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Teste de novo medicamento para Alzheimer tem resultados decepcionantes

Droga não retardou declínio cognitivo; estudo durou uma década e contou com 6 mil participantes

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Pam Belluck
The New York Times

Um ensaio clínico minucioso de um potencial medicamento para Alzheimer não conseguiu evitar ou retardar o declínio cognitivo, em mais uma decepção na longa e difícil busca por soluções para essa doença.

O teste, que durou uma década, foi a primeira vez que pessoas com predisposição genética a desenvolver a doença, mas que ainda não apresentavam nenhum sintoma, receberam um medicamento destinado a interromper ou retardar o declínio das funções cerebrais.

Os participantes eram membros de uma família extensa de 6 mil pessoas na Colômbia, das quais cerca de 1.200 têm uma mutação genética que praticamente determina que desenvolverão Alzheimer entre os 40 e 50 anos de idade.

Teste de novo medicamento contra o mal de Alzheimer tem resultados decepcionantes - Nomad_Soul/Adobe Stock

Para muitos membros da família, que vivem em Medellín e em aldeias remotas nas montanhas, a doença rapidamente roubou sua capacidade de trabalhar, se comunicar e realizar funções básicas. Muitas morreram na casa dos 60 anos.

No estudo, 169 pessoas com a mutação genética receberam um placebo ou o medicamento crenezumab, produzido pela Genentech, parte do Grupo Roche. Outras 83 pessoas sem a mutação receberam o placebo como forma de proteger a identidade das pessoas com probabilidade de desenvolver a doença, que é altamente estigmatizada em suas comunidades.

Os pesquisadores esperavam que a intervenção com um medicamento anos antes do surgimento de problemas de memória e raciocínio pudesse manter a doença sob controle e fornecer informações importantes para lidar com o tipo mais comum de Alzheimer, que não é causado por uma única mutação genética.

"Estamos desapontados porque o crenezumab não apresentou um benefício clínico significativo", disse Eric Reiman, diretor executivo do Banner Alzheimer's Institute, um centro de pesquisa e tratamento em Phoenix, no Arizona (Estados Unidos), e líder da equipe de pesquisa, em entrevista coletiva sobre os resultados.

"Nossos corações estão com as famílias na Colômbia e com todas as outras que se beneficiariam de uma terapia eficaz de prevenção de Alzheimer o mais rápido possível. Ao mesmo tempo, nos animamos por saber que este estudo lançou e continua ajudando a moldar uma nova era na pesquisa de prevenção de Alzheimer."

Os resultados também são outro revés para os medicamentos que têm como alvo um elemento-chave na doença: a proteína amiloide, que forma placas pegajosas no cérebro dos pacientes. Anos de estudos com vários medicamentos que atacam a amiloide em diferentes estágios da doença caíram por terra.

Em 2019, a Roche suspendeu dois outros testes de crenezumab, um anticorpo monoclonal, em pessoas nos estágios iniciais da doença de Alzheimer mais típica, dizendo que era improvável que os estudos revelassem benefícios.

No ano passado, em uma decisão altamente controversa, a FDA (Agência de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos) concedeu sua primeira aprovação de um medicamento antiamiloide, o Aduhelm.

A FDA reconheceu que não estava claro se o Aduhelm poderia ajudar os pacientes, mas deu sinal verde para um programa que permite a autorização de medicamentos com benefícios incertos se forem para doenças graves com poucos tratamentos e se os medicamentos afetarem um mecanismo biológico com probabilidade razoável de ajudar os pacientes.

A agência disse que o mecanismo biológico era a capacidade do Aduhelm de atacar a amiloide, mas muitos especialistas em Alzheimer criticaram a decisão por causa do fraco histórico das terapias antiamiloide. Os resultados do estudo, divulgados na quinta-feira (16), só aumentaram as evidências desanimadoras.

"Gostaria que houvesse algo mais positivo para dizer", disse o dr. Sam Gandy, diretor do Centro de Saúde Cognitiva do Monte Sinai, que não participou da pesquisa na Colômbia.

"Sabe-se que a mutação patogênica na família colombiana está envolvida no metabolismo da amiloide", disse Gandy, acrescentando: "A ideia era que esses fossem os pacientes com maior probabilidade de responder aos anticorpos antiamiloide".

O dr. Pierre Tariot, diretor do Banner Alzheimer's Institute e líder da pesquisa colombiana, disse que alguns dos dados sugerem que os pacientes que receberam crenezumab se saíram melhor do que aqueles que receberam o placebo, mas as diferenças não foram estatisticamente significativas.

Ele também disse que não houve problemas de segurança com a droga, uma descoberta importante porque muitas terapias antiamiloides, incluindo Aduhelm, causaram sangramento ou inchaço cerebral em alguns pacientes.

Dados adicionais do estudo serão apresentados em uma conferência em agosto. Tariot e Reiman observaram que os últimos resultados não incluíam informações mais detalhadas de imagens cerebrais ou análises de sangue sobre os efeitos da droga nas proteínas e outros aspectos da biologia da doença de Alzheimer.

Eles também não refletiram aumentos na dose de crenezumab, que os pesquisadores começaram a dar aos pacientes à medida que aprendiam mais sobre a droga, disse Tariot. Ele afirmou que alguns pacientes receberam a dose mais alta durante até dois anos dos cinco a oito em que participaram do ensaio clínico.

O dr. Francisco Lopera, neurologista colombiano e outro líder da pesquisa, começou a trabalhar com os membros da família décadas atrás e ajudou a determinar que sua doença era uma forma genética de Alzheimer. Ele disse que o estudo o convenceu de que "a prevenção é a melhor maneira de buscar solução para a doença de Alzheimer, mesmo que hoje não tenhamos um bom resultado".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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