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'Participei de movimento de solidariedade que salvou a vida de meu pai', diz ongueira da Baixada Fluminense

Fundadora da ONG Mundo Novo contou com parceria e ajuda do braço carioca do movimento União BR, premiado na categoria Ajuda Humanitária do Empreendedor Social

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São Paulo

Aos 16 anos, ela fundou uma ONG na sala da casa dos pais, no bairro de Mesquita, na Baixada Fluminense. Aos 34, Bianca Simãozinho fez do já consolidado Instituto Mundo Novo uma referência em ajuda humanitária na localidade durante a pandemia.

A sede da entidade na comunidade da Chatuba virou uma central de distribuição de cestas básicas e kits de higiene para as 5.000 famílias cadastradas.

“Não fechamos as portas. Passamos a fazer atendimento direto à população graças à força-tarefa da equipe e doações da União Rio”, relata Bianca, frente ao desafio de atender aos mais vulneráveis em uma região de alta vulnerabilidade social.

Para cumprir a missão da ONG na crise sanitária, a assistente social contou com a parceria do braço carioca do movimento União BR, presente em 22 estados, uma das iniciativas premiadas no Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19.

No auge da pandemia, a ONG da Baixada Fluminense era uma das 78 organizações selecionadas pela União Rio para atuar na ponta e fazer chegar rapidamente ajuda a quem mais precisava. “Na nossa comunidade, a fome chegou antes do coronavírus”, explica Bianca.

Bianca Simãozinho fez do já consolidado Instituto Mundo Novo uma referência em ajuda humanitária na localidade durante a pandemia
Bianca Simãozinho fez do já consolidado Instituto Mundo Novo uma referência em ajuda humanitária na localidade durante a pandemia - Arquivo pessoal

Com o mundo sob ameaça da Covid-19 e os protocolos de distanciamento social, os impactos econômicos e sociais da pandemia fizeram o foco da instituição mudar.

A prioridade da Novo Mundo deixou de ser temporariamente os programas de educação infantil e complementação escolar para 202 crianças. “Fizemos um cadastro e chegamos às famílias que precisam de apoio emergencial”, relata Bianca.

Aos 19 anos, ela ganhou o prêmio FazDiferença, do jornal “O Globo”. “Sempre sonhei em transformar a vida de crianças e adolescentes da Baixada Fluminense pela educação”, diz ela.

Estudante de escola pública, a assistente social com MBA para gerenciamento de projeto e gestão em economia criativa arregaçou as mangas na frente de segurança alimentar.

Na pandemia, o instituto priorizou a primeira infância, famílias que não recebiam ajuda emergencial do governo ou estavam de fora do Bolsa Família.

“Moradores que já passavam dificuldades e que perderam a possibilidade de ter qualquer renda por causa do isolamento com a chegada do coronavírus ao Brasil”, lembra a assistente social.

Entre as 250 pessoas que batiam as portas da ONG diariamente, estavam também diaristas e pedreiros que se viram sem renda. “Trabalhadores que sofreram muito nessa crise.”

A Mundo Novo recebia e repassava 300 cestas básicas por dia, dando capilaridade ao União Rio, que atuou em duas frentes: combate à fome e fortalecimento do SUS.

Com mais de R$ 70 milhões arrecadados, além de distribuir milhares de toneladas de alimentos e material de limpeza, o movimento carioca promoveu a ativação de 430 de leitos, de UTI e enfermaria, reforma de 128 consultórios médicos, e doação de 1 milhão de EPIs para profissionais na linha de frente no Rio de Janeiro.

Enquanto socorria a comunidade da Chatuba, Bianca sofreu na pele o impacto da Covid-19 em sua família. Seu pai, balconista de uma farmácia do bairro, foi infectado pelo novo coronavírus.

“Quando ele chegou ao polo de atendimento em Mesquita, estava com 90% do pulmão comprometido”, relata a filha.

Bianca pediu ajuda a Pedro Werneck, do Instituto da Criança, e a Luiza Serpa, do Instituto Phi, dois dos mais ativos membros do União Rio, com quem mantinha contatos na frente de ajuda humanitária.

“Meu pai não tem plano de saúde e a UPA da região não ia ter condições de atender o caso dele naquela gravidade.”

Em 19 de maio, o pai de Bianca era internado no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conhecido como Hospital do Fundão.

Ficou lá por 35 dias, 13 deles entubado, em uma ala para Covid-19, totalmente reformada pelo União Rio. Em 19 de junho, o paciente ganhou de presente de aniversário de 62 anos uma chamada de vídeo com os familiares.

“A equipe médica foi maravilhosa. O caso do meu pai é um verdadeiro milagre. Não havia muita esperança quando ele chegou lá”, relata Bianca.

Bianca Simãozinho fez do já consolidado Instituto Mundo Novo uma referência em ajuda humanitária na localidade durante a pandemia
Bianca Simãozinho fez do já consolidado Instituto Mundo Novo uma referência em ajuda humanitária na localidade durante a pandemia - Arquivo pessoal

No hospital reformado, era possível fazer tomografia e havia os equipamentos necessários para o trabalho de uma equipe multidisciplinar contra um vírus letal e ainda desconhecido.

Bianca expressou sua gratidão aos parceiros do União Rio. “Eu me emocionei quando ela disse que só conseguiu comemorar o Dia dos Pais por ter contado com um leito de hospital reformado, graças à nossa mobilização”, afirma Marcella Monteiro de Barros Coelho, uma das fundadoras do movimento.

Ao ouvir o relato, todo o comitê de crise do União Rio se emocionou e teve a certeza de que estava cumprindo o propósito do movimento: preservar vidas.

O trabalho de Bianca e a recuperação do pai da assistente social tangibilizam o impacto da liga de rede voluntária de solidariedade que nasceu em março.

“A União Rio salvou a vida do meu pai. Eu tenho orgulho de fazer parte desse movimento. O mais lindo e transparente que participei”, afirma Bianca.

A diferença, segundo ela, foram lideranças que olham para o outro com empatia. “Sem isso não seria possível fazer o trabalho que a gente fez e chegar aos mais pobres e a quem mais precisa”.​

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