O Fórum Econômico Mundial tem alertado lideranças empresariais e governamentais globais para a urgência em colocarmos em prática uma nova economia voltada aos "stakeholders", partes interessadas no sucesso do negócio, como forma de avançar nas pautas ESG (sigla em inglês para questões ambientais, sociais e de governança).
Por que esse contexto é relevante? De acordo com as projeções, se não acelerarmos a transição para um novo modelo econômico e social, devemos atingir a Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU apenas em 2073 –atraso de 43 anos em uma agenda crítica para o futuro da humanidade e do planeta.
Como pesquisador do Grupo de Gestão de Mudanças e Inovação da Universidade de São Paulo (EESC/USP), fundador da Humanizadas e coordenador da pesquisa Melhores para o Brasil, tenho acompanhado o avanço dessas discussões no país e no mundo.
E refletido sobre a importância de criarmos espaços para difundir conceitos alinhados à nova economia –uma nova lógica de mercado, pontuada por uma cultura centrada nos humanos. Na prática, uma dinâmica de mundo que reflete sobre o significado de sucesso dos negócios.
Há três anos, a pesquisa avalia e reconhece empresas, startups, negócios de impacto, mídia, ONGs e órgãos públicos que se destacam na percepção dos seus respectivos stakeholders –clientes, lideranças, colaboradores, investidores, parceiros, meio-ambiente, comunidades e sociedade em geral.
Para chegar a esse resultado, a avaliação adota uma metodologia inédita, que dá voz às partes interessadas no sucesso do negócio.
Para tornar esse desempenho mais tangível, trago alguns dos principais resultados: as melhores têm performance financeira 4,5 vezes superior no médio e longo prazo; a confiança nas relações é 105% superior às das demais empresas; a reputação de marca é 44% maior, englobando a relação com investidores, clientes, colaboradores, parceiros e sociedade; o desempenho em práticas ESG é 76% superior; a experiência dos clientes é 48% acima das demais.
Os índices da pesquisa avaliam múltiplos capitais, dos quais também podemos citar: bem-estar dos colaboradores (116% superior às demais empresas), perspectiva de futuro (45% superior), segurança psicológica dos colaboradores (49% superior), ambiente de inclusão e diversidade (40% superior); e a capacidade de inovação (91% acima das demais).
A terceira edição, que contou com mais de 86 mil entrevistados e 300 empresas, teve como destaque dois negócios reconhecidos no Prêmio Empreendedor Social do Ano da Folha: Simbiose Social, fundada por Rafael Mayer e Mathieu Anduze, e Grupo Mol, criado por Roberta Faria e Rodrigo Pipponzi.
Esses empreendedores sociais estão à frente de negócios que têm transformado a cultura de doação no Brasil. Em plena pandemia, inclusive, uniram forças para cocriar uma plataforma de gestão do investimento social privado, iniciativa alinhada à nova economia.
Acredito que esta nova economia seja uma jornada do "ego" para o "eco", em que lideranças estão migrando para uma lógica na qual as necessidades de sobrevivência mais básicas da organização evoluem para um olhar que reconhece, compreende e busca gerar impacto positivo na vida das pessoas e no planeta, equilibrando lucro e propósito.
"Nada é mais poderoso no mundo do que uma ideia que chegou no tempo certo", disse Victor Hugo. Não tenho dúvida de que os negócios de impacto –e novas lideranças conscientes– podem elevar o Brasil a outro patamar social, econômico e ambiental. A aceleração deste processo depende de nossas atitudes e escolhas diárias mais conscientes.
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