ONGs, empresas e sociedade se unem contra fome que cresce em momento crítico da pandemia

Ação da Cidadania, Cufa, Gerando Falcões e UniãoBR, entre outras ONGs, recebem apoio de Itaú, Mercado Livre e XP em corrida contra escalada da crise alimentar no país

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São Paulo

Organizações sociais, empresas e iniciativas voluntárias têm somado forças para garantir comida a brasileiros. Com 19 milhões de pessoas passando fome no país, invisíveis às políticas públicas, a rápida mobilização ajuda a combater colapso alimentar que se instala em momento de crise sanitária e econômica.

“A gente não se surpreende com os números”, diz Rodrigo Afonso, diretor executivo da ONG Ação da Cidadania, fundada por Betinho, que atua no combate à insegurança alimentar desde 1993.

Pesquisa realizada nesta semana pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) mostrou que 116 milhões de brasileiros lidam com a fome em algum grau, desde falta de calorias até insuficiência nutricional.

Com todos os estados com índices de insegurança alimentar grave superiores a 5%, Afonso diz que nenhuma região brasileira estaria fora do Mapa da Fome da ONU hoje. “Estamos alertando que o Brasil voltou ao Mapa desde 2016."

Em julho do ano passado, ainda sem contar os impactos da pandemia, a ONU apontou que a fome poderia alcançar 36 milhões de pessoas na América Latina até 2030.

“Podemos ter um revés histórico nesta luta e perder o que alcançamos em quinze anos em apenas alguns meses”, disse à época Julio Berdegué, representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Para conter a escalada da crise alimentar, agências internacionais propõem medidas como fortalecimento de programas de alimentação escolar, apoio a iniciativas de assistência alimentar de organizações da sociedade civil e apoio financeiro a empresas agrícolas, principalmente aquelas voltadas à agricultura familiar.

Com doações de pessoas e empresas, organizações sociais com sede em diversos estados têm dado capilaridade à distribuição de cestas básicas e alimentos.

Ainda que a concentração esteja no Centro-Sul do país, dada a facilidade logística e a densidade populacional em favelas, fazer chegar ajuda ao Norte e Nordeste é fundamental. As regiões apresentam, respectivamente, 18% e 14% de seus domicílios convivendo com a fome, segundo a Rede Penssan.

A Ação da Cidadania distribuiu, em 2020, 7,3 milhões de quilos de alimentos. Foram 43% para o Sudeste (24% para o Rio de Janeiro), 28% para o Nordeste, 10% para o Centro Oeste, 8% para o Norte e 6% para o Sul.

No mesmo período, a Cufa (Central Única das Favelas) distribuiu 1,4 milhão de cestas básicas pelo país. Quase metade (47%) teve como destino a região Sudeste, sendo 29% para o estado de São Paulo. O Nordeste recebeu 24% das cestas; o Norte ficou com 8%.

A ONG Gerando Falcões enviou 85.300 cestas digitais a 14 estados, com maior distribuição nas cidades de São Paulo, Poá e Guarulhos (SP), Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Maceió.

O movimento voluntário UniãoBR, que em 2020 distribuiu cinco milhões de cestas, prioriza estados com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e maiores populações. “Sugerimos ao doador diversificar a doação para conseguirmos chegar a lugares mais remotos e atender aos vulneráveis”, explica Tatiana Monteiro de Barros, uma das fundadoras do UniãoBR.

O Monitor das Doações, que contabiliza em sua plataforma contribuições a partir de R$ 3 mil, calcula R$ 6,7 bilhões em doações durante a pandemia. Ainda que grande parte tenha sido destinada à saúde, 20% do total foi para distribuição de cestas, alimentos e cartões alimentação em todo o país.

“Nesse momento há um forte investimento em assistência social”, diz João Paulo Vergueiro, diretor executivo da ABCR (Associação Brasileira dos Captadores de Recursos). Em março deste ano, com o repique da Covid-19, foram R$ 150 milhões em doações –maior número desde setembro de 2020.

A cidade de São Paulo aparece como local com mais doações realizadas, mas não significa que outras cidades não movimentem grandes investimentos.

“São Paulo tem peso por causa das sedes dos doadores, a começar pelo Itaú, que fez a maior doação”, explica Vergueiro. Com a maior campanha de captação, o Rio de Janeiro aparece logo depois. “A Fiocruz captou quase R$ 500 mil sozinha”, diz.

Veja algumas empresas que estão contribuindo com organizações sociais neste ano e ajudando a combater a crise alimentar que se instala no país.

Bradesco, Itaú Unibanco e Santander
Em iniciativa conjunta, os bancos vão doar mais de 500 mil cestas básicas no valor de R$ 37,5 milhões. Elas serão distribuídas pela Ação da Cidadania e fundações do Itaú e Unibanco. A ação nasceu a partir da iniciativa do Santander, que doou 100 mil cestas e se comprometeu a doar o mesmo número caso seus 45 mil funcionários se dispusessem a doar 100 mil cestas.

iFood
A foodtech arrecadou R$ 8 milhões para o combate à fome, sendo R$ 4 milhões doados por consumidores a partir do app, R$ 3 milhões da própria empresa e o restante por meio de parceiros como Mastercard, Unilever e Copagaz. Pelo app do iFood, os clientes podem doar cestas básicas, cestas de frutas, legumes e verduras frescos, refeições prontas ou cestas básicas digitais a serem entregues com a ajuda de ONGs parceiras (Ação da Cidadania, Orgânico Solidário, Gerando Falcões, Cufa e Sefras).

Alpargatas
A empresa doou R$ 5 milhões para a Ação da Cidadania, que correspondem a 100 mil cestas básicas para a campanha Brasil Sem Fome. “Entramos nessa corrente do bem por entender que nosso papel é apoiar a sociedade na crise humanitária que estamos vivendo", diz Beto Funari, presidente da Alpargatas.

XP
O grupo anunciou a doação de R$ 3 milhões para ajuda imediata, como cestas de alimentos, e em longo prazo, como a criação de cozinhas comunitárias em regiões mais pobres. Gerando Falcões, Gastromotiva, União SP e União Rio receberão as doações.

“Nossa meta é espalhar nossas tecnologias sociais por todos os territórios e estamos nos preparando para implementar as Cozinhas Solidárias em Manaus e em Salvador”, diz Samantha Souza, gerente geral da Gastromotiva.

Mercado Livre
A empresa vai doar R$ 2 milhões para a Ação da Cidadania. Também criou um botão de doação dentro do aplicativo Mercado Pago e lançará uma loja solidária em seu marketplace.

"É muito potente contar com a tecnologia para mobilizar a sociedade para ajudar a mitigar esse problema urgente", diz Rodrigo Afonso, da Ação da Cidadania.

BV
O banco convidou clientes, parceiros e sociedade para se engajarem na campanha "Abrace uma Causa". A cada R$ 1 doado, o banco doará mais R$ 1 até o total de R$ 1 milhão. As doações serão feitas por meio de vales alimentação e contarão com parceiras como Gerando Falcões e Cufa.​

Campanhas de ONGs contra a fome

Veja lista completa de ONGs, iniciativas e campanhas que recebem doações de pessoas para combater os efeitos da pandemia.

Movimento Panela Cheia (Cufa, Gerando Falcões e Frente Nacional Antirracista)
Doações para as organizações que participam da campanha podem ser feitas em panelacheiasalva.com.br.

Brasil sem Fome (Ação da Cidadania)
Para doar, acesse o site acaodacidadania.org.br ou faça um depósito:
Banco do Brasil
CNPJ: 00.346.076/0001-73
Agência 1211-4
Conta corrente 500.537-x (trocar por o x por zero se for de outro banco)

Banco Itaú
Agência 0417
Conta corrente 65638-6

Mães da Favela (Cufa)
Doações podem ser feitas pelo site maesdafavela.com.br.

Chega de Fome (Gastromotiva)
Doe qualquer quantia para a campanha em bit.ly/doechegadefome ou pela chave Pix 08.505.223/0001-12

A Luta Continua (Gerando Falcões)
Doação é feita diretamente no site gerandofalcoes.com/coronanoparedao.

UniãoBR
As doações para as unidades de todo o país podem ser feitas em movimentouniaobr.com.br.

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