Jogador da NBA usa ioga para manter o corpo e a mente no lugar

Kevon Looney, do Golden State Warriors, pratica um método específico para atletas e vê resultados no seu desempenho

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Scott Cacciola
The New York Times

No início da manhã de um domingo, Kevon Looney, jogador da equipe de basquete profissional americana Golden State Warriors, foi para um espaço tranquilo no quarto andar do Chase Center com janelas panorâmicas que oferecem uma vista ampla da baía de San Francisco. O sol estava começando a aparecer no céu nublado quando Looney apoiou seu iPad contra uma pequena coluna metálica, abriu sua esteira preta de ioga e saudou uma das figuras mais importantes de sua vida profissional.

Kevon Looney fazendo ioga
Kevon Looney pratica "Joga", ioga direcionada para atletas, antes das partidas ORG XMIT: XNYT63 - NYT

A voz que emanou do iPad era de Jana Webb, criadora de um estilo de ioga que ela batizou de "Joga" e que idealizou originalmente como ioga para atletas. Webb, 47, apareceu numa videoconferência. Estava em sua casa em Toronto e usava um boné de beisebol para trás. É registrada no telefone de Looney como "Jana Joga".

"Como está o corpo hoje?", ela perguntou.

"Muito bom", respondeu Looney.

Moses Moody, um dos colegas de time de Looney, também estava na videoconferência, participando em seu apartamento próximo à arena. Eram 8h30, quatro horas antes da quarta partida da série de playoffs da primeira rodada contra o time Sacramento Kings. Webb passou os 40 minutos seguintes orientando os dois jogadores em uma série de movimentos cuja finalidade era soltar suas articulações, ativar seus músculos e deixá-los mentalmente centrados.

"Estique, estique, estique", disse Webb a Looney, que mede 2,05 m. Ele ficou na ponta dos pés e estendeu os braços para o alto, enquanto uma pequena poça de transpiração se formava sobre a esteira. "Estique essa fáscia como se estivesse tentando alcançar a rede. Fantástico. Agora segure nessa posição."

Webb se referia à fáscia, que é um tecido conectivo presente em todo o corpo, e não à face, ou rosto, embora o rosto de Looney também aparentasse alguma tensão.

No início de sua carreira de jogador profissional, Looney parecia se lesionar a todo momento. Mas nas duas últimas temporadas ele se destacou como o jogador mais resistente de seu time, participando de todas as partidas, sem exceção. Ele pratica ioga antes de cada jogo, quer esteja em sua cidade ou na estrada.

Após a sessão de domingo, Looney fez uma ótima partida contra os Kings, terminando com oito pontes, 14 rebotes e nove assistências, ajudando seu time a conquistar sua segunda vitória consecutiva em casa e até mesmo a série, com duas partidas em cada. No jogo três, ele terminou com quatro pontos, 20 rebotes e nove assistências e ajudou a compensar pela ausência de Draymond Green, que estava suspenso.

O treinador do Golden State, Steve Kerr, comentou a respeito de Looney: "Ele sempre fica atento ao plano de jogo. Nunca comete erros. Seus rebotes são incríveis. Ele toma a decisão acertada. O jogo fica muito mais fácil para nosso pessoal quando Loon está presente."

Looney, que já venceu três campeonatos com os Warriors, disse que o trabalho físico que faz com Webb o ajudou a enfrentar os rigores físicos e mentais da NBA. Essas exigências só aumentaram na pós-temporada.

Jogo dos Golden State Warriors
Kevon Looney jogando pelo Golden State Warriors - The New York Times

"É uma coisa brutal", afirma. "Cada posse de bola é intensa. Quando a partida termina, você está exaurido."

Nesta fase da temporada, quando os jogadores já estão cansados e estressados, a rotina do dia seguinte a cada partida ganham importância adicional. Os jogadores procuram qualquer vantagem possível, especialmente este ano, quando as lesões sofridas por ases como Paul George, Kawhi Leonard e Giannis Antetokounmpo são um fator de inflência. Alguns jogadores priorizam suas sonecas. Outros confiam em seus tênis da sorte. Looney pratica ioga.

"Adoro ter 30 minutos para estar presente no meu corpo e prestar atenção em como estou me sentindo realmente", diz.

Looney começou a praticar ioga quando estava no último ano do Ensino Médio, em Milwaukee. Lou Chapman, um de seus primeiros treinadores de basquete, o apresentou à bikram ioga –também conhecida como hot ioga— quando um novo estúdio foi aberto. Looney recordou que mal conseguiu sobreviver à primeira aula.

"Eu me achava um atleta de alto nível, mas aquela sessão de ioga me deixou detonado", conta.

Seu lado competitivo fez com ele continuasse com a ioga. Além disso, Chapman havia conseguido descontos para seus jogadores e queria que eles aproveitassem a oportunidade.

"Acho que fizemos 90 dias seguidos de ioga", conta Chapman, 42.

Durante sua única temporada na UCLA, Looney se rendeu a sua agenda lotada e se afastou da ioga. Quando o Golden State o selecionou como o 30º escolhido na lista dos jogadores apontados pela NBA em 2015, ele perdeu a maioria das partidas de seu primeiro ano na liga devido a lesões nos quadris. Mais tarde, enfrentou dor crônica nos nervos. Nas finais da NBA em 2019 ele quebrou a clavícula, e em 2020 passou por uma cirurgia muscular. Looney voltou para a temporada de 2020-2021, mas se decepcionou com sua performance.

"Eu não estava me movimentando tão bem quanto no passado", diz. "Não tinha o mesmo ímpeto ou coordenação."

Depois da temporada, Looney procurou Rick Celebrini, diretor de medicina esportiva e performance do Golden State, para perguntar se ele poderia indicar um professor de ioga.

Celebrini já tinha alguém em mente. Ele colocou Looney em contato com Webb, canadense como ele e que vinha trabalhando com outros atletas havia anos. A primeira sessão virtual que fizeram não foi fácil.

"Não vou dizer que adorei, principalmente porque fui péssimo", conta o jogador.

Looney passou a fazer "Joga" várias vezes por semana naquele verão e depois fez uma pausa nas sessões no início da temporada de 2021-2022. Ele achou na época que a prática poderia simplesmente fazer parte de sua rotina de exercício fora da temporada de basquete.

"Mas, depois de seis ou sete partidas, parecia que meu corpo estava voltando a como era antes", diz. "Minhas costas doíam, e algumas partes de mim não estavam se movendo tão bem. Então voltei a procurar Webb: ‘Podemos fazer as aulas nos dias de jogo?’"

Na metade da temporada passada, Looney já estava tão convencido do valor da prática que organizou uma sessão de ioga para qualquer pessoa do basquete –jogadores, treinadores e funcionários— que quisessem entender mais sobre o método. Como sempre, Webb comandou a aula à distância. Mesmo a milhares de quilômetros de distância, percebeu que o nível de interesse dos participantes era desigual.

"Draymond ficou cortando as unhas do pé durante a aula", diz ela, rindo. "Fiquei pasma. ‘Será que isso está acontecendo de verdade?’."

O que Moses Moody tirou da sessão foi um senso de perplexidade. Quando era adolescente em Little Rock, Arkansas, ele havia feito aulas de ioga na LA Fitness. Mas, para ele, era como se Jana Webb estivesse falando uma língua estrangeira.

"Ela estava falando tão rápido sobre todos os músculos que a gente devia estar ativando", diz Moody. "Eu estava ao lado de Loon e tentava seguir seu exemplo, mas não entendia o que estava fazendo."

Mas Moody também ficou intrigado. Ele passou as duas semanas seguintes enchendo Looney de perguntas sobre Webb e sobre anatomia humana. Depois disso, ligou para Webb. "Ela me deu todas as explicações."

Looney convidou Moody a participar de sua próxima sessão antes de uma partida e pagou por todas as aulas dele pelo resto da temporada. Desde então, os dois viraram colegas inseparáveis de "Joga". Se o time tem um treino programado para as 11h, Looney e Moody geralmente levam suas esteiras para a quadra de treino do time às 8h30 para fazer 40 minutos de alongamento, afundos, contorções e exercícios respiratórios.

"Sinto a diferença quando eu deixo de fazer a 'Joga' antes", conta Moody. "A 'Joga' te deixa com os movimentos mais fluidos, flexíveis. Quando a bola está querendo escapar do aro, você se sente como Homem Aranha."

Tradução de Clara Allain

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