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Exercício físico regular pode melhorar a imunidade, sugere estudo

Trabalho foi feito durante a pandemia de Covid; autores teorizam que a prática ajuda a combater bactérias e vírus

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Knvul Sheikh
The New York Times

Você provavelmente já ouviu o conselho: uma das melhores coisas que se pode fazer para se manter saudável –especialmente quando a temporada de gripes e resfriados se aproxima– é manter-se ativo fisicamente.

Essa sabedoria popular é muito antiga, mas até recentemente os pesquisadores não tinham muitos dados para sustentar a ideia. Agora, cientistas que estudam fatores de risco relacionados à Covid-19 encontraram algumas evidências preliminares sobre a ligação entre praticar exercícios regularmente e melhores defesas imunológicas contra doenças.

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Pessoas fazem exercício físico no Parque do Ibirapuera, em São Paulo - 03.dez.2020 - Danilo Verpa/Folhapress

Quando pesquisadores revisaram 16 estudos feitos com pessoas que permaneceram fisicamente ativas durante a pandemia, descobriram que o exercício físico estava associado a um menor risco de infecção, assim como a uma menor probabilidade de Covid-19 grave.

A análise, publicada no mês passado no British Journal of Sports Medicine, gerou grande entusiasmo entre os cientistas do exercício, segundo os quais as descobertas podem levar a diretrizes atualizadas para atividade física e políticas de saúde que giram em torno do exercício como medicamento.

Especialistas que estudam imunologia e doenças infecciosas são mais cautelosos ao interpretar os resultados. Mas concordam que o exercício físico pode ajudar a proteger a saúde por meio de vários mecanismos diferentes.

O exercício pode reforçar a imunidade de várias maneiras

Há décadas, cientistas observam que as pessoas em forma e fisicamente ativas parecem ter taxas mais baixas de diversas infecções do trato respiratório. E quando as pessoas que se exercitam ficam doentes tendem a ter problemas menos graves, disse David Nieman, professor de saúde e ciência do exercício da Universidade Estadual Appalachian, que não participou da recente revisão da Covid-19.

"O risco de desfechos graves e mortalidade por resfriado comum, gripe, pneumonia é bastante reduzido em todos", disse Nieman. "Eu chamo isso de efeito semelhante à vacina."

A nova meta-análise, que analisou estudos entre novembro de 2019 e março de 2022, descobriu que esse efeito se estende à Covid-19. Pessoas do mundo inteiro que se exercitavam regularmente tinham um risco 36% menor de hospitalização e um risco 43% menor de morte por Covid em comparação com aquelas que não eram ativas. Elas também tinham uma probabilidade menor de contrair a doença.

As pessoas que seguiram as diretrizes que recomendam pelo menos 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana pareciam obter o maior benefício. Mas mesmo aquelas que se exercitavam menos estavam mais protegidas contra doenças do que as que não se exercitavam.

Os pesquisadores teorizam que o exercício pode ajudar a combater bactérias e vírus infecciosos, aumentando a circulação de células imunes no sangue, por exemplo.

Em alguns estudos menores, os pesquisadores também descobriram que a contração e o movimento dos músculos lançam proteínas sinalizadoras conhecidas como citocinas, que ajudam a direcionar as células imunológicas para encontrar e combater a infecção.

Mesmo que seus níveis de citocinas e células imunes diminuam duas ou três horas após você parar de se exercitar, disse Nieman, seu sistema imunológico se torna mais responsivo e capaz de detectar patógenos mais rapidamente ao longo do tempo se você se exercitar todos os dias.

"Seu sistema imunológico fica preparado e em melhor forma para lutar com uma carga viral a qualquer momento", declarou ele.

Em pessoas saudáveis, a atividade física também tem sido associada a uma menor inflamação crônica. A inflamação generalizada pode ser extremamente prejudicial, chegando a voltar suas próprias células imunológicas contra seu corpo. É um fator de risco conhecido para Covid-19, disse Nieman. Portanto, faz sentido que reduzir a inflamação possa melhorar suas chances de combater a infecção, afirmou ele.

A pesquisa também mostra que o exercício pode amplificar os benefícios de algumas vacinas. Pessoas que se exercitaram logo após tomarem a vacina contra Covid, por exemplo, parecem ter produzido mais anticorpos. Em estudos com idosos que foram vacinados no início da temporada de gripe, os que se exercitavam tinham anticorpos que duravam todo o inverno.

O exercício proporciona uma série de benefícios de saúde mais amplos que podem ajudar a reduzir a incidência e gravidade da doença, disse Stuart Ray, especialista em doenças infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins.

Incluir em sua rotina uma caminhada, corrida, treino em academia ou esporte de sua escolha ajuda a reduzir a obesidade, diabetes e doenças cardíacas, por exemplo, todas elas fatores de risco para gripes graves e Covid-19.

Exercitar-se ao ar livre pode te ajudar a ter um sono mais tranquilo, melhorar seu humor, seu metabolismo de insulina e sua saúde cardiovascular, aumentando suas chances contra a gripe e a Covid. É difícil saber, disse Ray, se os benefícios vêm de mudanças diretas no sistema imunológico ou apenas de uma saúde geral melhor.

Peter Chin-Hong, especialista em doenças infecciosas da Universidade da Califórnia em San Francisco, concordou que há necessidade de mais pesquisas para que os cientistas possam identificar um mecanismo específico ou uma relação de causa e efeito. Enquanto isso, ele disse, é importante não acreditar demais nessa ideia.

"Por enquanto, você não pode dizer: 'Vou à academia para evitar a Covid'", disse Chin-Hong. O problema de estudar o efeito preciso da atividade física sobre a imunidade é que o exercício não é algo que os cientistas possam medir facilmente em uma escala linear, disse ay. "As pessoas se exercitam de muitas maneiras diferentes."

Os participantes de estudos geralmente relatam a quantidade e a intensidade do exercício praticado, o que muitas vezes pode ser impreciso. E só o fato de esperar que o exercício seja benéfico pode produzir um poderoso efeito placebo.

Como resultado, pode ser difícil para os pesquisadores dizer exatamente quanto exercício ou de que tipo é ideal para a função imunológica. Também é muito possível que as pessoas que se exercitam regularmente tenham outros atributos em comum que as ajudam a combater infecções, como uma dieta variada ou melhor acesso a cuidados médicos, disse Ray.

Além disso, "há uma grande discussão sobre se o excesso de exercício torna a pessoa mais suscetível a infecções e doenças", disse Richard Simpson, que estuda fisiologia e imunologia do exercício na Universidade do Arizona.

Os maratonistas costumam relatar que ficam doentes depois das corridas, disse Simpson, e alguns pesquisadores pensam que muito exercício vigoroso pode inadvertidamente superestimular citocinas e inflamação no corpo.

Exercitar-se sem pausas também esgota os estoques de glicogênio do corpo, o que, para algumas pessoas, pode prejudicar a função imunológica durante algumas horas ou dias, dependendo de sua saúde básica, disse ele.

E malhar em grupos ou participar de acampamentos de treino esportivo intenso pode expor os atletas a mais patógenos. Outros especialistas apontam que as pessoas que são fisicamente ativas podem simplesmente acompanhar sua saúde mais de perto.

Ainda assim, para o praticante médio, evidências iniciais sugerem que pode haver um efeito protetor contra doenças graves.

Mas aqueles que têm dificuldade para se exercitar o suficiente ou não podem se exercitar por algum motivo não devem se desesperar, disse Ray. "O que ajuda uma pessoa a se manter saudável em comparação com outra é uma complexa combinação de fatores."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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