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Quais os melhores tratamentos para insônia? Veja o especialistas dizem

Médicos afirmam que a psicoterapia é a abordagem mais eficaz, mas mudanças no estilo de vida e medicamentos podem ajudar

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Ribeirão Preto

A insônia é o distúrbio do sono mais comum no mundo, e pode atingir até 22% da população, de acordo com a Associação Brasileira do Sono. Especialistas afirmam que a psicoterapia é a abordagem mais eficaz para o tratamento, embora medicamentos e mudanças no estilo de vida também possam ajudar.

Rosa Hasan, médica neurologista e coordenadora do laboratório de sono do Instituto de Psiquiatria do hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), explica que não existem remédios milagrosos contra o distúrbio.

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Segundo especialistas psicoterapia é o tratamento mais eficaz para insônia - Burdun/Adobe Stock

De acordo com a médica, os remédios podem ajudar no tratamento, mas eles nunca devem ser utilizados isoladamente. Os pacientes devem, primeiro, procurar solucionar os problemas que causam a falta de sono – sejam eles as doenças de base, como a ansiedade, ou os problemas do dia a dia.

A terapia cognitivo comportamental para a insônia busca mudar os hábitos associados a uma má qualidade de sono e tratar os problemas causadores.

Uma revisão publicada esse ano na revista científica Sleep Medicine Reviews, mostrou que esse tipo de terapia é efetivo tanto para pacientes apenas com insônia, quanto para pacientes que também possuem comorbidades, como dependência alcoólica e transtorno bipolar.

Outro estudo publicado no último ano no periódico científico JAMA Psyquiatry, mostrou que tratar pacientes insones com a terapia cognitico comportamental para a insônia também evita a recorrência de casos de depressão associados a esse distúrbio.

A insônia crônica é uma condição em que o indivíduo encontra dificuldade para dormir pelo menos três vezes na semana por um período de três meses. Diferentemente dos indivíduos que naturalmente precisam de poucas horas de sono, nos insones essa dificuldade atrapalha as atividades do dia a dia.

O transtorno também é diferente da privação de sono. Pessoas com privação são aquelas impedidas de dormir por barulhos ou pela carga de trabalho, por exemplo. Insones, por outro lado, são aqueles que mesmo diante da possibilidade de dormir, não conseguem.

Helena Hachul, médica pesquisadora do Instituto do Sono e chefe do setor do Sono na Mulher da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), explica que a insônia é um distúrbio causado por diversos fatores.

De acordo com ela, existem pessoas com uma predisposição genética maior, mas os casos geralmente são impulsionados por fatores chamados precipitantes, como doenças ou problemas de família. Depressão, ansiedade e dor crônica são condições conhecidamente associadas a insônia.

Mulheres também são mais acometidas. O ciclo hormonal pode causar dificuldades no sono, bem como outros fenômenos exclusivamente femininos, como a menopausa, a gravidez e a síndrome do ovário policístico. Segundo a médica, as pressões sociais que incidem sobre as mulheres, como os cuidados domésticos, também influenciam.

Além dos fatores precipitantes, ainda existem os fatores perpetuantes, os maus comportamentos que pioram o quadro de insônia, como o alto consumo de cafeína.

Para Hachul, mudar os maus hábitos associados a insônia é a principal parte do tratamento, mas também a mais difícil. Para evitar que episódios aconteçam, o primeiro passo deve ser a higiene do sono:

  • Evitar luz artificial durante a noite. O escuridão é o principal fator necessário para a liberação de melatonina, hormônio responsável pelo sono. Luzes artificiais, como as de celulares e televisores, atrapalham a produção desse hormônio.
  • Evitar comer muito e consumir bebidas alcoólicas ou estimulantes antes de dormir.
  • Ter uma rotina. Horários certos para acordar e ir deitar ajudam a regular o sono e diminui a dificuldade para dormir.
  • Fazer exercícios físicos e ter uma alimentação saudável também são indicados. Um corpo ativo e saudável contribui para a saúde mental, o que também ajuda na melhora do sono.
  • Ter um quarto apenas para dormir. Evitar utilizar o quarto para outras atividades ajuda o corpo a entender que aquele espaço é apenas para o descanso, o que facilita o sono. Ter uma luz mais baixa nesse ambiente e evitar ficar deitado na cama para fazer outras atividades também contribuem para uma noite melhor.

Ainda de acordo com a médica, atividades relaxantes e alguns alimentos também podem auxiliar uma noite bem dormida.

Estudos realizados no Instituto do Sono, na capital de São Paulo, mostraram a efetividade de abordagens como a aromaterapia com lavanda, a meditação do tipo mindfulness e o ioga no tratamento da insônia.

Um artigo cientifico publicado pelo instituto mostrou que alguns alimentos, como leite, frutas vermelhas, kiwi, alface e maracujá são fontes naturais de melatonina, o que melhora a qualidade do sono. Segundo a pesquisadora, um dos próximos passos será o estudo do canabidiol, um dos componentes da maconha, para o tratamento dessa condição. Apesar do uso disseminado, até hoje ainda não existem evidências robustas da efetividade da substância para esse fim.

Segundo o neurocientista Andrei Mayer, professor do Departamento de Ciências Fisiológicas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), ouvido por reportagem da Folha no blog Saúde Mental, a melatonina sintética também pode trazer benefícios, mas o efeito é pequeno.

"A melatonina pode ajudar a dormir no horário certo, com uma qualidade de sono melhor e com uma duração maior. Porém estudos de meta-análise mostram que o efeito dela sobre todos esses parâmetros é muito pequeno. Para ter uma ideia, um estudo de 2005 apontou que a latência é reduzida em quatro minutos, ou seja, a pessoa vai conseguir adormecer quatro minutos mais cedo. A eficiência do sono aumenta, mas apenas em 2.2%, e a duração total do sono aumentou apenas 13 minutos", diz o especialista.

A neurologista Rosa Hasan explica que nenhum medicamento aprovado no Brasil hoje é destinado apenas para o tratamento de insônia. Quando necessário, os médicos receitam sedativos ou doses baixas de alguns antidepressivos para os pacientes, mas eles causam dependência e muitos efeitos colaterais.

Os medicamentos destinados para a insônia são os antagonistas da hipocretina, uma substância produzida no cérebro responsável por manter a pessoa acordada. Um estudo científico recente mostrou que o lemborexant é o mais efetivo desses medicamentos. O fármaco já está em análise pela Anvisa e pode chegar ao Brasil ainda em 2023.

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