Falta de iniciativas pode frear potência da chamada 'economia prateada'

Temor é que falte empreendedorismo para acompanhar o rápido envelhecimento dos brasileiros

Everton Lopes Batista
Poços de Caldas (MG)

A transição demográfica provocada pelo envelhecimento da população brasileira deve turbinar a chamada "economia prateada", nome dado ao mercado de produtos e soluções desenvolvidos especialmente para pessoas acima de 60 anos.

Entre 2012 e 2017, o país agregou mais 4,8 milhões de pessoas à essa faixa etária, cujo total subiu de 25,4 milhões para 30,2 milhões, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em 2030, estima-se, esse número deve chegar a 41 milhões, o equivalente a 18% dos brasileiros. Se confirmada a estimativa, será a primeira vez que a faixa etária dos idosos será superior à de crianças.

Hoje, a economia desse segmento populacional movimenta cerca de R$ 1,6 trilhão por ano, e a demografia sugere crescimento contínuo. Profissionais que se debruçam sobre esse mercado, porém, temem que o potencial acabe inexplorado por falta de empreendedores preparados.

Segundo pesquisas na área da longevidade, a fase a que se convencionou chamar de velhice, depois dos 60 anos, será cada vez maior.

"E vamos viver bem, não vamos tirar férias eternas, vamos ser ativos por pelo menos 30 anos depois disso", declarou Layla Vallias, fundadora da Hype60+, consultoria de marketing focada em negócios para os mais velhos.

Envelhecimento com bem-estar altera a vida recolhida normalmente associada aos idosos. "Essas pessoas querem usufruir, querem transporte e serviços diferenciados, como um aplicativo de celular com letra maior, por exemplo", afirmou Ricardo Podval, co-fundador do Civi-Co, centro que reúne iniciativas de impacto cívico e social.

A plataforma EuVô é um exemplo de empresa brasileira direcionada à população maior de 60 anos. O serviço atende pessoas com problemas de locomoção, que precisam sair de casa para atividades como compras ou consultas médicas, mas não contam com um acompanhante para garantir sua segurança.

Victória Barboza, que abriu a empresa com o irmão Gabriel, conta que a ideia partiu das dificuldades da própria mãe, diagnosticada com esclerose múltipla há cerca de 26 anos, e da convivência com o avô, que também enfrentou problemas de mobilidade.

Segundo a empreendedora, a EuVô fez testes com potenciais clientes durante seis meses, treinando também os motoristas acompanhantes.

O serviço, que já funciona em São Carlos (interior de São Paulo), deve ser expandido para a cidade de São Paulo até o início de 2019.

Trazer o público-alvo para testar e dar feedback é um dos triunfos da nova empresa. A medida parte da lógica de que primeiro é preciso entender o público desejado para depois desenvolver produtos que façam sentido para ele.

"Quando empreendedores tiram as ideias apenas da própria cabeça, acabam cometendo erros muito grandes de mercado", afirmou Layla, da consultoria Hype60+.


Como os mais velhos ganham e gastam

R$ 1,6 trilhão é o que movimentam os mais maduros por ano, segundo o IBGE; o montante corresponde a 20% do total consumido no país

Levantamento nacional feito pelas empresas Pipe.Social e Hype60+, com 2.242 pessoas de faixa etária acima de 55 anos, descortina alguns aspectos

saúde

53% têm plano de saúde, sendo que 68% deles são responsáveis pelo pagamento

13% cancelaram o convênio nos últimos cinco anos

Trabalho

60% dos entrevistados se declaram responsáveis por metade da renda bruta de suas famílias

29% dizem trabalhar muito para sustentar a si e à família e não podem parar

Lazer

43% dedicam quatro horas diárias ou mais a atividades de lazer e ócio

44% preferem frequentar parques, praças e espaços ao ar livre

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