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Fábio Kestenbaum

A crise por trás da crise

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Fábio Kestenbaum

irrefutável que a sociedade não será a mesma daqui em diante e, sendo assim, novos paradigmas haverão de emergir.

Uma das lições fundamentais dessa crise é o fato de que governos têm o poder de regular a economia caso decidam fazê-lo. A questão é se a sociedade exigirá maior intervenção estatal para resguardar seus interesses ou, cessando a epidemia, a desregulamentação dos mercados voltará à condição de axioma inegociável do pacto político-econômico.

Junto com o resgate aos bancos durante a crise de 2008, os pacotes de incentivos aprovados a toque de caixa pelos governos a fim de evitar o colapso sanitário e econômico em face ao caos, certamente suscitarão um debate acalorado entre deixar ser e intervir.

É cada vez mais evidente que os mercados, sem o devido amparo de governos e sociedade, não merecem o ônus de conjecturar solitariamente sobre os rumos da humanidade.

Sendo esse o caso, indivíduos e governos serão convocados a subverter vícios de mercado e alicerçar condutas que visem, com a devida isonomia, reconciliar os interesses da sociedade com os preceitos da boa economia. Só assim perecerá a falsa dicotomia entre o desenvolvimento econômico e a supressão das injustiças sociais.

Outra lição de suma importância reside no imperativo de frearmos de uma vez por todas a ascensão do nacionalismo e o abandono da ciência como ventre das nossas decisões. Devemos nos abster do patriotismo exacerbado e pugnar contra as platitudes de ocasião. O plural precisa estar acima do singular, sempre. A verdade –inconveniente para muitos– é que um vírus ou a temperatura do planeta não se importam com muros, fronteiras, nacionalidades ou as idiossincrasias e quixotices de certos governantes. Da mesma forma que o plural deve superar o singular, a ciência deve silenciar a mentira.

É inevitável falhar na tentativa de não pensar em um futuro taciturno quando não é o amanhã que nos aterroriza, mas sim o peso insustentável de um presente inesperado. Ocorre que tudo pode, ainda, piorar.

Entre inúmeras dúvidas, uma única certeza reside intacta, a de que se não nos submetermos aos limites da ciência e da ética, inclusive os que versam sobre a nossa relação com a natureza, estaremos todos condenados às mais diversas desventuras, e esta epidemia terá sido apenas um prenúncio.

Fábio Kestenbaum

Pós-graduado em desenvolvimento econômico pela Universidade de Oxford, é sócio-fundador da Positive Ventures.

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