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Medicamento contra obesidade promete resultado próximo ao da bariátrica

Os participantes do estudo foram aconselhados a consumir cerca de 500 calorias por dia

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Gina Kolata
The New York Times

Um medicamento experimental permitiu que pessoas obesas ou com sobrepeso perdessem cerca de 22,5% de seu peso corporal, que corresponde a cerca de 23,5 kgs, anunciou o fabricante do medicamento na quinta-feira (28).

A empresa Eli Lilly ainda não enviou os dados para publicação em uma revista médica revisada por pares ou os apresentou em um ambiente público, mas as afirmações surpreenderam os especialistas médicos.

"Uau (e um duplo uau!)", disse em um tuíte o dr. Sekar Kathiresan, CEO da Verve Therapeutics, empresa focada em medicamentos para doenças cardíacas. Drogas como a da Eli Lilly "realmente vão revolucionar o tratamento da obesidade!!!", acrescentou ele. Kathiresan não tem vínculos com a Eli Lilly ou com o medicamento.

Mulher observa o movimento na Times Square, em Nova York
Mulher observa o movimento na Times Square, em Nova York (EUA) - Lucas Jackson/Reuters

O dr. Lee Kaplan, especialista em obesidade no Hospital Geral de Massachusetts, disse que o efeito dessa droga "parece ser significativamente melhor que qualquer outro medicamento contra a obesidade atualmente disponível nos EUA". Os resultados, acrescentou, são "muito impressionantes".

Kaplan, que presta consultoria para uma dúzia de empresas farmacêuticas, incluindo a Eli Lilly, disse que não participou do novo teste ou do desenvolvimento do medicamento.

Os participantes do estudo pesavam em média 104,7 kgs no início e tinham um IMC (índice de massa corporal) –medida comumente usada de obesidade– de 38. A obesidade é definida como um IMC de 30 ou mais.

No final do estudo, aqueles que tomaram as doses mais altas do medicamento da Eli Lilly, chamado tirzepatide, pesavam cerca de 81,6 kgs e tinham um IMC pouco abaixo de 30, em média. Os resultados superam em muito aqueles geralmente vistos em ensaios de medicamentos para perda de pesos e, normalmente, são observados apenas em pacientes cirúrgicos.

Alguns participantes do estudo perderam peso suficiente para entrar na faixa normal, disse o dr. Louis J. Aronne, diretor do programa abrangente de controle de peso no Centro Médico Weill Cornell, em Nova York, que trabalhou com a Eli Lilly como principal investigador do estudo.

A maioria das pessoas no estudo não se qualificava para a cirurgia bariátrica, que é reservada para pessoas com IMC acima de 40 ou aquelas com IMC de 35 a 40 com apneia do sono ou diabetes tipo 2. O risco de desenvolver diabetes é muitas vezes maior para pessoas com obesidade do que para pessoas sem ela.

Como a obesidade é uma condição médica crônica, os pacientes precisariam tomar tirzepatide por toda a vida, como fazem com medicamentos para pressão arterial ou colesterol, por exemplo.

Robert F. Kushner, especialista em obesidade na Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, em Chicago, e consultor pago da Novo Nordisk, disse que o novo medicamento, juntamente com um similar, mas menos eficaz, desse laboratório, pode encerrar um chamado tratamento "gap" (brecha, lacuna).

Dieta e exercício, combinados com medicamentos anteriores para obesidade, geralmente produzem uma perda de peso de 10% nos pacientes. É o bastante para melhorar a saúde, mas não para fazer uma grande diferença na vida das pessoas obesas.

O único outro tratamento é a cirurgia bariátrica, que pode resultar em perda de peso substancial. Mas muitas pessoas são inelegíveis ou simplesmente não querem a cirurgia.

Com a droga da Eli Lilly e a semaglutida da Novo Nordisk, que foi recentemente aprovada, "estamos realmente à beira de uma nova forma de tratamento", disse Kushner.

Mas os preços podem ser uma barreira. As seguradoras geralmente não pagam por medicamentos para perda de peso. O medicamento da Novo Nordisk, cuja marca é Wegovy, tem um preço de tabela de US$ 1.349,02 (cerca de R$ 6 mil) por mês.

Especialistas temem que a tirzepatide, se aprovada, possa ter um preço na mesma faixa. Muitas pessoas que mais se beneficiariam da perda de peso talvez não tenham condições de pagar por esses medicamentos.

O estudo da Eli Lilly durou 72 semanas e envolveu 2.539 participantes. Muitos se qualificavam como obesos, enquanto outros estavam acima do peso, mas também apresentavam fatores de risco como pressão alta, níveis elevados de colesterol, doenças cardiovasculares ou apneia obstrutiva do sono.

Eles foram divididos em quatro grupos. Todos receberam aconselhamento dietético para reduzir a ingestão de calorias para cerca de 500 por dia.

Um grupo foi aleatoriamente designado para tomar um placebo, enquanto os outros três receberam doses de tirzepatide que variavam de 5 a 15 mg. Os pacientes injetavam a droga uma vez por semana.

Aqueles que tomaram a dose mais alta perderam mais peso, descobriram os pesquisadores. Os participantes que tomaram placebo perderam 2,4% de seu peso, em média 2,26 quilos, típico para um estudo de dieta.

A doutora Nadia Ahmad, diretora médica sênior do programa de obesidade da Eli Lilly, disse que ver os resultados foi um momento emocionante para ela.

"Acho que nunca imaginei que poderíamos atingir esse grau de perda de peso com um remédio", disse. "Só chegamos até isso com a cirurgia."

Durante décadas, as pessoas com sobrepeso ou obesidade ouviram que resolver o problema dependia delas. Dieta e exercício eram as prescrições e simplesmente não funcionavam para muitas pessoas. A maioria tentou várias dietas, e apenas recuperaram o peso perdido.

No ano passado, a situação começou a mudar quando a Novo Nordisk recebeu aprovação da FDA (agência federal americana que regula alimentos e medicamentos) para comercializar a semaglutida. A droga pode provocar uma perda de peso de 15% a 17% em pessoas com obesidade.

Os medicamentos estão entre uma nova classe de drogas chamadas incretinas, que são hormônios naturais que retardam o esvaziamento do estômago, regulam a insulina e diminuem o apetite. Os efeitos colaterais incluem náuseas, vômitos e diarreia, mas a maioria dos pacientes tolera ou não se incomoda com esses efeitos.

As incretinas elevam o padrão do tipo de perda de peso possível com drogas. Mas também colocam questões difíceis sobre se a cirurgia bariátrica está se tornando uma relíquia do passado. Já existem novas versões de incretinas em desenvolvimento que podem ser ainda mais poderosas do que a droga da Eli Lilly.

Mesmo sem elas, disse Aronne, as reduções observadas com o medicamento da Eli Lilly estão "quase na faixa da perda de peso cirúrgica".

Alguns pacientes que fizeram cirurgia bariátrica descrevem resultados mistos. Sarah Bramblette, membro do conselho da Obesity Action Coalition, fez uma cirurgia bariátrica, mas recuperou o peso.

Agora com 44 anos, Bramblette pesava 226 kgs quando foi operada há 20 anos, o que lhe permitiu chegar a 113 kg. Ao longo dos anos, porém, seu peso voltou para 222 kg. Ela precisava de cirurgia cardíaca, mas era muito pesada para a mesa de operação. Ela tentou fazer dietas diversas vezes, mas os regimes não ajudaram-na.

A semaglutida da Novo Nordisk permitiu que ela chegasse a 195 kgs. Agora, disse Bramblette, ela gostaria de experimentar a droga da Eli Lilly se estiver disponível.

"Acredite, eu não escolhi ser desse tamanho", disse Bramblette. "Eu preciso perder peso."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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