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'Vivi coisas que eu não quero nunca mais viver', diz infectologista de Manaus

Diretor de hospital durante colapso na pandemia contou com apoio de Fundos Filantrópicos contra Covid-19, iniciativa premiada no Empreendedor Social 2021

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São Paulo

O infectologista e intensivista Leandro Moura, 37, viveu duas realidades na maior crise sanitária do Amazonas. Primeiro, ele atuou no atendimento a pacientes com Covid-19 no hospital Delphina Aziz, que chegou a ter o terceiro maior número de leitos de UTI (180) para infectados no país.

Neste ano, quando Manaus virou epicentro da doença, agravado pela falta de oxigênio e a variante P.1 do vírus, o médico já trabalhava como diretor técnico do hospital.

E diz que toda a ajuda, como a dos Fundos Filantrópicos contra a Covid-19, do empreendedor social Leonardo Letelier —vencedor da categoria Emergência Sanitária do Prêmio Empreendedor Social 2021—, foi crucial.

Vivi coisas nesta pandemia que eu não quero viver nunca mais. Primeiro, na linha de frente. O Delphina Aziz era um hospital portas abertas para atendimento pediátrico e adulto. Com pandemia, virou referência e apoio da rede para casos de Covid.

Foram coisas inesquecíveis. A gente organizou tudo, redesenhou fluxos, preparou equipes. Mas, quando chegou o primeiro paciente de UTI, a reação de todos foi a de sair do local. Era a ficha caindo para os dias difíceis que viriam e vieram, num volume muito maior.

E eu queimei a largada. No início, peguei o vírus influenza. Até pensei que fosse Covid. Tive febre, dor no corpo. Fiquei mal. Mas fiz teste e não era. Então a minha família ficou preocupada, em especial a esposa, pensando o que seria de mim se pegasse Covid.

Depois, foi viver de perto cada onda da Covid, pacientes intubados, ventilação mecânica, perdas, a dor de profissionais e das famílias.

Aí me tornei diretor técnico do hospital. E veio o pico de janeiro, com a questão da White Martins e da falta de oxigênio.

Quando se está na linha de frente, termina seu plantão e acabou. Mas na gerência não. Passei a ter ansiedade, porque a gente tinha que controlar insumos, falar com secretaria, ministério, equipes.

Foi como uma guerra, porque, só na questão do oxigênio, a gente fazia conta a todo instante. Tinha dia que o suficiente era para mais quatro, seis horas de abastecimento. Era uma contagem a todo instante e tinha a variante, que mudava o que a gente conhecia sobre o vírus no paciente.

Não daria para dimensionar as perdas se tivesse sido interrompido o abastecimento de oxigênio com mais de 400 pacientes internados

Leandro Moura

diretor técnico do hospital Delphina Aziz

Reforço que a ajuda que chegava de todos os lados, Exército, FAB, governo e Fundos Filantrópicos, salvou vidas, porque não daria para dimensionar as perdas se tivesse sido interrompido o abastecimento de oxigênio com mais de 400 pacientes internados.

Uma das nossas estações sofreu rachadura e ficou parada por algum tempo para reparo. Os 50 cilindros de oxigênio dos Fundos foram decisivos, como kits de nanômetros e fluxômetros e EPIs, que evitaram que pacientes fossem intubados. ​

A resiliência foi comum entre todos, pois não só janeiro foi difícil. A gente usou 180 leitos de UTI Covid, 168 de enfermagem, 56 do hospital de campanha, 10 da Sala Vermelha.

Registramos 8.000 altas e não tivemos óbito por falta de oxigênio. E, graças a Deus e à vacinação, hoje temos 30 leitos de UTI Covid.

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