Fazemos tudo errado na busca por amor, diz autora de best-seller sobre relacionamentos

Autora do livro 'How to Not Die Alone', Logan Ury sugere matemática na hora de escolher seu parceiro

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Dani Blum
The New York Times

No pátio de um condomínio de alto padrão, deitada sobre as pedras entre uma sauna e uma mesa de pingue-pongue azul, Logan Ury ouvia a mulher sentada à sua frente falando de como se vincula às pessoas. Uma banheira de hidromassagem borbulhava ao fundo e cordões de luzinhas de fada se estendiam entre as árvores.

A mulher disse que é "evitante" e que por isso estava solteira e estava buscando a ajuda de Ury.

Ury disse que a mulher talvez não estivesse ansiosa –talvez tivesse o hábito de complicar as coisas e isso dificultasse sua própria vida. Ou seja, ela seria sua própria "bloqueadora".

A coach de encontros Logan Ury
A coach de relacionamentos Logan Ury - Marissa Leshnov/The New York Times

Como a mulher havia conhecido seus parceiros românticos passados pessoalmente, Ury sugeriu que ela passasse parte de seu tempo livre, que era pouco, praticando escalada, batendo papo com colegas alpinistas e procurando potenciais parceiros, em vez de ficar sempre mexendo com aplicativos de namoro.

Ury tem 34 anos e integra uma longa linhagem de especialistas em amor que ergueram um verdadeiro complexo industrial desse tipo de profissional. A eles vêm se juntando mais recentemente influenciadores do Tik Tok, podcasters e criadores de infográficos no Instagram que lançam "regras" aleatórias para a procura por parceiros: espere três horas antes de responder uma mensagem, diga a homens que eles lhe passam uma sensação de segurança, controle o impulso de brigar com seu parceiro.

Mas nem todos possuem credenciais como os dela: diploma de psicologia por Harvard e autoria de um livro, "How to Not Die Alone" (Como não morrer sozinho, em português), que já está na oitava tiragem e foi traduzido para 14 idiomas.

De volta à sua mesa uma hora mais tarde, Ury comandou uma sessão de Zoom para 67 pessoas que pagaram quase US$ 2 mil cada por um curso de seis semanas, o que lhes deu a oportunidade de fazer suas perguntas mais urgentes sobre namoro.

Um homem queria saber por que a mulher com quem ele tinha acabado de sair recusou um segundo encontro, apesar de tê-lo abraçado longamente quando eles se despediram e de seus joelhos terem ficado voltados para ele durante grande parte do encontro.

"Sim, preciso confirmar que isso é desnorteante", falou Ury devagar.

Esse é o trabalho dela: validar o que as pessoas lhe dizem e propor estratégias para encontrar o amor no mundo moderno que, segundo ela, são confirmadas por pesquisas. "Procure o amor com atitude de cientista!", ela recomendou quando uma mulher perguntou que idade seria jovem demais para ela encarar a pessoa como possível parceiro romântico. (Ou seja, saia com alguns homens mais jovens, veja como você se sente e depois recalibre.)

Usando números para encontrar o amor

Ury fala sempre como se estivesse num pódio. Ela é uma entrevistada generosa: às vezes leva 25 minutos para responder a uma única pergunta sobre seu trabalho. Ela usa dados com frequência, cita Adam Grant e se refere casualmente a experimentos de economia comportamental.

Sua linguagem faz com que um subconjunto de seus clientes "se sinta em segurança", disse Ury. "Se é um cara focado em engenharia, falo em ‘aversão a perdas’ ou ‘falácia dos custos irrecuperáveis’. Sei que, com certas pessoas, isso as faz ter vontade de trabalhar comigo."

A vida da própria Logan Ury também é pautada por dados, desde a dieta de jejum intermitente que ela segue até o fato de viver na comunidade de luxo Radish, que ela vê como uma utopia cientificamente projetada.

A comunidade é um complexo de quatro edifícios que ela e seu marido, Scott, dividem com 12 engenheiros, cientistas comportamentais, capitalistas de risco e outros, onde o sabonete no banheiro é feito de leite de cabra e os residentes se comunicam através de um canal do Slack chamado " not_a_cult" ("não é uma seita").

Os clientes levam a Ury suas queixas, suas linguagens amorosas e traumas infantis, e Ury lhes fala sobre sua vida romântica, usando quadros fáceis de entender. Ela manda que preencham um questionário de oito perguntas após um encontro romântico. As perguntas abrangem desde até que ponto eles ficaram rígidos e desconfortáveis no encontro até se eles se sentiram "ouvidos" pela outra pessoa.

Se um cliente decide apostar num relacionamento, Ury às vezes recomenda que ele ou ela preencha um "contrato de relacionamento" com o parceiro –um documento de 17 páginas que abrange, entre outras coisas, o número mínimo de vezes que o casal se comprometerá a fazer sexo num período determinado.

Se o relacionamento acabar, Ury propõe seu contrato de separação, que define limites, como se os ex-namorados querem continuar em contato pelo LinkedIn e como pretendem caracterizar o rompimento quando falam com conhecidos.

Há um princípio matemático que Ury gosta especialmente de usar para acalmar seus clientes mais afeitos a dados: uma charada da ciência comportamental conhecida como o problema da secretária. Você precisa contratar uma secretária (o princípio se popularizou na década de 1950) e há cem candidatas ao cargo. Como escolher a pessoa certa? A resposta matematicamente ideal é que você deve entrevistar 37% dos candidatos e descobrir a pessoa que você mais gostou até agora. Essa pessoa se torna sua "referência significativa". Você deve contratar a primeira candidata que parecer ser melhor do que essa "referência".

A versão proposta por Ury é assim: se você vai namorar ativamente dos 18 aos 40 anos, aos 26,1 anos de idade já terá saído com 37% das pessoas com quem você vai sair. Então quando chegar aos 26,1 anos, o ou a melhor ex que você já teve será sua referência significativa. A próxima vez que encontrar alguém de quem gosta mais do que essa "referência", aposte nessa pessoa.

Nem sempre é isso que os clientes querem ouvir, e alguns leitores do livro de Ury rejeitaram o que lhes pareceu ser uma visão árida do amor moderno.

Na resenha que fez do livro de Ury, Shani Silver, que escreve sobre namoro e relacionamentos, opinou: "Se você quer um livro que lhe recomende abrir mão não exatamente de todos os critérios, mas com certeza da ideia de apaixonar-se de verdade, então adicione este livro à biblioteca de títulos que lhe transmitem como sua solteirice é ou deve ser patética e desesperada".

Ury não se incomoda com esse tipo de feedback. Para ela, as pessoas morrem de medo de contentar-se com menos que o ideal.

"Já tive conversas em que falei para uma pessoa: ‘Eu entendo que seus pais estão casados há 40 anos, que tiveram um romance tipo conto de fadas que começou ainda no colégio, que você cresceu ouvindo falar disso e que é isso que você quer. Mas você tem 37 anos. Se você sai num encontro mês sim, mês não, e os caras de quem você gosta não gostam de você, ou você não gosta daqueles que gostam de você –desse jeito você simplesmente não está encontrando gente suficiente.’"

Como chegar ao "intencionalmente para sempre"

Algo que começou para Ury como um cliente aqui e um telefonema acolá ganhou proporções de um negócio que talvez ultrapasse sua capacidade.

Ury oferece coaching individual em pacotes de seis sessões e, muitas vezes, entrega uma ficha de Google Slides ao cliente, com fotos que a pessoa deve acrescentar a seus perfis em sites de busca de relacionamento. Também manda um documento com emendas sugeridas a seus prompts em aplicativos de namoro.

Em maio, ela dirigiu o Propel, um "campo de treinamento" de uma semana para 128 pessoas ao custo de US$ 480 por cabeça, e está se preparando para lançar outro curso de namoro maior e mais longo no outono.

Ela sempre menciona seu dom para "reconhecer padrões" –a capacidade de ver e sintetizar os pontos no histórico de namoro de alguém. Para isso, ela pede a seus clientes que completem "auditorias de relacionamento" – detalhando quem namoraram, como conheceram cada pessoa e por que os relacionamentos terminaram.

"Não me coloco como guru", disse Ury. "Digo às pessoas: vou criar um sistema que ajude você a enfrentar seus pontos cegos e mudar suas decisões."

Estávamos conversando no Blueberry, um prédio roxo que abriga a cozinha de Radish, e Ury estava ficando impaciente. Saímos para passear; ela me levou para dar uma volta pelas ruas da cidade, segurando uma caneca de café preto com as palavras "INTENCIONALMENTE PARA SEMPRE".

Perguntei se ela estava surpresa com o esforço que seus clientes despendiam para moldar suas histórias e piadas, seus empregos, suas infâncias e ex-namorados, para formar pacotes "palatáveis". Ury riu.

"Encontrar alguém para namorar é um problema sério", ela disse. "Se a pessoa está solteira e quer encontrar alguém, ela topa fazer muita coisa para resolver seu problema."

Tradução de Clara Allain

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