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Ainda há tempo para despertar

Precisamos exercitar a compreensão de que cuidar dos recursos naturais é dever de todos

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José Dias

Formado em ciências econômicas, é coordenador e captador de recursos do Centro de Educação Popular e Formação Social (Cepfs). É empreendedor social da Ashoka e da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.

Por muito tempo a expressão “meio ambiente” foi evocada para abordar fauna e flora, principalmente no bioma Amazônia. Talvez isso acontecesse em decorrência do significado da floresta para o planeta.

A Amazônia representa mais da metade das florestas tropicais remanescentes e detém a maior biodiversidade do planeta, mas o desequilíbrio ambiental nos remete a uma atenção para além deste bioma.

O "meio ambiente” hoje pressupõe uma mudança de comportamento em relação ao cuidar da “nossa casa comum” a partir de onde estamos, onde moramos, onde trabalhamos e pela forma como nos relacionamos com o meio em que vivemos.

No bioma caatinga são vários os rios que já foram mortos pela ação do ser denominado “humano”. A partir do descarte incorreto de esgoto e lixo, pelo assoreamento e construções irregulares.

Você se lembra como eram os rios que cortam pequenas cidades ou até mesmo grandes cidades no Nordeste há 20 anos?

Se fizer uma memória se dará conta de que existiam rios que cumpriam importantíssimo papel no cenário paisagístico e ambiental, entretanto foram sendo sufocados pela especulação imobiliária, pelo lixo e pela conivência de gestores públicos.

Os anos foram se passando e vieram sucessivas crises, com impactos econômicos, na saúde e no bem-estar das pessoas, que não conseguiram impedir essas situações.

Os ciclos das secas se encurtaram e subiu a temperatura. Surgiram as denominadas crises hídricas, as mudanças climáticas e não nos demos conta de que tudo isso era fruto de práticas incorretas. Estamos vivenciando uma e outras crises devem surgir, com dimensões incalculáveis.

Mas ainda há tempo para cuidar bem da “nossa casa comum”. Para tanto precisamos exercitar a compreensão de que cuidar bem dos recursos naturais é dever de todos. Precisamos fazer nossa parte.

Há exemplos que precisam ser seguidos e compartilhados: famílias que adotam uma planta para diversificar seu pomar ou fazer sombra perto de casa, promovendo equilíbrio ambiental, segurança alimentar e nutricional e enriquecimento da biodiversidade.

Mulheres agricultoras que fazem mudas aproveitando embalagens de leite e doam para a vizinhança. Agricultores e agricultoras de base familiar que não usam agrotóxicos, não fazem queimadas e produzem alimentos saudáveis a partir de práticas agroecológicas.

Grupos que se articulam e criam cooperativas de compartilhamento de energias renováveis, caso da Cooperativa Bem Viver, em processo de estruturação para produzir e compartilhar energia fotovoltaica descentralizada.

A ação acontece no semiárido da Paraíba, a partir do projeto “Cuidando da Nossa Casa Comum”, incentivado pelo Comitê de Energia Renovável do Semiárido (Cersa) e apoiado por Misereor, organização ligada à Igreja Católica da Alemanha.

Esses e muitos outros bons exemplos podem inspirar outras pessoas a agirem de maneira cuidadosa, a partir de onde vivem, demonstrando zelo pelos recursos naturais tão significativos para a vida no planeta.

Tudo isso deve fazer parte da nossa cultura —não só como algo que devamos praticar por um determinado período da vida. Cultivar a vida pressupõe adotar comportamentos sustentáveis e estimular o assumir destes por parte de outras pessoas a vida inteira.

Uma planta, no período de estiagem, dará bons frutos, mas precisar ser regada mais de uma vez. Assim é também o ambiente onde vivemos. Seu estado dependerá da maneira como cuidamos dele e como preparamos as crianças para darem continuidade aos processos desenvolvidos no cuidar desta “nossa casa comum”, levando em conta os saberes locais.

O desenvolvimento local sustentável pressupõe um processo dialógico, onde haja convencimento para mudanças, e não imposição, onde as pessoas se constituam sujeitas ativas do planejamento e da construção de suas próprias histórias.

Isso requer tempo e investimento, o que, para muitos gestores públicos, lamentavelmente é considerado como gasto, desperdício, que não produz efeitos no tempo desejado.

Ainda há tempo para um novo jeito de viver, adotando novas maneiras de relação com o meio onde se vive, de modo a deixar alguma herança a futuras gerações.

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