Descrição de chapéu

Impacto de terno e gravata ou de tailleur e salto: novos valores na condução dos negócios

Nossos produtos darão lugar a propósitos em mudança impulsionada pelos millenials

Ricardo Podval

A primeira pergunta que me veio à cabeça quando pensei no título "impacto de terno e gravata" foi: por que não "impacto de saia"?

Diversidade, inclusão são tópicos mais que relevantes entre os 17 ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU. Tão discutidos em palestras, seminários, foros econômicos, eles continuam sendo um desafio em nossa sociedade.

Nossas mulheres empreendedoras, Luiza Helena Trajano, Patricia Marino, Cristiana Palmaka, Alcione Albanesi, Michelle Fernandes e milhares de outras líderes de impacto têm uma visão e atitude cívico-social muito mais aguçadas que nós homens, nem por isso têm um lugar de maior destaque no mundo executivo.

O ponto aqui não é discutir gênero ou raça e sim o propósito por trás das grandes marcas e o papel de seus altos executivos. Somos uma das dez maiores economias do mundo, um país abençoado por "Deus e bonito por natureza," na voz de Jorge Benjor, mas ao mesmo tempo uma dos nações mais desiguais do mundo!

Perdemos a mão, e não é de hoje (há mais de 500 anos!), com uma colonização feita a partir da exploração, povoamento e extermínio.  Também não adianta colocar a culpa no Estado, temos feito isso por gerações enquanto nosso país sangra em em miséria e pobreza.

E o que temos a ver com isso? Qual é a nossa responsabilidade como cidadão, nossa responsabilidade cívica?

Como líderes de empresas, temos a responsabilidade de sermos exemplos, inspirar e ensinar. De transformar uma relação comercial, baseada até pouco tempo no lucro pelo lucro, em uma relação baseada em propósito e valores. Entender que o resultado financeiro virá por meio deste novo modelo de negociação. Nossos produtos darão lugar a propósitos, assumindo aí uma posição de coadjuvante.

E isso deve acontecer rapidamente impulsionados por esta nova geração de millennials: jovens que não sabem o que é globalização, pois já nasceram em um mundo globalizado. Eles tampouco estão habituados à posse, pois influenciados pelas novas tecnologias, como Uber, Airbnb, YouTube, Spotify, já cresceram em um ambiente compartilhado. De pertencer e não de ter. De colaboração e não de exclusão.

Uma geração em busca da liberdade de ir e vir, que busca modelos de trabalhos e de estudo disruptivos e colaborativos. Fazendo valer o direito ao pertencimento, da utilização dos espaços público de forma consciente e respeitosa, que por séculos foram desprezados e esquecidos por nós e por nossos políticos. 

Jovens que deixaram de consumir de empresas que não geram propósito, que não desenvolvem uma relação genuína com a sociedade e com seus consumidores.
Jovens que farão as empresas reverem seus valores e seus modelos de negócios caso queiram sobreviver.

Jovens que querem construir um Brasil melhor, mais justo, inclusivo e empático. Sim um Brasil mais Civi-Co!

Chegou a hora de afrouxarmos nossas gravatas, tirarmos nossos saltos e aproximarmos da sociedade como cidadãos, ressignificar nossos valores e entender nosso legado. O que queremos deixar? Nossos empregos fazem sentido só para nós ou para o mundo? Nossas áreas de responsabilidade cívico- social continuam escondidas no fundo de uma salinha, no canto de um RH, sem voz e sem sentido algum em nossas organizações? Ou são discutidas em reuniões de boards com a mesma ênfase de investimentos em P&D? Vamos continuar a fazer assistencialismo por obrigação ou vamos rever nossos projetos e atuar gerando impacto socioambiental consciente?  

A caneta e o poder decisório estão em nossas mãos. Ou criamos um Brasil mais inclusivo ou nosso modelo está fadado a colapsar.

Qual será o nosso legado como líderes? Como cidadãos? O que queremos deixar para o mundo? O que queremos construir para as novas gerações?

Ricardo Podval

Diretor-presidente e fundador do Civi-Co, parceiro do Prêmio Empreendedor Social

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