatórios em rádio e TV.

Não há dúvidas de que ter acesso a mais informações é algo positivo. Mas esse ambiente exige de todos nós um olhar mais crítico para consumir e produzir qualquer tipo de conteúdo.

Reconhecer que há problemas que precisam ser enfrentados é um passo relevante na busca por um ambiente informacional mais íntegro, que sirva de base para a tomada consciente e autônoma de decisões. Nesse sentido, a sociedade brasileira parece estar caminhando bem —uma pesquisa recente do Instituto DataSenado mostrou que 81% da população acha que informações falsas podem afetar o resultado das eleições, enquanto 72% das pessoas acreditam já ter recebido conteúdo falso nos últimos seis meses.

Mas ainda há muito a avançar até que todos tenham o letramento necessário para, habitualmente, ler o mundo de forma mais reflexiva, analisando fontes, contexto e intenção das informações que acessamos. A mesma pesquisa apontou que metade dos brasileiros considera difícil identificar se uma informação acessada na internet é confiável ou não.

Durante a campanha eleitoral, algumas perguntas ajudam a dar sentido às mensagens que circulam pelos mais diversos canais: quem concebeu essa mensagem e com qual propósito? Quem pode se beneficiar com determinada informação ou, por outro lado, ser prejudicado por ela? Qual a fonte e quem me enviou essa mensagem? Como ela chegou até mim? Em que outros canais ou veículos de comunicação eu posso encontrar informações sobre o mesmo tema? Se estou diante de uma denúncia grave, há evidências que sustentam a acusação que está sendo feita? O conteúdo tenta ativar meus medos e preconceitos como estratégia de engajamento?

Construir tais habilidades pode parecer difícil, mas é uma prática fundamental que precisa ser incorporada em nosso dia a dia se quisermos aproveitar o que o cenário de superabundância de informações pode nos oferecer de melhor, minimizando os riscos a que estamos sujeitos e preservando a liberdade de expressão.

Ainda que a tarefa de garantir a integridade da informação durante as eleições seja coletiva (e envolva a Justiça Eleitoral, as plataformas de redes sociais, a imprensa e outros atores), cada um de nós tem muito a ganhar ao adotar uma postura mais responsável diante de tudo o que lemos, assistimos ou ouvimos.

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