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Buldogue francês causa fascínio, mas tem mais problemas de saúde e risco de roubo

A raça tem expectativa de vida baixa, mas se tornou a queridinha dos famosos e influenciadores

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Thomas Fuller
The New York Times

O comércio de buldogues franceses está bombando para Jaymar Del Rosario, criador que chega a vender um filhote por milhares de dólares. Quando sai de casa para se encontrar com um cliente, porém, a lista de itens obrigatórios inclui a papelada do veterinário, um saco de ração e uma pistola Glock 26.

"Se não conheço a área nem o pessoal, vou sempre armado", admitiu ele há pouco tempo, ao me mostrar Cashew, de seis meses, da nova variedade "peluda", que chega a custar mais de US$ 30 mil.

De orelhinhas pontudas, olhar pidão, patas curtas e gingado de jacaré, a raça se tornou a queridinha dos influenciadores, astros do pop e atletas profissionais. Companheira leal na era do home office, parece sempre pronta para se mostrar nos posts do Instagram. Tanto que já é a segunda mais popular nos EUA, perdendo só para o labrador retriever.

Buldogue francês é uma raça que causa fascínio entre os tutores - Eduardo Knapp/Folhapress

Por isso também, alguns são violentamente tirados de seu tutor. No último ano, várias queixas foram registradas em Miami, Nova York, Chicago, Houston e principalmente na Califórnia. Normalmente, o cão é roubado na base da mão armada.

Naquele que talvez tenha sido o ataque mais famoso até agora, Koji e Gustav, os dois buldogues de Lady Gaga, foram arrancados das mãos do passeador, que tomou um mata-leão e um tiro no ataque cometido no ano passado, em uma calçada em Los Angeles.

Há anos, o preço de ter um francesinho em casa é uma facada no orçamento, pois normalmente o filhote sai entre US$ 4 mil e US$ 6 mil, ou muito mais se for de uma das novas variedades, mas agora cada vez mais ele se traduz em detalhes não monetários também, como a paranoia do suspeito se aproximando da cerca do jardim e a vigilância redobrada na caminhada depois de ler sobre a violência mais recente.

Para os pobres tutores, o buldogue francês reúne duas características muito norte-americanas: o amor pela companhia canina e a onipresença das armas de fogo.

Em uma noite fria de janeiro, no bairro de Adams Point, em Oakland, na Califórnia, Rita Warda passeava com Dezzie, de sete anos, pertinho de casa quando um utilitário parou no meio-fio ao seu lado e os passageiros saíram, avançando em sua direção. "Estavam armados e me mandaram entregar o cachorro", contou ela.

Três dias depois, recebeu o telefonema de uma desconhecida, dizendo que encontrara o cãozinho zanzando perto de um colégio. Warda agora está fazendo aulas de autodefesa e aconselha o tutor a carregar um spray de pimenta ou apito consigo.

Ela diz não saber por que os criminosos desistiram de seu pequeno, mas desconfia que possa ter sido pela idade: o buldogue francês tem uma das expectativas de vida mais baixas entre as raças, e sete anos já são considerados velhice avançada.

Segundo Patricia Sosa, dona de um criadouro a norte de Nova Orleans, a sanha do lucro com a febre da raça também gerou um mercado de falsários, que exigem depósito por cães que não existem.

"Tem muito golpe na praça. A pessoa resolve colocar um buldogue que não possui à venda, anuncia, fatura cinco, seis, sete mil e some", explicou ela, que é membro da diretoria do Clube do Buldogue Francês dos EUA. E completou: "Os criadores são ainda mais vulneráveis aos roubos. Só forneço meu endereço depois de fazer uma pesquisa boa sobre o cliente. E instalei câmeras em todo lugar."

Como o nome indica, o buldogue francês é uma versão que surgiu naquele país a partir da versão inglesa, menorzinha, em meados do século XIX.

As primeiras levas do bouledogue français, como é chamado na terra natal, eram usadas pelos açougueiros de Paris como caçadoras de ratos; foi só depois que a raça se tornou mascote de artistas e da burguesia – e até modelo das obras de Edgar Degas e Henri de Toulouse-Lautrec. Hoje, o American Kennel Club o define como tendo "cabeça quadrada, orelhas de morcego e costas de barata".

No mundo da medicina veterinária, ele é polêmico justamente por causa de suas características que fazem tanto sucesso – o cabeção e os olhinhos de filhote, esbugalhados, o nariz achatado e as dobras de pele. Elas criam o que Dan O'Neill, especialista da Faculdade Real de Veterinária da Universidade de Londres, chama de "ultrapredisposições" a problemas de saúde.

A cabeça é tão grande que a mãe tem problemas na hora do parto, e por isso a maioria nasce de cesariana; o corpo, pequeno e musculoso, também dificulta a concepção natural. Assim, os criadores normalmente apelam para a inseminação artificial.

Mas o que mais preocupa pesquisadores como O'Neill é a cara achatada, que dificulta a respiração do cachorro. De fato, ele faz barulho de ronco mesmo quando totalmente desperto, se cansa fácil e é muito suscetível ao calor, sem contar que pode desenvolver vermelhões nas dobras de pele. Por causa dos olhos saltados, alguns nem conseguem piscar direito.

O'Neill lidera um grupo de profissionais do Reino Unido que pede aos compradores em potencial que "parem e pensem antes de comprar um cão de cara achatada", categoria que inclui não só o buldogue francês, mas o inglês, o pug, o shih tzu, o pequinês e o boxer.

"A coisa é tão séria que já há uma crise", afirmou ele, que, em pesquisa recente, concluiu que o francesinho tem quatro vezes mais problemas de saúde que todas as outras raças juntas.

Mas nem os apelos nem os alertas impediram que a raça disparasse em popularidade, estimulada principalmente nas redes sociais. Como nos EUA, no Reino Unido ele vem disputando cabeça a cabeça com o labrador o título de raça mais popular nos últimos anos.

Sosa garantiu que os problemas da raça são resultado de problemas de cruza. "Um cão de raça de bons antecedentes é relativamente saudável."

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