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Uma mulher dona de si é empreendedora de si mesma

Quando uma mulher se torna uma profissional que transparece seu propósito de vida, ela é, automaticamente, mais valiosa

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Suzana Pires

Empresária e fundadora do Instituto Dona De Si, busca acelerar talentos femininos. Foi a primeira atriz também autora de novela do Brasil e a primeira profissional latina a se formar em showrunner na MediaXchange, em Los Angeles

Muitas pessoas ainda me olham torto e têm dificuldade de entender quando eu digo que, nós, mulheres, precisamos nos tornar empreendedoras de nós mesmas. Quando falo e incentivo o empreendedorismo, não me refiro apenas às mulheres que possuem o próprio negócio, mas a todas que estão interessadas em construir uma vida própria, a partir das suas vontades, escolhas, talentos e objetivos.

Ser empreendedora de si mesma é trabalhar e investir seu tempo em algo alinhado com o seu propósito de vida. É conhecer a si mesma, enxergar o que precisa ser feito para chegar onde se deseja. É, acima de tudo, respeitar a si mesma.

Sei que nem sempre é fácil visualizar e definir um propósito de vida. Algo tão grandioso tende a não ser simples, mas é. Quanto mais você investir em se conhecer, se ouvir, mais fácil será encontrar seu propósito, aquele motivo maior de acordar.

No entanto, colocá-lo em ação é a parte complexa, pois requer um processo de amadurecimento da sua autoconfiança, e digo isso por experiência própria.

Comecei a trabalhar como atriz ainda muito nova, aos 15 anos, e costumava aceitar diferentes personagens e praticamente tudo o que aparecia, até os meus 25 anos. E nesse primeiro capítulo da minha construção de vida, eu me joguei na experiência.

mulher veste preto e sorri com nome do instituto dona de si atrás
Criado em 2018, instituto acelera talentos femininos para o mercado de trabalho - Divulgação/Instituto Dona De Si

Após dez anos de estudar e fazer, me deparei com dois questionamentos importantes: o que eu realmente queria da minha vida e qual o impacto que eu desejava causar no mundo?

Essas duas perguntas me fizeram refletir profundamente, e, dia após dia, tatear as respostas: queria que minha vida tivesse autoralidade, originalidade e ineditismo; desejava impactar pessoas mudando seu estado emocional para algo positivo.

A partir do momento em que essas duas direções ficaram bem definidas, tive meu primeiro parâmetro “autoral” (só meu) de aceitar ou recusar algum trabalho. E ganhei também a consciência de que, para essa construção, a “produtora” deveria se juntar à “atriz e autora” que já habitavam meu corpo.

Sem empreender em mim mesma, eu jamais teria conseguido construir uma carreira e uma história de vida minha, com DNA próprio e inspiradora. Mas aqui não são minhas vitórias ou fracassos nesse percurso que importam, mas, sim, o quanto essa mentalidade pode ser utilizada em todas as áreas de atuação, não só na artística.

Não quero e não vou ser hipócrita de afirmar que todas nós temos o privilégio de escolher com o que vamos trabalhar. A maioria trabalha por absoluta necessidade e pega o que aparecer na frente. Sou consciente que vivo e falo com mulheres de um Brasil com níveis altíssimos de desemprego.

Mas, mesmo dentro da perspectiva de trabalhar com o "que aparece", em algum momento da trajetória, isso não é o bastante e não mais o que importa —e nada tem a ver com ganhar pouco ou muito dinheiro.

Quando não há a possibilidade de “parar, refletir e refazer a rota”, mulheres conduzidas por suas verdades buscam um “algo a mais” no seu cotidiano de fazer porque “tem que”. As que entendem que são responsáveis por suas trajetórias procuram alinhar aquele fazer aos seus valores, ao seu propósito, porque sabem que sem isso o fardo será pesado demais para carregar.

Quando uma mulher caminha lado a lado com seu propósito é capaz de mudar não apenas a sua realidade, mas a de todos à sua volta.

É no momento desse acoplamento de fazer com símbolos que conseguimos deixar transparecer a força e o talento que temos dentro de nós e que, por muitas vezes, fomos obrigadas a deixar escondido. É nesse momento que nascem os melhores projetos, que conhecemos pessoas incríveis e que nos tornamos inspiração para tantas outras mulheres.

Não há necessidade de fama televisiva ou digital para inspirar novas maneiras de viver. Uma mulher dona de si sempre está causando mudanças ao seu redor, impactando a vida da sua vizinha, colega de trabalho, prima ou irmã.

Uma dona de si mostra que é possível sem falar, apenas fazendo. É muito forte essa presença.

Realmente não quero que pareça que se tornar empreendedora de si mesma é algo simples, que acontece do dia para a noite. Porque não é. Fazer todas essas mudanças e encontrar um verdadeiro propósito leva tempo, e sempre acabamos dando uns tropeços no caminho, fracassando de verdade.

Mas tudo isso faz parte do processo de viver-na-aprendizagem e deve te fazer mais forte, por ficar cara a cara com a vulnerabilidade. A fraqueza que você revela em si mesma é muito estimulante para a conquista da próxima vitória. Entender essa balança é um dos segredos de uma dona de si.

Entenda, caríssima, que essa caminhada só pode ser feita por você, é algo extremamente pessoal. Por mais que tenham pessoas à sua volta te incentivando e ajudando, no fim, ninguém vai te dar nada.

É você, minha amiga, que precisa informar ao mundo seu propósito; com ações, preparação, estratégia e um compromisso que seja combustível para energizar seu entusiasmo e te fazer sair da zona de conforto. ​

Não importa a área em que atua, ou que sonha em trabalhar, sempre pense se o que faz está de acordo com o tipo de pessoa que você é ou deseja ser. Quando uma mulher se torna uma profissional que consegue transparecer o seu propósito de vida, ela é, automaticamente, mais valiosa.

E também mais perigosa para o status quo… E aqui é onde sua atenção precisa estar. Não deixe que o “sistema” perceba isso logo. Quanto mais tempo você hackeá-lo, mais espaço terá e mais manas irá ajudar.

E, caríssima dona de si, se me permite uma última dica para construir uma trajetória própria, aí vai: escute mundos que ainda não conhece, liberte-se de preconceitos, regras, comportamentos padronizados e crenças limitantes.

Viva a vida de maneira que consiga se tornar realmente livre. Não importa a sua profissão, tenha sempre uma certeza: você pode, sim, ter uma vida de valor.

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