Descrição de chapéu Beleza

Mulheres cientistas lutam contra pseudociências que miram a estética feminina

Elas desmascaram produtos que são vendidos como benéficos mas que não possuem comprovação científica

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São Paulo

Gabriela Bailas, ou Bibi Bailas, como é conhecida, tem uma missão: espalhar a palavra das evidências científicas. No radar da cientista pode entrar qualquer alegação de benefícios sem o selo da ciência, mas muitos dos mitos que ela desvenda têm algo em comum: seus alvos são as mulheres. Novos tratamentos estéticos, alimentos com poder de cura ou emagrecimento e até itens de higiene pessoal são passados a limpo por ela em sua conta no Instagram e em seu canal de YouTube.

Bibi é formada em física pela FURG (Universidade Federal do Rio Grande) e pela Universidade de Coimbra (Portugal), fez mestrado na UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e doutorado em física de partículas na na Universidade Clermont Auvergne (França). Hoje se dedica ao desafio de levar informação científica aos seus milhares de seguidores nas redes sociais.

Nas últimas semanas, organizou lives com uma dermatologista e uma ginecologista para tratar justamente das pseudociências do universo feminino. Tudo começa com o fato de que as mulheres se sentem obrigadas a fazer parte de um padrão, diz.

Gabriela Bailas checa qualquer alegação de benefícios sem o selo da ciência, sendo que muitas delas têm mulheres como alvo - Karime Xavier/Folhapress

"Elas têm que estar bonitas com unha feita e maquiagem, com o cabelo e o corpo dentro de um padrão, e por isso a indústria, de forma geral, lucra muito com o público feminino."

Daí é um passo para entrar na onda de que a beleza natural ou que tratamentos naturais são necessariamente melhores –e são justamente os que mais carecem de evidências científicas.

"Alumínio no desodorante é o grande exemplo. Não tem evidência científica de que ele ou os parabenos causam câncer, mas por que esse assunto continua em voga? Porque as empresas do 'clean beauty' usam essa informação para vender produtos. Dizem 'nosso produto não tem parabenos, não tem alumínio', então a pessoa acha que a saúde dela vai ser melhor sem esses itens."

A chamada "clean beauty", ou seja, beleza limpa ou natural, também é alvo da química de cosméticos australiana Michelle Wong, conhecida nas redes sociais como Lab Muffin.

"'Limpo' e 'sujo' é um jeito sedutor e simples de olhar para o mundo. Infelizmente, a ciência é mais complicada do que isso. Ainda que algumas marcas genuinamente acreditem que é assim que a toxicologia funciona, acho que muitas adotaram esse conceito de 'clean beauty' como forma de oferecer uma vantagem desleal para seus produtos, já que não podem competir no mercado com base em sua performance real", disse à Folha, por email.

Wong afirma ainda que a indústria de "clean beauty" demoniza certos ingredientes, mas qualquer coisa pode ser danosa se usada incorretamente, seja natural ou sintética. Ingredientes que são usados de forma segura nos cosméticos pela maioria das empresas e para a maioria das pessoas (a não ser que você tenha uma alergia ou sensibilidade conhecidas) incluem parabenos, sulfatos, silicones, álcool, fragrâncias, retinol e protetores solares químicos, diz.

"Formuladores de cosméticos de marcas com boa reputação vão considerar dados toxicológicos na hora de decidir quanto de cada ingrediente colocar nos produtos."

Segundo Bibi Bailas, o apelo do natural pode causar sérios danos quando as pessoas deixam de procurar tratamentos. "Muita gente deixa de se tratar adequadamente para candidíase ou infecção urinária e acaba inserindo coisas naturais na vagina, como cristais, óleos, 'OB' de alho ou iogurte, e cápsulas de babosa. E já tem dados mostrando que isso é muito perigoso."

E de onde vem essa quimiofobia, esse medo do que é sintético? "Ao longo da evolução humana, era mais seguro para as pessoas se agarrarem às coisas familiares porque significa que elas tinham menos chance de se arriscar e morrer, então desenvolvemos um viés contra o desconhecido. Ingredientes sintéticos parecem menos familiares que os naturais. A ciência hoje tem formas muito melhores de separar o que é seguro e o que não é hoje em dia, mas nosso viés evolutivo continua aí", diz Wong.

O caso da enfermeira de 42 anos que morreu depois de tomar as cápsulas do produto "50 Ervas Chá Emagrecedor", indicado para diabetes, colesterol e emagrecer, entre outras alegações, é um grande exemplo da missão de Bibi. "Esses produtos não passam por testes, não têm dados de eficácia, não sabemos como as pessoas manuseiam, o que pode conter. O risco é muito grande."

Na dúvida, portanto, desconfie.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior desta reportagem dizia que a ​FURG é a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É, na verdade, a Universidade Federal do Rio Grande. O texto foi corrigido.

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