Meu sonho era não ser mãe na adolescência, diz jovem assistente social

Em plenária no Fiis, meninas no início de suas vidas dão retratos de como o Brasil trata as mulheres

Beatriz Maia
Poços de Caldas (MG)

O segundo dia do Fiis (Festival de Inovação e Impacto Social) foi marcado por relatos de jovens meninas sobre seus cotidianos. A Girl’s Talk foi promovida pela Plan international, organização não-governamental que defende os direitos das crianças, adolescentes e jovens, com foco na promoção da igualdade de gênero.

Para Viviana Santiago, gerente de gênero da organização no Brasil, eventos como este são oportunidade de escutar a voz das garotas. “O mundo ainda não descobriu todo o potencial das meninas”, disse.

As jovens contaram histórias que mostraram como a violência contra a mulher não começa na vida adulta. Segundo Viviana, as falas são um chamado para a construção de um mundo melhor. “A humanidade não avança enquanto metade das pessoas fica pra trás”, afirmou a ativista.

Viviana Santiago, gerente de gênero da Plan Brasil, fala no painel Girl's Talk
Viviana Santiago, gerente de gênero da Plan Brasil, fala no painel Girl's Talk durante o Fiis - Anderson Heldt/Divulgação

Luciana Santos, 26, mora em São José de Ribamar, na comunidade Roseana Sarney, no interior do Maranhão. Com 19 anos sua mãe já tinha três filhos, assim como a avó, que também foi mãe na adolescência.

“Eu tinha todas as chances de repetir a história de minha avó e minha mãe. Não tinha o sonho de fazer faculdade, pois meninas não são estimuladas a sonhar”, disse Luciana.

O rumo de sua trajetória mudou quando, aos 16 anos, foi convidada a participar de um projeto de desenvolvimento social, e pela primeira vez teve acesso a mais informações. “Isso mudou a minha vida”.

Ela contou que em sua cidade de cada seis pessoas que concluem o ensino fundamental uma chega ao médio. Seu sonho era concluir esta etapa sem ser mãe, e hoje é formada em serviço social e voluntária da Plan.

“Faço isso porque outras mulheres me inspiraram e acreditaram nas meninas”, afirmou a jovem.

Luciana Santos fala no painel Girl's Talk durante o Fiis
Luciana Santos fala no painel Girl's Talk durante o Fiis - Anderson Heldt/Divulgação

Evelinn, 16, pratica atletismo e sonha ser campeã de salto com vara. Começou a treinar a modalidade quando chamou a atenção de um professor ao corrigir exercícios que uma turma de meninos fazia.

Apesar de não ter os equipamentos adequados para a prática, foi campeã em uma competição nacional neste ano. Para a jovem, todo mundo tem um ponto fraco, e os dela eram os dentes. O tratamento ortodôntico feito com a Turma do Bem resolveu o problema. “Qual é o ponto fraco de vocês? Encontrem o que abala a confiança de vocês, e resolvam isso”, relatou a jovem que disse hoje sonhar em ser dentista.

Evelinn fala no painel Girl's Talk
Evelinn fala no painel Girl's Talk - Anderson Heldt/Divulgação

 Julia, 15, mora na zona rural de São Luís (MA), e contou que causou confusão na escola ao não querer ganhar os parabéns no dia da mulher. “Gente, muito obrigada, mas eu não sou uma mulher. Eu sou uma menina, uma adolescente, e sou um ser em construção”, contou.

A menina relatou que, em sua visão, sua construção acontece todos os dias enquanto tenta entender a vida e como as coisas funcionam. E se entristece ao presenciar episódios que violam os direitos de meninas como ela. “Quando a gente menstrua, isso é visto como uma entrada na vida adulta, mas é só uma coisa normal do nosso corpo”, disse Júlia.

No dia 11 de outubro, quando é comemorado o dia internacional da menina, ela se surpreendeu ao receber os parabéns dos colegas. “Minha geração, tão nova, já entende que as meninas são importantes. As meninas merecem ser livres para ser o que quiserem”, finalizou.

FESTIVAL

O Fiis movimenta Poços de Caldas entre os dias 2 e 7 de novembro no Palace Cassino, no centro da cidade. O evento agrega o encontro anual da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais, formada por cem líderes, o Congresso Sorriso do Bem, da Turma do Bem, correalizadora desta edição, e o Fórum Melhores Práticas para Saúde no Terceiro Setor, da Aliança Latina.

Na programação, temas como o futuro dos negócios sociais e das ONGs, captação, mobilização e conexão, inovação e novo significado do voluntariado serão discutidos durante masterclasses, workshops e painéis que contarão com a participação de empreendedores, investidores e empresas que atuam por impacto positivo.

A pedido da Plan International, os sobrenomes das meninas foram omitidos

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