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'Na Pertinho de Casa, mães solo como eu fazem entregas a pé e de bike'

Ex-moradora de rua é beneficiária de marketplace que gera renda e incentiva comércio local, iniciativa finalista do Empreendedor Social 2021

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São Paulo

Ex-moradora de rua, Keth Alvarenga, 38, tornou-se uma microempresária ao criar uma empresa de entregas de bike, que oferece seus serviços na plataforma Pertinho de Casa.

A iniciativa liderada por Alice Freita, da Rede Asta, foi finalista na categoria Inclusão Social e Produtiva do Empreendedor Social 2021.

Plataforma digital que conecta empreendedores, a Pertinho de Casa, cocriada por Alice Freitas, beneficiou 11 mil pequenos negócios na pandemia - Divulgação

Nasci em São Paulo, no Pro Morar Teotônio Vilela, Sapopemba (zona leste). Meu pai era pedreiro e minha mãe, doméstica. Éramos oito irmãos. Para minha mãe, meu boletim não tinha significado. Para ela o que tinha significado era comida na mesa. Meu pai queria que eu fosse costureira, não acreditava em universidade.

Mas eu frequentava a igreja mórmon [Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias], onde havia muito incentivo à educação. Perguntavam: Que faculdade você vai fazer? Comecei a pensar nisso.

Mulher negra, de cabelos presos e vestido listrado, e homem branco de barba e terno escuro em frente a árvores
A microempreendedora Keth Alvarenga, 38, no parque municipal do Tatuapé, é usuária da plataforma Pertinho de Casa, uma das finalistas do Empreendedor Social 2021 - Folhapress

Eu me casei e praticamente no primeiro dia já apanhei. Tive meu filho mais velho, Caio [hoje com 12 anos], mas alguns anos depois consegui sair desse casamento abusivo. Fiz o Enem e consegui uma bolsa para estudar Direito pelo ProUni, já no final do relacionamento. Ele disse: ou eu ou o curso. Já estava decidido.

Terminei o curso, mas não consegui trabalho na área. Eu me casei de novo, tive o Kevin [hoje com 3 anos], e me separei. Fui trabalhar em uma construtora, que me deu calote. Sem renda, não conseguia pagar o aluguel e fui despejada.

Voltei à casa da minha mãe, onde fiquei por alguns meses, mas descobri que lá meu filho mais velho sofria abusos sexuais. Eu denunciei a situação e fui expulsa de casa; o Caio foi ficar com o pai e eu fui morar na rua, na Praça da Sé [centro de São Paulo] com o Kevin.

Com o pequeno nas costas, cheguei a cogitar me jogar na frente de um ônibus, mas aí pensei: não tenho mais nada a perder, daqui só pode melhorar. Consegui ir morar em um abrigo com meus filhos.

Fiquei sabendo do curso do Instituto Aromeiazero, chamado Viver de Bike. Ao final dele ganhei uma bicicleta e comecei a fazer entregas. Ainda morava no abrigo quando montei a Fek Transportes.

Conheci o Marcelo Romoff do Instituto Center Norte e ele me perguntou: do que você precisa? Eu falei: de trabalho. Ele tinha falado com a Alice Freitas da Asta e sugeriu que eu me cadastrasse na Pertinho de Casa. Hoje fazemos entregas a pé e de bike.

Tenho entregadoras que são mães solo como eu e podem trabalhar perto de casa, em horários flexíveis. Gera renda para elas sem que tenham que fazer um investimento inicial e sem a precarização dos apps de entrega, em que pais de família muitas vezes cruzam a cidade de moto e se arriscam para ganhar R$ 5, R$ 10.

Graças ao apoio inicial do aplicativo, a empresa vem crescendo e já temos uma filial em Minas Gerais. Um parceiro cuida dos contratos, e assim ajudamos mais famílias.

Keth Alvarenga

microempreendedora

Graças ao apoio inicial do aplicativo, a empresa vem crescendo e já temos uma filial em Minas Gerais. Um parceiro cuida dos contratos, e assim ajudamos mais famílias.

Na Pertinho de Casa, nós podemos entregar os produtos de outras empresas do mesmo bairro, movimentando assim a economia local e priorizando a vida.

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