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'É muito tocante a manutenção de respiradores', ação que salvou vidas como a minha

Paciente usou equipamento recuperado pela iniciativa do Senai e parceiros, premiado na Categoria Mitigação da Covid-19 no Empreendedor Social do Ano

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Maysa Provedello
São Paulo

O fotógrafo e cinegrafista Edgar das Neves, 51, visitou um dos pólos de manutenção de respiradores para agradecer aos engenheiros e técnicos voluntários que trabalharam na recuperação dos equipamentos vitais para o tratamento de casos graves de Covid-19.

Era o caso dele. A iniciativa foi premiada na categoria Mitigação da Covid-19 do Empreendedor Social do Ano. A seguir, o depoimento de Edgar à Folha sobre o significado maior da ação.

*

“Foi numa festa de boas-vindas para um amigo que mora há muitos anos nos Estados Unidos que fui contaminado pelo coronavírus. Vivo em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul e, naquela época, meados de março, posso dizer que a Covid-19 era algo muito distante para nós, quase uma lenda.

Foram pelo menos 20 pessoas contaminadas depois da festa, dois em estado mais grave, eu e outro colega. Era tão improvável ser Covid que eu tinha quase certeza que estava em minha quarta vez com dengue, já que os sintomas eram muito parecidos com o que eu já tinha sentido no passado.

Meu corpo doía, tinha febre e diarreia. Foi quando vi que minha mulher e filhas também estavam com alguns sintomas que percebi que tinha algo errado.

Fui então pela primeira vez até a UPA da minha região. Fui examinado e me mandaram para casa, com recomendação de tomar dipirona e esperar para ver como a coisa evoluía. Alguns dias depois, piorei muito e tinha grande dificuldade para respirar. Era horrível, dava medo.

O fotógrafo e cinegrafista Edgar das Neves, 51, visitou um dos pólos de manutenção de respiradores para agradecer aos engenheiros e técnicos voluntários
O fotógrafo e cinegrafista Edgar das Neves, 51, visitou um dos pólos de manutenção de respiradores para agradecer aos engenheiros e técnicos voluntários - Arquivo pessoal

Eu me lembro que o médico me disse, depois de dois dias tentando confirmar se era ou não a doença, que iria me intubar. Eu falei na hora pra ele que não, que isso era perigoso, sentia que podia não voltar mais.

Ele me explicou que seria necessário para que eu pudesse me recuperar e, depois disso, pouco me lembro. Minha memória voltou 22 dias depois, quando acordei do coma.

Foi muito estranho, os médicos fizeram uma traqueostomia em mim e tudo era muito difícil. Fiquei mais uns dez dias na enfermaria, período em que fecharam a traqueostomia. Vi que embora o pior já tivesse passado, ainda tinha muitos obstáculos à minha frente.

Perdi 25 kg e muita massa muscular. Tive que fazer sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e reaprender as coisas mais básicas do cotidiano, inclusive andar. Eu simplesmente não parava em pé.

Foi um momento difícil também porque tudo tinha um custo e eu estava sem trabalhar todo esse período, já que sou autônomo. Foram quatro meses intensos de recuperação e ainda tenho uma sequela, que é um mal-estar no estômago que insiste em não passar de vez, mas já melhorei uns 70%, acredito.

Já até voltei a trabalhar recentemente em uma campanha política no estado. Neste trabalho eu me senti um pouco triste, pois via aglomerações imensas e um total descaso com a doença.

Quando estava na enfermaria me recuperando do período na UTI, me contaram que eu usei um dos respiradores mecânicos que estavam inoperantes no hospital, e que tinham sido recuperados por voluntários do + Manutenção de Respiradores, coordenado pelo Senai.

Foi muito impressionante saber disso, passou um filme na minha vida. Não é fácil saber que se não fosse alguém ter resolvido montar uma coisa dessas, eu estaria morto, pois na cidade não havia máquinas suficientes para todos.

Foi então que, já recuperado, fui convidado a visitar o ponto onde o pessoal estava trabalhando, um caminhão baú que virou laboratório. Foi muito emocionante para mim. É muito tocante ver aquelas pessoas se envolveram tanto nessa ação, que salvou vidas como a minha.”

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