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Cozinhas solidárias na luta contra a fome

Não pode haver igualdade de condições onde existe fome

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David Hertz

Chef e empreendedor social, cofundador da ONG Gastromotiva e do movimento Social Gastronomy

Paulo Rodolfo Rio Branco

Lidera o projeto Feijoada do Bem Cwb e é cozinheiro solidário na ONG Gastromotiva

Renata Peixe-Boi

Pesquisadora da alimentação amazônica, faz parte da Rede Maniva de Agroecologia e é cozinheira solidária na ONG Gastromotiva

A pandemia de Covid-19 acelerou um quadro de fome que já vinha com tendência crescente no país. Mais da metade dos brasileiros vive hoje em situação de insegurança alimentar e não sabe o que vai comer no próximo dia.

A ONU (Organização das Nações Unidas) constatou em sua mais recente pesquisa que mais de 800 milhões de pessoas enfrentaram a fome no mundo em 2020, aumento de 20% em apenas um ano.

Ficou evidente a exclusão social dessas pessoas e o conjunto de vulnerabilidades e privação de direitos fundamentais a que estão submetidas. É uma situação perversa, que sequestra dignidade e cidadania.

Cozinheiros solidários preparam refeições para comunidade no entorno de suas casas - Arquivo Pessoal

Desde março de 2020, em resposta aos impactos socioeconômicos da crise sanitária, a Gastromotiva tem trabalhado para atender quem tem fome por meio da criação de cozinhas solidárias nas cidades do Rio de Janeiro, de São Paulo, Curitiba, Salvador e Manaus.

Os cozinheiros participam de uma formação em cozinha social, que conta com 82 alunos de variados perfis: microempreendedores, lideranças comunitárias, membros de organizações sociais e coletivos. São pessoas que desejam melhorar as condições de vida de suas comunidades através da transformação que a alimentação de qualidade é capaz de proporcionar.

Renata Geraldo, do Amazonas, ficou comovida ao encontrar tantas famílias que não conseguem o mínimo para se manter sem fome e com saúde.

Quando a Gastromotiva chegou em Manaus, ela participou do treinamento e arrecadou recursos em vaquinhas e parcerias para montar uma cozinha e distribuir refeições. Atendeu especialmente populações indígenas em contexto urbano.

A fome dói. Não só na barriga, mas também na alma de uma mãe e de um pai que, além de estarem faminto, veem seus filhos sem o que comer. Nesse cenário crítico, pessoas se reinventam e solidariedade e empatia se tornam forças vitais.

Em Curitiba, Julia Ianai lembra que grupos que atendiam territórios como a região central da cidade pararam com as ações por medo da pandemia.

A população em situação de rua ficou sem auxílio nenhum, à mercê da fome. Ela ouviu relatos de pessoas que ficaram de três a cinco dias sem comer. Decidiu se unir a ONGs para levar comida, água, máscaras, cobertores e informação para quem não tinha.

Ver gente sem renda e sem acesso aos alimentos foi o que motivou Eline de Oliveira, do Acre, a articular parcerias com bancos de alimentos e empresas privadas para construir um restaurante que trabalha com alimentação solidária. Ela também continuou seu projeto social que atende o povo huni kuî, promovendo o plantio de hortas e criação de frangos e peixes.

Sem comida não há vida, não há laços, não há civilização. A Gastromotiva acredita na revolução social através do fim da fome. O acesso a uma alimentação saudável é base para que qualquer sociedade possa florescer plenamente, pois tem impacto direto na saúde, no aprendizado e na força de trabalho.

Em São Paulo, Maria Tereza Lorençato recorda do período de isolamento social, quando os recursos desapareceram e pessoas sem teto ficaram desesperadas.

Foi um período com menos ações de entrega de comida, menos voluntários, menos dinheiro circulando e muita solidão, medo e fome. Ela viu uma família inteira, com crianças, pedindo comida na porta do mercado. A sensação foi de ter voltado uns 25 anos no tempo.

Não pode haver igualdade de condições onde existe fome. Todas as ações sociais são importantes, assim como é primordial que governos garantam a permanência e a ampliação das políticas públicas voltadas para acabar com a fome e a miséria.

E você, como enxergou a fome durante a pandemia? Convidamos todas as pessoas, de todas as partes do país, a fazerem conosco essa reflexão. Para quem consegue enxergar, sempre há uma maneira de ajudar.

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