Momentos de crise, como o que estamos passando com a pandemia de Covid-19, evidenciam a importância das organizações da sociedade civil no combate às desigualdades e garantia dos direitos humanos.
Em seus territórios, são capazes de articular atores públicos, bem como engajar comunidades e definir ações para apoiar pessoas em diversas condições de vulnerabilidade social, como a falta de comida, renda, teto, saúde e educação.
Projetos sociais geralmente têm um propósito nobre e há algum tempo vão além da caridade, permitindo uma visão mais estratégica em suas atividades, com resultados consistentes em longo prazo. Neste sentido, a qualidade interna do projeto (mérito) e a validade externa (relevância) são indispensáveis.
Assim, a pergunta “estamos mesmo fazendo a diferença?” é frequente nas rodas de quem atua na linha de frente dos programas. E só existe uma maneira de respondê-la: por meio de avaliação.
Desde os anos 1960, quando surgiu uma nova concepção da avaliação no campo acadêmico educacional, o processo avaliativo vem sendo encarado como a sistematização de coleta e análise de dados.
É pautada para averiguar mérito e/ou relevância de qualquer objeto de interesse. Isto tem possibilitado o uso de novas abordagens e novos métodos, tornando o processo mais amplo e amigável. A abordagem naturalística como alternativa para metodologia experimental seria um exemplo.
Dentro desse novo contexto, e em parceria com o salvadorenho Juan Antonio Tijiboy, mestre e doutor pela Universidade Stanford (EUA), naturalizado brasileiro e falecido em 2013, realizamos um trabalho à convite do Unicef - Fundo das Nações Unidas para a Infância na década de 1980.
A ideia era avaliar projetos socioeducacionais que buscavam contornar o grave problema de crianças morando nas ruas e afastadas das escolas no Brasil, oportunidade em que desenvolvemos uma sistemática de avaliação baseada na abordagem naturalística.
A missão exigiu que nós procurássemos crianças nas praças e demais lugares em que viviam para uma observação direta da realidade. Nesta abordagem, o próprio pesquisador é um instrumento humano que utiliza técnicas de observação direta, discretas, quase ocultas e nada óbvias.
A aproximação ocorre por meio do diálogo e, às vezes, de representações lúdicas, para que possamos entender o contexto em que vivem sem sermos invasivos.
Durante as três décadas que se passaram desde a formulação desta metodologia, o estudo foi apreciado positivamente em congressos internacionais como AEA (American Evaluation Asssociation) e Aera (American Educational Research Association). Também foi amplamente divulgado em grupos especializados em avaliação.
Em paralelo, procuramos também transformar a metodologia em uma obra didática para que educadores, coordenadores e outros envolvidos em projetos e programas socioeducacionais pudessem descobrir, passo a passo, como avaliar de forma profissional os resultados de suas ações.
Nesta pandemia, revisitamos a obra, com intensas revisões e novas contribuições sobre o universo da avaliação, completando assim uma coletânea de volumes totalmente ilustrados, lançados em parceria com o Itaú Social, que abraçou o projeto e o está disponibilizando gratuitamente em seu site.
A avaliação serve a várias preocupações sociais importantes, como gestão e contabilidade, benefício ao consumidor, inclusão e equidade social, sustentação do planeta, entre outros.
Suas metodologias estão em constante transformação, porém, a avaliação sempre será o espelho que reflete nossas necessidades e permitirá compreendermos e nos comprometermos com a construção de uma justa sociedade.
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