De acordo com algumas estimativas, o Instagram abriga cerca de 50 mil influenciadores fitness, a maioria que diz ter os segredos de um estilo de vida saudável. Enquanto alguns compartilham dicas úteis apoiadas pela ciência, outros promovem conselhos de condicionamento físico que são equivocados, na melhor das hipóteses, e perigosos, na pior.
Em um novo estudo, pesquisadores descobriram que quase dois terços dos cem influenciadores fitness mais populares careciam de bons conselhos ou postavam mensagens que podiam afetar negativamente a saúde mental e física das pessoas. Por exemplo, ao promover o exercício como uma ferramenta para emagrecer.
"Muito do que poderia ser chamado de conteúdo de influenciadores fitness é realmente apenas ‘inspiração' para emagrecer disfarçada", diz Renee Engeln, professora de psicologia na Universidade Northwestern que estuda como a mídia influencia a imagem corporal e que não participou da pesquisa citada.
Vários estudos anteriores mostraram que a exposição a imagens que incentivam um físico específico está relacionada a uma queda na satisfação corporal, no humor e na autopercepção da atratividade sexual. Também tem sido associada a distúrbios alimentares.
Ser capaz de distinguir entre as contas que promovem a saúde e as potencialmente prejudiciais pode ser um desafio, mesmo para os pesquisadores, afirma Engeln.
"Um influenciador pode postar um tutorial útil sobre como fazer agachamentos com segurança", ela escreveu num email, "mas depois seguir com conteúdo que promove suplementos ineficazes (ou mesmo perigosos) para perder peso."
Então, como você pode encontrar contas confiáveis? O que deve procurar ao decidir quais fitfluencers seguir? Aqui estão quatro regras práticas de especialistas.
Faça uma checagem interna e responda a uma pergunta crucial
Stephanie Roth-Goldberg, assistente social clínica e terapeuta em Nova York que trabalha com atletas, sugere perguntar a si mesmo: esse influenciador faz você se sentir bem consigo mesmo?
Se navegar na conta dele faz você sentir culpa ou vergonha do seu corpo, deve sair automaticamente, diz ela, pois pesquisas mostraram que esses sentimentos podem alimentar hábitos de condicionamento físico prejudiciais e minar os benefícios físicos e psicológicos do exercício.
Se você é pai de adolescentes com contas de rede social, é importante orientá-los no mesmo processo, conforme recomendações recém-divulgadas pela Associação Americana de Psicologia. O grupo pede aos pais que eduquem os filhos para questionarem a exatidão do conteúdo da rede social –antes mesmo de abrirem contas– e os desencorajem de comparar seus corpos com os que veem online.
"Uma das melhores coisas que os pais podem fazer é sentar com seus filhos e iniciar uma conversa" sobre redes sociais, pontua Roth-Goldberg. Isso não apenas ajuda os pais a entender o que seus filhos estão obtendo de cada conta, como também pode fornecer às crianças uma linguagem para descrever o que sentem diante do que veem.
Encontre contas que se concentrem no que seu corpo pode fazer
Dê uma olhada nas imagens, vídeos e textos apresentados em uma conta. Quando somos expostos a conteúdos que nos incentivam a praticar exercícios para funcionalidade, força e saúde mental, é mais provável que cultivemos um relacionamento saudável com nossos corpos.
Faça questão de seguir contas que se dediquem a encontrar alegria e confiança no movimento em si, mas desconfie de influenciadores que compartilham fotos "antes e depois", destacando a perda de gordura ou imagens como "tanquinhos" lustrosos ou pernas sem corpo, que tratam partes do corpo como objetos que precisam ser aperfeiçoados.
Kelly K. Roberts, uma treinadora de corrida e influenciadora fitness corporal positiva que tem quase 70 mil seguidores no Instagram, inicialmente conquistou seguidores postando imagens que mostravam como sua aparência física mudou com a corrida. Mas quando ela descobriu que seus próprios hábitos de rede social estavam fazendo com que ela se fixasse no próprio peso, passou a postar sobre correr pela diversão de correr.
"Sempre que você publica sobre seu corpo, está dando às pessoas a oportunidade de se autocomparar e se auto-objetivar", diz ela. "Você raramente me verá falando sobre meu corpo. Eu apenas existo nele."
Procure credenciais oficiais
É melhor seguir profissionais que tenham treinamento formal na área de seu interesse, indica Cedric Bryant, presidente e diretor de ciências do Conselho Americano de Exercício.
"Você não pode confiar no número de curtidas que uma pessoa tem ou no número de seguidores como um indicador da qualidade de seus conselhos", diz ele.
Em vez disso, procure referências a suas credenciais e experiência, como um mestrado. Desconfie de influenciadores que oferecem conselhos fora de sua especialidade, diz Bryant, principalmente em relação à dieta e nutrição.
"Mesmo que uma pessoa tenha credenciais de condicionamento físico, se ela também não tiver treinamento adequado em nutrição, eu tomaria cuidado", aponta. "Certifique-se de que eles permaneçam em sua área."
Veja diferentes tipos de corpo, idade e habilidades
O condicionamento físico parece diferente para todos, apesar dos antigos equívocos culturais sobre exercícios e forma física. "Ver uma variedade de tipos de corpos envolvidos em atividades físicas é um passo fundamental para nos afastarmos do estereótipo de que o condicionamento físico é apenas para pessoas jovens, magras e totalmente aptas", indica Engeln.
Quanto mais diversidade de corpos, mais podemos expandir nossas ideias sobre o que nós mesmos somos capazes, aponta ela, e "nos sentirmos mais à vontade tentando coisas novas".
Tradução por Luiz Roberto M. Gonçalves
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