Para Bibancos, a maioria das empresas finge responsabilidade social

Presidente da Turma do Bem apresentou no Fiis percalços da captação de recursos para o 3º setor

Fabio Bibancos ministra palestra no FIIS, em Poços de Caldas
Fabio Bibancos ministra palestra no FIIS, em Poços de Caldas - Keiny Andrade/Folhapress
Beatriz Maia
Poços de Caldas (MG)

No terceiro dia do Fiis, o presidente da Turma do Bem, Fábio Bibancos, falou com o público sobre quando tudo dá errado. A organização social que comanda conta hoje com 17 mil dentistas voluntários e ainda enfrenta dificuldades para obter financiamento.

“Existem empresas com responsabilidade social sim, mas são poucas. A grande maioria finge”, afirma Bibancos.

Uma das primeiras frustrações pela qual passou ao fundar a organização foi precisar fazer o que chamou de uma “escolha de Sofia”, em referência ao filme de 1982 em que Meryl Streep interpreta uma personagem que precisa escolher qual filho salvará da morte. Ele relatou sofrer ao perceber que não poderia atender toda demanda de crianças que precisavam de tratamento dentário.

Bibancos contou que decidiu manter o trabalho remunerado em uma clínica tradicional para poder pagar as contas enquanto é voluntário, e por isso tornou-se conhecido do público por atender celebridades.

A fama ajudou a recrutar outros dentistas para a ONG, mas não foi suficiente para captar recursos. “Virei um mendigo de blazer”, disse sobre as tentativas falhas de buscar parcerias com a iniciativa privada.

A parceria com empresas privadas, segundo ele, é travada porque o investimento na Turma do Bem não é revertido diretamente em lucros.

Com 12 funcionários a instituição atende cerca de 70 mil pessoas por ano. “Somos uma das ONGs mais baratas de todas”, afirmou o dentista.

Ele contou que frequentemente se reúne com empresas que não perguntam sobre as crianças atendidas. “Eu poderia mentir todos os resultados desde que eu mandasse a propaganda da marca por email para a rede de dentistas credenciados”, afirmou Bibancos.

Ao completar uma década a ONG expandiu as atividades e criou o projeto Apolônias do Bem, que atende mulheres que perderam dentes em situações de violência. O nome é referência à padroeira dos dentistas, uma santa que viveu no ano 200 a.C. e teve os dentes arrancados como forma de tortura.

Ele lembrou um episódio quando, em negociação de patrocínio com uma marca de cosméticos, foi solicitada a presença de “mulheres bonitas” atendidas pelo projeto para aparecer na campanha de marketing, e outros episódios parecidos de intolerância.

“Até hoje não temos uma marca de beleza com a gente, sendo que o batom é a primeira coisa que as mulheres pedem quando colocam os dentes”, afirmou Bibancos.

Ele encerrou a palestra contando a história de Paloma, uma mulher trans atendida pelo projeto Apolônias do Bem, que frequentou a organização e está desaparecida desde o dia em que relatou sofrer violências nas ruas. “Tudo deu errado, mas eu vou continuar”.

FESTIVAL

O ​Fiis movimenta Poços de Caldas entre os dias 2 e 7 de novembro no Palace Cassino, no centro da cidade.

O evento agrega o encontro anual da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais, formada por cem líderes, o Congresso Sorriso do Bem, da Turma do Bem, correalizadora desta edição, e o Fórum Melhores Práticas para Saúde no Terceiro Setor, da Aliança Latina.

Na programação, temas como o futuro dos negócios sociais e das ONGs, captação, mobilização e conexão, inovação e novo significado do voluntariado serão discutidos durante masterclasses, workshops e painéis que contarão com a participação de empreendedores, investidores e empresas que atuam por impacto positivo.

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